sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Doria fala a IstoÉ

Em entrevista, João Dória diz que levará chocolates para Lula na cadeia; veja vídeo

Publicado por: Amara Alcântara

A poucos dias de sua posse no Teatro Municipal de São Paulo, o prefeito eleito de São Paulo deu esta entrevista exclusiva a  IstoÉ, e contou que ideia de vestir-se de gari e “pegar na vassoura” às 6 horas para ajudar a varrer a Avenida 9 de Julho é um gesto para demarcar que veio para inovar na gestão e na administração pública. Doria diz saber que será vidraça e que, desde de sua candidatura, assumiu este desafio. Ele falou ainda sobre o momento do País e admitiu que a forma de fazer política depois da operação Lava Jato ficou mais difícil, mas que defendeu a Lava Jato e sua importância. Doria disse não fazer distinção entre os investigados do PT ou de outros partidos, mas reafirmou que levará chocolates em Curitiba ao ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. Ele disse que cumprirá os quatro anos como prefeito e que não se desvinculará do posto em 2018 para concorrer ao governo do Estado. “Fui eleito para prefeitar”, disse.
IstoÉ – Qual será seu primeira canetada como prefeito de São Paulo?
João Doria – As primeiras ações serão de zeladoria urbana: limpeza das ruas, desobstrução de bueiros, corte de gramas, substituição de luminárias, recapeamento, ajardinamento, as manutenções que a cidade infelizmente não teve. Na área social, um amplo programa junto às pessoas em situação de rua, as igrejas e instituições do terceiro setor. Essas serão duas das prioridades. Somadas a isso,  a mudança de velocidade nas marginais Tietê e Pinheiros, com ampla campanha de comunicação e conscientização e de educação que antecede essa mudança de velocidade das marginais. Na sequência, as medidas prioritárias na área da saúde. Essa é nossa prioridade porque a população mais pobre e mais humilde sofre muito com a falta de boa gestão nessa área de saúde pública municipal. Teremos o início do Corujão, em Janeiro, que são os exames. Há mais de meio milhão de pessoas esperando para fazer exames na capital de São Paulo. O secretario Wilson Polara foi orientado para dar prioridade para, no prazo limite de um ano, eliminar completamente as filas nos exames de saúde na rede pública municipal. Para isso nós vamos usar a rede privada de hospitais. Serão conveniados 50 hospitais, que já estão sendo contratados pelo secretário, para que possam realizar os exames das 20h às 8h, com prioridade para mulheres gestantes e pessoas da terceira idade. Na área de Educação, teremos a aceleração do programa de implantação de creches, responsabilidade do secretário Alexandre Schneider, da Educação. Então essas serão as medidas prioritárias.
IstoÉ – Isso tudo já no primeiro dia?
Doria – Não. Isso é para ficar muito claro quais são as bandeiras do primeiro mês, a partir do primeiro dia. Vamos amanhecer trabalhando.
IstoÉ – A posse vai ser no teatro municipal, o que é novo. Por que a posse no Municipal?
Doria – Primeiro, para dar um recado claro para área de Cultura. Nunca houve uma posse no Municipal. Todas elas foram na sede da Prefeitura. Nós vamos apoiar muito a área cultural em São Paulo e o Teatro Municipal é um bem cultural e um bem histórico da cidade. É uma forma de valorizar a cultura de São Paulo, essa dimensão cultural de uma cidade global. A intenção foi essa. E dar ainda uma mensagem muito clara de valorização dos equipamentos municipais e para a cultura municipal também.
IstoÉ – Depois da posse, você já começa a trabalhar?
Doria – A posse vai ser no domingo às 17h. Na segunda-feira, dia 2 de janeiro, a jornada do prefeito começa às seis horas da manhã, na rua. Vamos ajudar a limpeza pública da cidade.
IstoÉ – Já há um roteiro para o dia 2?
