Vice-prefeito rompe em Marizópolis e acaba com “governo único” de 22 anos
A
série de reportagens apresentando fenômenos eleitorais nas eleições
municipais deste ano na região Nordeste realizada pelo blog do Magno
Martins, de Pernambuco, em parceria com o Portal MaisPB, mostra,
nesta quinta-feira (01), Zé de Pedrinho (PSDB), que rompeu e venceu o
grupo de José Vieira (PTB), que comandava a cidade de Marizópolis há
mais de 20 anos.
Veja vídeo:
Vice rompe e acaba “Governo único”
MARIZOPÓLIS (PB) – Com
apenas 6,2 mil habitantes e 5.106 eleitores, Marizópolis é um dos
municípios mais novos da Paraíba, mas também o mais minúsculo
territorialmente e mais complicado na vida política. Tem apenas 22 anos,
tendo sido emancipado de Sousa em 5 de maio de 1994. Mas desde a sua
fundação é governado pelo coronel José Vieira (PTB), uma espécie de
tirano. Ao longo do seu reinado, revezou o poder com uma sobrinha, mas
envolvido em processos de licitações fraudulentas, foi afastado pela
justiça.
Após assumir, o vice Zé de Pedrinho (PSDB), que já havia
rompido antes, pôs fim a uma verdadeira dinastia ou governo único,
batendo Miguel Neto (PP), sobrinho de Vieira, por uma frente de 467
votos. Teve 2.584 votos (54,97%) contra 2.117 votos (45,03%) do
adversário. O tucano elegeu ainda os dois vereadores mais votados, mas
não fez a maioria na Câmara para governar: Vieira emplacou cinco dos
nove parlamentares.
O segundo mais votado para a Câmara, Carlos
Soldado (PMDB), com 417 votos, é um aliado de peso. Foi ele que teve a
iniciativa de informar à produção do programa Fantástico que
praticamente todas as obras do reinado de Vieira eram produto de
licitações viciadas e inacabadas. A cidade é, hoje, campeã em obras que
tendem a virar verdadeiros elefantes brancos, porque os recursos
destinados e alocados foram desviados.
Marizópolis tem apenas 64
mil km quadrados – em cinco minutos é possível conhecer a cidade, rua
por rua – e um turbilhão de problemas. Há dois anos, o repórter secreto
do programa Fantástico esteve lá e descobriu uma montanha de dinheiro
desviado. O município fez parte do roteiro da reportagem que passou por
mais de dez cidades paraibanas, descobrindo bilhões de recursos
desviados por uma quadrilha.
A denúncia foi investigada e
comprovada pelo Ministério Público. José Vieira acabou preso, condenado
por crime de responsabilidade na aplicação de recursos públicos federais
em obras sanitárias no município. A condenação foi da Justiça Federal
de 1ª instância, em Sousa. Ele ainda tentou recorrer da decisão da
condenação, mas o pleno do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, com
sede em Recife, foi por unânime e determinou à prisão e também o
afastamento imediato da função de prefeito.
O prefeito passou um
período preso, mas conseguiu no Supremo Tribunal Federal uma liminar e
foi solto. A Justiça ainda decretou a suspensão dos seus direitos
políticos por oito anos, perda da função pública e proibição de
contratar com o poder público ou receber benefícios ou incentivos
fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo
de dez anos.
Aliado de Vieira por muito tempo, o prefeito eleito
diz que sua vitória vira uma página em Marizópolis. “Acabou o reinado da
impunidade, da imoralidade dos maus feitos”, bradou Zé de Pedrinho,
tratado pelo coronel como traidor. “Não me considero traidor porque eu
expliquei a ele todas as razões do meu rompimento”, rebate. Eleito no
exercício do mandato, o tucano está com a diplomação marcada para o
próximo dia 13, mas ainda teme que a justiça devolva o poder ao clã que
derrotou.
“A justiça ainda não concluiu o processo. Só terei mesmo
a garantia de essa gente não volta ao poder a partir de 1 de janeiro
com a minha posse”, diz ele. Zé de Pedrinho diz que fez uma campanha
barata enfrentando o poderio do rei da cidade, como assim Vieira é
lembrado e tratado pela população. Além de enfrentar o poderio
econômico, ninguém no município acreditava na sua eleição justamente
porque o coronel é especialista em não perder eleição na base na
política fisiológica e de cooptação.
“Poucos apostaram na nossa
vitória. Fiz uma campanha com os pés no chão, visitando casa por casa”,
diz Zé de Pedrinho, para acrescentar: “A descrença da população se
justificava pelo fato de Vieira ser um imperador, que reinava desde a
criação da cidade. O que se diz por aí é que ele gastou uma fortuna para
manter-se no poder na campanha do sobrinho que derrotei”.

