Estados brasileiros levarão pelo menos cinco anos para equilibrar contas públicas
Mesmo
 que os estados brasileiros sejam submetidos a um regime de teto de 
gastos públicos semelhante ao que foi aprovado para a União, eles terão 
de conviver com uma crise fiscal por pelo menos mais cinco anos, tempo 
necessário para que as medidas revertam gradualmente o desequilíbrio e 
os governos voltem a fazer superávit primário (a economia para pagar os 
juros da dívida) em níveis sustentáveis. Essa é a conclusão de estudo 
realizado pelo economista Pedro Schneider, do Banco Itaú.
Para os 
casos mais críticos, como o do Rio de Janeiro, para se chegar a esse 
resultado são necessárias medidas adicionais, que amenizem os problemas 
de caixa a curto prazo. Do contrário, mesmo sob o efeito do teto de 
gastos, nas contas do banco a dívida consolidada do estado subiria de 
200% da receita em 2016 para 230% em 2018. Ou de 15% do PIB estadual 
para 18%.
— Mantida essa perspectiva, o Estado do Rio continuaria 
convivendo com atrasos no pagamentos de salários, aposentadorias e a 
fornecedores, que trazem efeitos negativos para a recuperação da 
economia — avalia Schneider.
CÂMARA TENTARÁ VOTAR SOCORRO
Como
 medida adicional a ser implementada, o economista cita o Regime de 
Recuperação Fiscal aprovado na quarta-feira pelo Senado, que prevê a 
suspensão por três anos dos encargos da dívida pelos estados em 
dificuldades financeiras em troca de algumas contrapartidas, como 
elevação da contribuição previdenciária dos servidores e redução de 
incentivos tributários, transferência de ativos para privatizações, 
entre outras.
A Câmara decidiu marcar sessões para segunda-feira e
 terça-feira para tentar votar o projeto de ajuda financeira aos 
estados, já que o recesso fora antecipado para ontem após a aprovação do
 Orçamento pelo Congresso. O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia
 (DEM-RJ), recebeu apelo de parlamentares de estados endividados, em 
especial o Rio de Janeiro. Maia admitiu ontem que será difícil conseguir
 atingir consenso até segunda-feira sobre a proposta e um quórum 
suficientes em plenário para realizar a votação. Na quinta-feira, a 
Câmara tentou, mas não conseguiu votar a renegociação das dívidas dos 
estados justamente pela falta de acordo.
Como os estados não foram
 incluídos na emenda constitucional, já aprovada pelo Congresso, que 
fixou um teto de gastos para a União, uma solução, segundo Schneider, do
 Itaú, seria incluir a medida como contrapartida no projeto de 
renegociação de dívidas dos estados.
— Como o teto é um ajuste 
forte, mas gradual, leva tempo para fazer efeito e o endividamento 
continua crescendo. Quando você sai de um déficit elevado, como é o caso
 do Rio, até ele zerar, estabilizar e voltar a níveis sustentáveis, ele 
continua subindo. O ponto de partida do endividamento do Rio já é 
desconfortável, então você precisa acelerar esse efeito do teto de 
gastos com as contrapartidas exigidas pelo regime de recuperação fiscal —
 diz Schneider.
Economistas também defendem que o estabelecimento 
de um teto de gastos só surtiria efeito combinado com reformas da 
previdência dos estados. Sem a reforma, aponta o Itaú, a despesa com 
pessoal, que em 2016 equivale a 60% do total do gasto primário dos 
estados, corresponderia a 70% dos gastos em 2022 e a 80% em 2025.
—
 Um teto é algo muito bom. Cria uma regra fiscal que limita o 
crescimento do gasto público. É bom para ambiente de negócios, para a 
recuperação da economia, porque sinaliza que algo está sendo feito para 
contornar a crise. Mas não é solução sozinho, porque, se deixar as 
despesas que compõem o gasto total soltas, esse teto não vai funcionar 
para nada. A lógica é a mesma do governo federal, é preciso partir de 
uma reforma previdenciária pesada e dura, porque a despesa maior é com 
previdência e folha de pagamento — diz Margarida Gutierrez, economista 
da UFRJ.
No caso do Rio, Margarida diz que os atrasos de 
pagamentos a servidores, aposentados e fornecedores agravam a relação 
com os agentes econômicos. Segundo a economista, o governo estadual não 
tem demonstrado comprometimento em resolver este que, ao seu ver, é o 
problema mais grave:
— Esses atrasos deveriam ser evitados porque 
paralisam. É dinheiro que deixa de ser injetado na economia e as pessoas
 perdem confiança em fazer negócios com o estado. Imagina um fornecedor 
de merenda escolar. Ao fornecer para o Rio ele já põe na conta que vai 
ter pagamento atrasado, então sobe o preço.
Para o especialista em contas públicas Raul Velloso, a situação dos estados põe em risco o futuro dos investimentos:
—
 Serão anos de investimento zero. As comunidades também correm risco de 
ficar sem os serviços públicos. Não lembro de outro período da história 
em que os estados tenham amargado crise como essa.
Segundo 
Schneider, sem o teto de gastos para os estados, o endividamento deles 
continuará subindo, o que no futuro poderá exigir um socorro mais 
significativo da União e um aumento da dívida pública como um todo.
O Globo
 

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