Doria – O primeiro roteiro é o eixo da 9 de Julho, que vai da marginal Pinheiros ao Vale do Anhangabaú. De manhã, vou pegar na vassoura. Vou ajudar o pessoal da limpeza a limpar e dar uma demonstração de apreço e sentimento pela cidade, dando um exemplo para as pessoas que é preciso cada um contribuir. Não é só mandar, não é só cobrar, não é só ter expectativa. Se todos ajudarem, a cidade vai ficar melhor. Isso na 9 de Julho, que é o primeiro grande eixo do programa São Paulo Cidade Linda.
IstoÉ –  Isso inclui um programa de prevenções de enchentes no período de chuvas?
Doria – Isso é um outro programa. Já estamos fazendo reuniões nesse sentido. Temos um comitê de combate à enchentes com varias secretarias municipais e várias secretarias estaduais, além da Sabesp e Defesa Civil, com um programa preventivo para as chuvas de verão. Já fizemos duas reuniões e vamos fazer mais duas antes da posse.
IstoÉ – E pessoas envolvidas comentaram que nunca havia tido uma reunião que unisse varias pontas na prevenção das enchentes? Como foi isso.
Doria – Isso me surpreendeu até, porque todo ano nós temos muitas chuvas de verão, com mais ou menos intensidade. Mas sempre tem o sofrimento da população que vive em áreas de riscos e áreas que são tradicionalmente inundadas e bastante prejudicadas pelas chuvas. Imaginei que esses grupos – Estado, Município, empresas –  já tivessem se reunido em outros tempos e outros momentos, com objetivo de ações articuladas. E nunca houve. Quando fizemos a primeira reunião, vários foram fazer o uso da palavra e agradeceram dizendo que era a primeira vez que tinham a oportunidade de, conjuntamente, elaborarmos um programa de combate à enchente na cidade de São Paulo. E não foi um problema da gestão Fernando Haddad. Nunca houve em nenhum momento, no passado. É o que eu digo: isso é gestão. O que São Paulo precisa é boa gestão. É óbvio que recurso é muito importante, mas com boa gestão você já consegue melhorar muito a vida da cidade.
IstoÉ – Todo esse tempo, você se define como um gestor e não como político. Na próxima eleição você se definirá como o que?
Doria – Não estou preocupado com a próxima eleição, estou preocupado com a administração, com a gestão da prefeitura de São Paulo. São quatro anos de desafio e eu não sou candidato a reeleição.  Reafirmo o que eu disse durante toda a campanha.  Não vou disputar reeleição na cidade de São Paulo. Minha preocupação agora é fazer uma boa gestão, rápida e eficiente.
IstoÉ – Mas você se candidataria ao governo do Estado em 2018?
Doria – Meu foco é a cidade de São Paulo. Eu fui eleito para ser prefeito e vou prefeitar.
IstoÉ – Isso de ser uma revelação política e ter essa votação no primeiro turno. No seu íntimo, houve uma surpresa? A que você atribui essa vitória maciça?
