Prefeita é eleita com 17 dias de campanha e credita vitória ao legado do pai
A
série de reportagens apresentando fenômenos eleitorais nas eleições
municipais deste ano na região Nordeste realizada pelo blog do Magno
Martins, de Pernambuco, em parceria com o Portal MaisPB, mostra, nesta quinta-feira (17), Adriana Assunção (PSB) eleita prefeita de Frei Miguelinho com apenas 17 dias de campanha.
FREI MIGUELINHO – Localizado
no Agreste Setentrional, a 114 km do Recife, com apenas 15 mil
habitantes, Frei Miguelinho escreveu uma página diferenciada nas
eleições deste ano, com um recorde nacional e a quebra de um tabu local.
Num pleito em que as regras eleitorais a campanha foi reduzida para 45
dias, a prefeita eleita Adriana Assunção (PSB) esteve nas ruas por
apenas 17 dias, algo inédito no País. No plano local, quebrou, por sua
vez, um velho tabu do machismo enraizado na cultura da política
nordestina: a primeira mulher a tomar posse como prefeita do município.
Casada
aos 16 anos, mãe de três filhos, hoje com 52 anos, Adriana teve uma
única experiência na vida pública: conselheira tutelar por sete anos na
sua terra. Mas ela carrega no sangue da política o DNA da família
Assunção. É filha de Gaudêncio Assunção, já falecido, três vezes
prefeito, que virou um mito, considerado o “pai dos pobres”. Nunca
sonhou em um dia governar o município, porque o herdeiro político e
sucessor do pai é o irmão Gilmar Assunção, eleito duas vezes prefeito.
Veja o vídeo:
Sua
entrada em cena faltando poucos dias para o pleito está relacionada
diretamente ao irmão. Até o dia 12 de setembro, prazo final permitido
para substituição de um candidato majoritário, quem estava em campanha e
na boca do povo era Gilmar, mas sua candidatura foi impugnada pelo juiz
eleitoral. Certo de que seria eleito, o socialista ainda consultou
advogados para recorrer, mas temeu disputar na condição de subjudice.
“Foi
aí que meu nome surgiu”, lembra Adriana, chamada às pressas pelo irmão,
no mesmo dia 12, para registrar sua candidatura. Os adversários, sob a
batuta do prefeito Lula da Capivara (PSD), visto como um coronel que
recorre à chibata para domar seus áulicos, fizeram uma queima de fogos
na cidade comemorando a desistência de Gilmar. Aquela altura, faltando
apenas pouco mais de 20 dias para o povo ir às urnas, Capivara já fizera
seu prognóstico de que a eleição estava no papo, porque o adversário
não tinha substituo com tamanha envergadura. Estava enganado.
Gilmar,
o temido, que liderava todas as pesquisas, chegou a ser zombado nas
ruas por ter jogado a toalha. Conhecido na cidade como “Gigi”, ganhou
uma paródia transformada em jingle de campanha pelo candidato de
Capivara, o atual vice-prefeito Romildo Lima (PSD). “Ô Gigi/Que danado
que tu tens/Todo mundo é candidato/Por que tu não foi também”. Este
refrão ganhou às ruas da cidade em tom de deboche.
Capivara, o
mandatário da antiga Olho D água de Onça, hoje Frei Miguelinho, que
começou em terras de antigas sesmarias concedidas no século XVII, não
imaginava que uma Assunção de saia era mais difícil de derrotar do que
um que usa calça. Comunicativa, jeitosa e carismática, Adriana teve
apenas pouco mais de duas semanas para cair na graça do eleitorado.
“Agora é ela”, gritava o povo nas ruas, vestido de verde, a cor adotada
pelo irmão e que simbolizou a marca da oposição.
Mesmo tendo o
legado do velho Gaudêncio como bandeira e a força do irmão, considerado
pela população como um dos melhores prefeitos dos últimos 20 anos,
Adriana recorreu à velha estratégia da campanha da candidata lisa contra
o barão, ou seja, do tostão contra o milhão. Fez apenas dois comícios,
três arrastões e usou os 17 dias que lhe restaram para conquistar o
eleitorado fazendo o chamado porta a porta, o contato direto com o
eleitor.
Abertas as urnas, Adriana bateu o candidato do prefeito
por uma frente de 206 votos. Teve 4.897 (45,83%) contra 4.691 votos
(43,90%) de Romildo, seu principal adversário, porque ainda estava na
disputa Marcos Aguiar, do DEM, como candidato da terceira via, que
alcançou 1.097 votos (10,27%). Nas 42 seções eleitorais do município
foram registrados mais 141 votos em branco e 306 nulos.

“Minha
vitória foi uma homenagem ao meu pai e ao reconhecimento das gestões do
meu irmão”, avalia a prefeita eleita. Ela, entretanto, tem seus
méritos. “Adriana é uma mulher corajosa, gosta de enfrentar desafios e
herdou do pai a vocação de servir, estar junto dos mais pobres e
necessitados”, diz o marido Rogério Barbosa, que não teve o privilégio
de ser o primeiro a ser informado da candidatura da mulher.
Quando
ele chegou a sua casa, a conselheira tutelar havia se transformado em
candidata oficial à prefeita. “Foi tudo muito rápido, não tive nem tempo
de ligar para Rogério. Gilmar me acionou do cartório me pedindo para
trazer todos os meus documentos porque eu iria disputar no lugar dele”,
conta Adriana.
Dona Júlia, 74 anos, viúva do varão Gaudêncio,
conta que a vocação para o sacerdócio da política por parte da filha é
herança legitima do pai. “Já veio do berço. Ela animava os comícios e
todos os eventos de campanha do pai”, relata. Rogério, por sua vez,
afirma que se apaixonou por Adriana depois de conhecê-la num comício.
“Ela estava no palanque com o pai quando meus olhos foram em sua
direção. Foi amor à primeira vista”, revela o maridão.
Adriana,
Rogério e os três filhos moram no distrito de Lagoa de João Carlos, o
maior do município, quase do tamanho da sede, distante 10 km. Foi lá
onde nasceu e o pai reinou até a morte, em 2013. Com uma população em
torno de 4,5 mil habitantes, abandonada pelo prefeito, que sequer acabou
as obras da reforma do único posto de saúde, a localidade foi palco de
uma acachapante vitória da socialista.

Ali,
bateu o adversário por 667 votos de frente. “Minha vitória é fruto
também do desgoverno que Frei Miguelinho vive”, diz Adriana, apontando
para duas obras abandonadas no distrito – o posto e uma praça. “Aqui, o
prefeito é um fantasma”, reforça o vereador Moisés Ferreira (PSB), o
único a escapar nas urnas dos atuais nove vereadores. “Eu já previa que
a renovação na Câmara seria alta”, acrescenta. Moisés, ao contrário dos
seus colegas, que viram seus votos virarem cinzas, aumentou sua votação.
MaisPB
Nenhum comentário:
Postar um comentário