O
vereador Carlos Soldado passou a ser perseguido por Vieira tão logo a
equipe do programa Fantástico exibiu para o País inteiro as falcatruas
na gestão municipal. Na véspera da eleição, foi parar na cadeia acusado
de porte ilegal de arma, mas ele não teme a truculência do grupo
adversário. “Nunca temi e por isso recebi a consagração nas urnas, sendo
o segundo mais votado”, afirmou, adiantando que a população espera do
prefeito eleito um freio de arrumação. “Marizopólis cansou. Basta de
corrupção e impunidade”, afirmou.
MARIZÓPOLIS (PB) – José
Vieira da Silva, ou coronel Vieira, como é conhecido, foi eleito
prefeito pela primeira vez em 1996, dois anos após a emancipação do
município. Filiado ao PR, teve 73% dos votos derrotando o tucano
Dionizio Gomes, que recebeu apenas 979 votos, 26,91% dos votos válidos.
Em 2000, foi reeleito, já em outro partido, o PMDB, obtendo 66% dos
votos válidos, impondo derrota ao democrata José Leite de Andrade.

Em
2004, na terceira eleição do município, não podendo ser mais candidato
por força do impedimento das regras eleitorais, tirou uma candidata do
bolso do seu colete e elegeu a sobrinha Alecxiana Vieira Braga, filiada
ao PTN. Ela teve 63% dos votos e derrotou o candidato do PRP, Valdemir
Gonçalves.
Na eleição seguinte, em 2008, Vieira não permitiu que a
sobrinha disputasse a eleição e ele próprio foi o candidato,
elegendo-se, desta feita filiado ao PTN, com 74% dos votos, derrotando
Bivânia Araújo, do PSB. Em 2012, disputou a reeleição e ganhou
novamente, derrotando outro socialista, Abdon Lopes, o Zé de Pedrinha,
com 64% dos votos válidos.
Num enredo em que derrota era uma
palavra que não constava em sua trajetória política, Vieira tropeçou na
escolha de Abdon como vice. A criatura se rebelou contra o criador,
rompeu no episódio da sua primeira prisão, registrou sua candidatura já
filiado ao PSDB e acabou vitorioso.
“Para felicidade geral da
Nação de Marizopólis”, comemora Francisco Quita, pequeno comerciante de
estivas na cidade, que votou contra o coronel e pela mudança, cansado,
segundo ele, de ver o município nas páginas policiais envolvido em
escândalos. Ele se refere a chamada Operação Andaime.
Trata-se da
investigação de uma quadrilha suspeita de fraudes em licitações de obras
públicas federal, no Sertão paraibano. Os processos envolvendo a
operação somam 79 investigações, com 67 réus e 421 delitos em apuração.
Entre os 67 réus estão gestores e ex-gestores municipais, a exemplo de
José Vieira, de Marizopólis, e os ex-prefeitos de Cajazeiras, Carlos
Rafael Medeiros de Souza; de Monte Horebe, Erivan Dias Guarita; e de
Bernardino Batista, José Edomarques Gomes; da prefeita de Monte Horebe,
Claudia Aparecida Dias, e o marido dela; além de servidores públicos;
empresários, como Mário Messias Filho, Afrânio Gondin Júnior, Manoel
Cirilo Sobrinho e Enólla Kay Cirilo Dantas, além de engenheiros de
obras, como Wendell Alves Dantas, Márcio Braga de Oliveira e Jorge Luiz
Lopes dos Santos.

De
acordo com o processo, os colaboradores de investigação na operação
estão sendo Francisco Justino do Nascimento, considerado “o
operacionalizador supra municipal do esquema”, responsável por “vender
os serviços ilícitos de suas empresas ‘fantasmas’ aos núcleos
municipais”, fez acordo de colaboração premiada e está em liberdade
condicional. Além de Justino, já foram celebrados outros sete acordos de
colaboração premiada, totalizando oito, todos homologados pelas
Justiças federal e estadual.
HISTÓRIA
Os
primeiros conquistadores do município foram os irmãos Ledo, no ano de
1723. Logo após, houve o incentivo à lavoura, à criação e ao povoamento.
Tudo isso se deu à fertilidade do solo, que passou a despertar
interesse de pessoas de lugares mais remotos da região. Isso se deu no
ano de 1730. Fundada pela família do Governador Antonio Mariz, teve o
seu nome, antes Pedra Talhada, alterado para Marizópolis, como forma de
homenagear a família Mariz. É também conhecida como a Mesopotâmia do
Sertão por ser situada entre os Rios do Peixe e Piranhas.
MaisPB
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