Doria –  Nós entramos numa campanha para ganhar. Ninguém entra numa campanha para perder. Ninguém entra numa disputa sabendo que vai perder. Pelo menos no meu caso, eu entro com a decisão, a vontade e a convicção de ganhar. Ganhar no primeiro turno foi um fato acima da expectativa inicial. Nossa expectativa era ganhar a eleição como ganhamos as prévias no PSDB.  Com a aproximação da data da eleição, nosso crescimento vertiginoso. Começamos com 3%, depois 6%,  9%, 15%, 17%, 29%, 32% até chegar em 53% dos votos válidos, numa eleição que marcou pela primeira vez nos 26 anos a vitória de um candidato no primeiro turno. Isso nunca houve em São Paulo, nem no governo do Estado, nem na prefeitura. Foi a primeira vez. Mas isso só se cristalizou a 48 horas do momento da eleição no domingo. Na sexta-feira, havia uma indicação que nós poderíamos ganhar no primeiro turno. Antes disso, tínhamos a convicção de que ganharíamos e que iríamos para o segundo turno com enorme chance de ganhar a eleição. Aumentou o grau de confiança da população e aumentou a nossa responsabilidade. A eleição em São Paulo deflagrou a onda azul no País. E se espalhou pelo País inteiro. Nós conseguimos eleger 40 prefeitos em grandes capitais e metrópoles brasileiras, no interior de São Paulo, na grande São Paulo, em outras capitais brasileiras. Em outras grandes metrópoles de grandes estados. Fiz uma campanha sem atacar ninguém. Não ataquei o prefeito Fernando Haddad, nem as ex-prefeitas Luiza Erundina e Marta Suplicy. Não ataquei o candidato Celso Russomano, nem o Major Olimpio, nem os outros seis candidatos. Fiz uma campanha com propostas e a população respondeu positivamente, entendendo que eleição é para apresentar proposta.  Não é para bater em ninguém, nem descobrindo a vida das pessoas, invadindo os limites da vida pessoal. E sim discutir propostas. Foi isso que eu fiz. A população votou. Nós rompemos e acabou a ideia de cinturão vermelho do PT.  O fato de eu ser um candidato que não é político. Eu venho do setor privado e continuarei sendo. A circunstancia do país. O distanciamento dos políticos da população, ainda que de certa forma injusto, porque você coloca bons e maus políticos dentro do mesmo patamar. Isso prejudica as pessoas que são honestas e boas. Mas também essa onda nos ajudou e impulsionou nossa candidatura.
IstoÉ – Paira o fantasma das delações premiadas e da operação Lava Jato sobre os políticos.  O quanto isso muda a perspectiva de se fazer política no Brasil, seja no executivo, no legislativo, na prefeitura, no Estado?
Doria
– Torna mais difícil, sem dúvida. Mas ao mesmo tempo a operação Lava Jato é necessária para que o país possa ser passado a limpo e que o judiciário possa ter a oportunidade de, primeiro, julgar e depois apenar a quem deva.
IstoÉ – Durante a sua campanha, você disse uma frase polêmica em relação a Lula, dizendo que visitaria Lula na cadeia.
Doria – Não, eu não disse isso. Eu disse que visitaria Lula em Curitiba. Sou uma pessoa educada. Eu levarei chocolates ao Lula em Curitiba. Eu não falei na cadeia, falei em Curitiba, que aliás é uma cidade que eu gosto muito. Adoro os paranaenses. Eu acho que Lula vai passar uma temporada em Curitiba, e eu lavarei chocolates para ele.
IstoÉ – Você faz alguma distinção entre os investigados da Lava Jato que são do PT e os que não são do PT?
Doria – Eu não fiz comentário nenhum, nem mesmo ao próprio Lula. Disse e repito que o visitarei em Curitiba. Não fiz nenhuma menção prisional. Apenas que o visitaria em Curitiba. Voce certamente tem amigas e amigos em Curitiba, que você já pode ter visitado ou gostaria de visitar. E eu farei o mesmo. Como eu sou democrático, eu posso estar visitando amigos e não amigos. E a eles oferecerei sempre a gentileza de levar alguns chocolates. Eu não fiz comentário a nenhuma das prisões. Eu apoio a operação Lava Jato e entendo que deve haver ampla defesa a todos que foram indiciados em qualquer parte do País. E, depois, os que foram apenados e sentenciados, tem que cumprir a pena.
IstoÉ – O governador Geraldo Alckmin, por exemplo, foi citado nas delações.
Doria – Citado não é culpado. Ele até já fez a defesa dele, como muitos outros aliás nessa enorme lista da Odebrecht e que receberam contribuições de campanha.  É o caso do governador Geraldo Alckmin e de dezenas de outros políticos de diferentes partidos que receberam contribuições de campanha pela Odebrecht mas isso não implica em ações de falcatruas. Ou a utilização de recursos desviados com dinheiro publico para financiamento de campanha. Isso sim, é crime. Pode ter contribuído com uma campanha política, de acordo com a legislação anterior e isso não é crime. A legislação previa e permitia que isso ocorresse.
IstoÉ – Qual é sua opinião sobre toda essa discussão recente sobre o caixa dois? A própria questão da anistia ao caixa dois que foi discutida recentemente e rejeitada?
