Vereadora reeleita em coma em UTI de hospital morre no início desta sexta-feira
A
vereadora Maria do Socorro Soares da Silva (PP), 62 anos, faleceu no
início da manhã desta sexta-feira (25) em sua residência na Povoação de
Olho D’Água Cercado, zona rural oeste do município de João Alfredo (PE).
Socorro foi reeleita para o terceiro mandato na disputa de outubro
passado, obtendo 1620 votos, com o detalhe de que estava em coma na UTI
de um hospital em Recife no dia do pleito, tratando de grave enfermidade
que a levou a óbito.
Socorro foi destaque da série fenômenos
eleitorais nas eleições municipais deste ano na região Nordeste
realizada pelo blog do Magno Martins, de Pernambuco, em parceria com o Portal MaisPB.
Ao saber da morte, o jornalista Magno Martins lamentou o ocorrido. Confira a matéria abaixo:
Personagem do livro que ficará só na saudade
Acordei,
hoje, com a notícia da morte da vereadora Socorro Soares (PP), a brava
representante dos sem voz, descamisados e sem-nada na Câmara de João
Alfredo. Negra, remanescente de uma comunidade quilombola e miserável,
Olho D água Cercado, onde estive há 20 dias, ela foi destacada na série
“Fenômenos eleitorais”, que venho postando no blog, por ter sido a
segunda mais votada do município, com 1.062 votos, mesmo estando no dia
do pleito em coma numa UTI do Recife.
Socorro passou mal três dias
antes da eleição e foi levada às pressas para o Recife com uma forte
dor de cabeça, diagnosticado como edema cerebral. Há três anos, havia
retirado uma mama cancerosa e a suspeita médica era de que a enfermidade
havia se alastrado para o cérebro. Ficou 19 dias internada, cega, sem
ver a luz do dia, não votou nela própria e quando soube que havia sido a
segunda mais votada, diante de tais circunstâncias, comemorou com uma
gargalhada.
Sim, uma sonora risada. Socorro era espiritualizada,
tinha uma fé inabalável. Mesmo com a suspeita de que era portadora de
uma enfermidade grave, não perdeu a esperança de continuar com a sua
missão na terra em nenhum momento. No final daquela terça-feira 8 de
novembro, em que me despedi dela na varanda de sua casa num cenário
inesquecível pelo por de sol encantador que se abria ao fundo, fiquei
com a sensação de despedida.
Até porque a sua filha Jaíra Soares,
que a transportou para o hospital no Recife, estava com os pés no chão,
desconfiada, pelo estado da mãe, que já havia passado por radioterapia
no Recife, que os exames iriam confirmar um câncer cerebral. Foi uma
despedida com direito a um bolo com refrigerante, café para distrair a
conversa e fotos. O clique da imagem passa à história como o clique da
saudade.
Só resta agora a saudade, saudade de uma guerreira, de
uma mulher que superou todos os preconceitos num País em que ser negro e
pobre é um fadário. A saudade, quando é demais, não cabe no peito,
escorre pelos olhos. Já disse um poeta que a saudade é a luz viva que
ilumina a estrada do passado. Carlos Drummond de Andrade, o maior
de todos os poetas, disse que sentimos saudade de certos momentos de
nossa vida e de pessoas que passaram por ela. Dona Socorro passou pela
minha vida e vai ficar eternizada em livro. Saudade é uma coisa que não
tem medida.
O povo que fez de Socorro Soares a segunda vereadora
mais votada de João Alfredo, mesmo sabendo que estava em coma numa UTI,
ficará com um vazio que só se preencherá pelas lembranças das coisas
boas que ela fez. E foram muitas: salvou vidas transportando doentes
para hospitais, matou a sede de muita gente com carros pipas, acolheu
necessitados em sua casa e no seu gabinete. Era a mãe dos pobres! Sua
voz ecoou na Câmara no combate as injustiças e aos maus feitos.
A
esta altura, sua alegria radiante já está contagiando o Céu. As pessoas
que conviveram com ela podem até esquecer o que pregava, o seu legado e a
marca da sua vida pública, mas nunca se esquecerão de como ela as
tratou. Porque ela viveu para servir e semear o amor. Quem semeia o
amor, sempre deixa saudade.
MaisPB

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