Inaugurado por Sérgio Cabral em 2009, hotel cidadão só hospeda ratos
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Primeiro andar do Hotel Cidadão: de hóspedes, só os ratos - Foto: Fábio Guimaraes / Extra |
Com
o braço dolorido após transportar dezenas de caixas de frutas durante
toda a manhã, o carregador Noel Teles de Souza, de 62 anos, sente o
corpo pedir repouso. Do mesmo cansaço partilha o caminhoneiro Marcelo de
Oliveira, de 45 anos. Enquanto procura uma posição confortável dentro
da cabine do caminhão, estacionado na Central de Abastecimento do estado
(Ceasa) de Irajá, olha com lástima para um prédio abandonado a poucos
metros. Naquela construção, deveria funcionar o Hotel Cidadão,
inaugurado pelo então governador Sérgio Cabral, em 2009, para acolher
hóspedes a R$ 1. O estabelecimento atenderia perfeitamente às
necessidades de Noel e Marcelo. Mas nunca abriu as portas.
— Isso aí virou uma cabeça de porco. Só serve para hospedar usuários de drogas e baderneiros — desabafa Noel.
O
forte odor de urina e fezes causa repulsa a quem se atreve a entrar no
edifício. Restos de roupas se misturam a seringas, cacos de vidro e lixo
de todo tipo, espalhados pelo chão do primeiro piso. De dia, há ratos
passeando pelos três andares do prédio, onde deveriam funcionar 226
quartos masculinos e 26 femininos.
No
discurso de inauguração, em 15 de março de 2009, Cabral definiu o Hotel
Cidadão como um local para dar “dignidade para o motorista, para o
trabalhador da Ceasa que queira descansar”. A cerimônia se deu no mesmo
dia em que foi aberto o restaurante popular de Irajá, que deixou de
servir refeições há uma semana por falta de repasses do governo. As duas
construções, juntas, custaram R$ 7,6 milhões aos cofres do Rio.
—
Para os caminhoneiros que vêm de outros estados e municípios abastecer a
Ceasa, esse hotel seria um alívio. A maioria acaba dormindo na cabine
do caminhão. O cansaço é um dos maiores inimigos dos caminhoneiros. Para
os transportadores que vêm de outros estados ou municípios, esse hotel
cairia como uma luva. A maioria dorme dentro da própria cabine, ficando à
mercê de perigo. Eu trabalho aqui há mais de dez anos e confesso que
nem sabia que aquilo ali seria um hotel. Nunca abrigou um único hóspede.
É mais um descaso do governo. E agora, com essa crise, não há esperança
nenhuma de que a coisa melhore — desabafa Marcelo.
Quando
inaugurou, muita gente achou que poderia tirar um cochilo ali de vez em
quando. Mas nunca funcionou. Trabalho aqui desde a década de 1970 e não
conheço ninguém que tenha dormido ali. O lugar virou uma cabeça de
porco. Virou morada de usuários de drogas. Às vezes alguns agentes vêm
tirá-los daí, mas eles voltam à noite, não tem jeito. É uma pena. Muito
dinheiro jogado fora.
O abandono do local acabou trazendo dor de
cabeça aos comerciantes. De acordo a gerência de mercado, a movimentação
de usuário de drogas no espaço é motivo de reclamação por parte dos
lojistas, que temem pela falta de segurança.
Responsável pelo
programa que funcionaria no prédio, a Secretaria estadual de Assistência
Social e Direitos Humanos foi questionada pelo EXTRA, mas respondeu
apenas que o prédio pertence à Ceasa.
Destino incerto
A
Ceasa, por sua vez, confirma que o prédio não chegou a funcionar como
Hotel Cidadão e afirma que “a Ceasa, em nenhum momento, foi responsável
por administrar o imóvel”. Em nota, a central diz ainda que “a equipe de
engenharia da empresa está fazendo levantamento para avaliar
possibilidades de nova utilização do espaço”. Em relação à segurança e
ao fato de usuários de drogas usufruírem do local, a Ceasa informou que
faz rondas diárias para evitar a ocupação irregular do prédio.
G1
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