Doria – Vejo que é difícil fazer anistia ao caixa dois. A opinião pública brasileira não aceitaria isso. Por mais racionalidade que possa haver por parte dos políticos que defendem esta tese, isso é inaceitável na circunstância atual do País. O País clama por direito, clama pela penalização dos que corromperam a vida pública utilizando mecanismos não republicanos para financiar campanha. E muitos não financiaram apenas a campanha. Financiaram sua vida pessoal, conforto pessoal. Essas pessoas tem que ser realmente apenadas e tem que pagar por aquilo que fizeram. Não faz sentido isso. Seria um tapa na cara da opinião pública brasileira. Não vejo campo e atmosfera para isso.
IstoÉ – Teme ser vidraça?
Doria – Vidraça eu já sou. Desde a campanha,  agora eleito, e certamente depois da posse também.  Isso faz parte do jogo. Não é nem questão de temer. Eu serei. Não tenho a expectativa. É fato.  Você está no palco, na ribalta, com luzes 24 horas em cima de você. Em qualquer circunstância você será muito bem observado. É um enfrentamento que eu aceitei. Na medida que você vai disputar uma eleição, você já sabe que a sua vida vai ser revirada por completo. Passado. Tempo remoto. Ancestrais. Chegaram a levantar na campanha. Um ancestral meu de 1856 na Bahia. Chegaram até lá. Um fazendeiro na Bahia. Não, não, 1656. Veja só. Faz parte da política. Agora, quem não deve não teme e nem treme.
IstoÉ – Seu estilo como prefeito, você é um homem metódico, muito organizado, já determinou a história de ninguém usar gravata no secretariado. Por que isso?
Doria – Não vejo razão de uma cidade tropical, quente e úmida como São Paulo, você obrigar as pessoas a usarem gravata. Não tem necessidade. As pessoas podem estar bem compostas, usando um terno sem gravata. Isso dá mais conforto e mais funcionalidade. As pessoas vão se sentir melhor. Seja um secretario, seja um funcionário público. Compostura sempre. Evidente que você não vai admitir que ninguém vá de bermuda e sandálias Havaianas, por mais confortável que seja, mas as pessoas podem estar bem compostas com mais liberdade de movimento.  Sou metódico, sim. Vou cobrar muito.
IstoÉ – Controlador também?
Doria – Controlador de qualidade. Nós vamos descentralizar o trabalho. Mas o controle de qualidade da gestão pública, isso será feito.  Quem chegou para trabalhar e foi convidado para ocupar os cargos de secretários, secretários adjuntos, chefes de gabinete, presidentes das empresas e autarquias, já sabem que vão ter um prefeito muito atento que vai cobrar eficiência e qualidade no trabalho. É um outro patamar. O patamar da gestão privada aplicado à gestão pública.
IstoÉ – Como avalia o perfil do seu secretariado?
Doria – Muito bom. Eu montei a equipe que eu queria. É um time bastante bom, bastante comprometido com eficiência, transparência e inovação. São Paulo montou um ministério no seu secretariado. Temos orgulho de ter um time de primeiríssima linha.
IstoÉ – Você imagina que a gestão será mais horizontal, mais de acordo com os novos tempos, ou ainda terá a verticalidade das hierarquias?
Doria
– Vai ser mais horizontal, moderna, eficiente e inovadora. Não há hipótese de ter outro caminho. Se você quiser fazer uma gestão de boa memória em São Paulo, seja eficiente, seja rápido, seja transformador. Coloque tecnologia e inovação e respeito pelas pessoas. Não há outro caminho e é isso que nós vamos percorrer.
IstoÉ – Como imagina que será São Paulo daqui a 4 anos? Com menos trânsito, menos multas…?
Doria – Melhor. São Paulo vai ser uma cidade muito melhor. As pessoas terão orgulho de dizer: eu vivo numa cidade global. Eu vivo numa cidade melhor do que vivia há quatro anos.

Fonte: Istoé 

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