sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Explicações de Celia Castedo sobre tragédia

Boliviana refugiada diz: ‘me ordenaram alterar informe do plano de voo’

aviao-da-lamia-personalizado-com-simbolo-da-chapecoense-1480404081491_615x300A boliviana Celia Castedo Monatserio, que está refugiada no Brasil desde a noite de segunda-feira, fez uma carta para explicar a sua fuga para o país. Ela alegou ter sofrido pressão de seus superiores na AASANA (Administração de Aeroportos e Serviços Auxiliares à Navegação Aérea) para alterar o informe que fez alertando sobre cinco irregularidades no plano de voo, apresentado pela Lamia para a realização do voo 2933 que acabou vitimando 71 pessoas entre membros da equipe da Chapecoense, tripulação e jornalistas.
Por causa desta e outras pressões e ameaças que vinha sofrendo, ela optou por deixar o seu país natal e esteve em Corumbá (MS), solicitando refúgio ao Brasil. O jornal boliviano El Deber publicou o documento com o desabafo da técnica aeronáutica.
“Devo denunciar publicamente que imediatamente após o conhecido acidente sofrido pela aeronave CP-2933 da linha aérea Lamia, ocorrido nas proximidades do aeroporto de Río Negro (Medellín-Colômbia) e datado de 28/11/2016, fui submetida à perseguição e pressões por parte de meus superiores, ordenando que modificasse o conteúdo do informe que horas antes minha pessoa havia apresentado por via interna, no qual se detalhava as cinco observações que realizei sobre o plano de voo da linha Lamia (LMI2933) do dia 28/11/2016”, escreveu a técnica aeronáutica da AASANA, que foi suspensa do trabalho em 30 de novembro.
Celia também reconhece que pertence a ela a assinatura contida no plano de voo, mas que isso não significava uma autorização, uma vez que não tinha autoridade para tanto. Tratava-se apenas de um protocolo formal de recepção do documento.
“Devo esclarecer também que o carimbo e a minha assinatura estampadas no citado plano de voo representam um protocolo de recepção do documento e por tanto, sob nenhuma circunstância significa aprovação ou autorização a uma aeronave para a realização de um voo. No âmbito legal, fica estabelecido ante a opinião pública que é a DGAC (Direção Geral da Aeronáutica Civil da Bolívia) a única instituição responsável por autorizar e permitir saídas de voos não regulares internacionais. Esta é a única instituição por lei que fiscaliza, autoriza e cria normas que regem a aviação em território boliviano”, afirmou.
A boliviana também deu mais detalhes de todo o caso e reafirmou que o despachante Álex Qusipe, morto também na queda do avião, foi o responsável por manter as informações do plano de voo mesmo após serem apontadas diversas irregularidades.
“A decisão final de manter a informação no citado plano me foi comunicada pelo Sr. Quispe 20 minutos antes da partida da aeronave CP 2933 com destino a Río Negro, indicando que correspondia a uma decisão tomada tomada pelo capitão da aeronave (citação textual: “Diz meu capitão que é isso”), com o que ficou demonstrada a intransigência da linha aérea para atender as observações feitas pela minha pessoa”, reafirmou.
Celia falou também sobre as pressões sofridas nos dias posteriores a sua suspensão de uma função que desempenhava há quase 30 anos.
“Devo informar a opinião pública nacional e internacional que a partir da minha suspensão da AASANA, datada de 30 de novembro de 2016, fui submetida a uma série de pressões e perseguição. Tanto assim que no dia 2 do presente ano, três dias depois do acidente, fui submetida a uma ‘Audiência de Declaração Informativa dentro do Processo Administrativo No 03L/L6’ sem a presença de um advogado que me assessorasse”.
“Como se o descrito anteriormente fosse pouco, quatro horas depois, no mesmo 2 de dezembro de 2016, me foi comunicado que o Diretor Regional da AASANA Sr Rubén Marcelo Chávez Sierra, apresentou uma ‘queixa-crime’ contra a minha pessoa ante à Procuradoria do Distrito de Santa Cruz. Tudo isso em um só dia”.
“A violação dos meus direitos constitucionais, a presunção de inocência e o direito ao devido processo, me foram cerceados e como mostra disso a clara violação ao que estabelece o Regulamento que normatiza os autuados relativos a ‘Processos Administrativos Internos’ que estabelece um prazo de dez dias para a apresentação de provas de desgravo, prazo este que me foi reduzido a horas”.
A boliviana aponta estes fatos para justificar a sua saída imediata da Bolívia e o pedido de refúgio feito junto à Polícia Federal de Corumbá (MS).
“Pelo que foi exposto, rogo à opinião pública que compreenda as razões que motivaram minha saída apressada da Bolívia, com o único objetivo de buscar ‘Refúgio’ na República Federativa do Brasil, país ao que devo expressar meu profundo agradecimento por haver me acolhido apenas conheceu detalhes da perseguição que minha pessoa vinha sofrendo. Estarei atenta à decisão que tome o CONARE (Comitê Nacional para os Refugiados) relativa a me outorgar ‘Asilo’ no Brasil. É por esta razão que expresso minha decisão de me colocar à disposição das autoridades brasileiras, com o único interesse de coadjuvar nas investigações que permitam chegar ao esclarecimento total dos feitos que provocam tanta dor no mundo inteiro”, escreveu.
Celia também manifestou seu lamento pelo acidente que vitimou 71 pessoas.
“Ao mesmo tempo, desejo expressar meus sentimentos de profunda dor e pesar aos familiares e amigos das vítimas do acidente aéreo do voo LMI2933, rogando humildemente ao criador que os tenha em seu reino”.
Bol

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