‘Profecia’ de filósofo americano em 1998 explica vitória de Donald Trump nos EUA
Os
eleitores que vivem longe dos bairros ricos vão concluir que o sistema
fracassou e começarão a buscar um homem forte para eleger.”
“Todo
o ressentimento que os americanos com pouca educação sentem em relação
aos formados em universidades, que ditam as regras de como todos devem
se comportar, vai encontrar uma válvula de escape. Algo vai se romper.”
Pode
até parecer, mas as frases acima não foram escritas em 2016, durante a
última campanha para as eleições presidenciais nos Estados Unidos.
Elas
fazem parte de um texto escrito em 1998, parte do livro Achieving our
Country (“Conquistando nosso País”, em tradução livre), do americano
Richard Rorty.
Filósofo
de esquerda, ele morreu em 2007. De acordo com o jornal britânico “The
Guardian”, neste livro ele descreve como a desestruturação da coalizão
de esquerda dos EUA levou o movimento ao colapso.
Antes
e depois da eleição do dia 8 de novembro, trechos do livro circularam
nas redes sociais. Para alguns, Rorty escreveu profecias sobre a
situação dos Estados Unidos em 2016.
A
revista The New Yorker lembra que Rorty também afirma na obra que “a
classe trabalhadora não urbana não vai tolerar sua marginalização por
muito tempo”.
Rorty
afirmava ainda em 1998 que os eleitores mais pobres iriam “concluir que
o sistema fracassou e vão começar a procurar um homem forte para
eleger”
Neopragmatismo
Richard Rorty nasceu em 1931, em Nova York, e foi um filósofo influente no fim do século 20 e começo do século 21.
Ele misturou a filosofia e a literatura comparada em uma nova perspectiva chamada de “o novo pragmatismo”, ou “neopragmatismo”.
Nas
redes sociais e em vários meios de comunicação, os comentários são de
que Rorty previu a chegada ao poder de um político como Donald Trump nos
Estados Unidos.
O
jornal “The New York Times” lembra que, três dias depois da eleição
presidencial, um professor de direito tuitou uma foto com três
parágrafos levemente resumidos do livro do filósofo.
Eis alguns trechos dos parágrafos divulgados pelo professor:
“Membros
de sindicatos e trabalhadores não qualificados e não organizados cedo
ou tarde vão perceber que o governo não está sequer tentando evitar a
diminuição dos salários ou que os empregos acabem indo para outros
países.
Ao
mesmo tempo, eles vão perceber que os trabalhadores que moram nos
bairros mais ricos – eles também com muito medo de serem demitidos – não
vão deixar (o governo) cobrar impostos para fornecer benefícios sociais
para outras pessoas.”
“Neste
momento, algo vai se romper. O eleitores que vivem longe dos bairros
ricos vão concluir que o sistema fracassou e começarão a buscar um homem
forte para eleger.”
(…)
“Algo
que muito provavelmente vai acontecer é que todas as conquistas dos
últimos 40 anos conseguidas por americanos negros e minorias raciais, e
pelos homossexuais, serão aniquilados. O desprezo jocoso pelas mulheres
vai voltar à moda…”
A imagem com os parágrafos da obra do filósofo foi retuitada milhares de vezes. E o livro voltou à lista dos mais vendidos.
Segundo
o “The New York Times”, as cópias de Achieving our Country se esgotaram
no site da Amazon, e a editora Harvard University Press está editando a
obra novamente pela primeira vez desde 2010.
O jornal britânico “The Guardian” lembrou que Rorty não foi o primeiro a prever mudanças radicais na política
Crítica dividida
O jornal conta que, quando o livro de Rorty foi lançado, no fim da década de 1990, os críticos ficaram divididos.
Um
exemplo foi Christopher Lehmann-Haupt, crítico do próprio “The New York
Times” que, na época, chamou a obra de “filosoficamente rigorosa”, mas
não gostou dos alertas de Rorty sobre a vulnerabilidade dos Estados
Unidos ao charme de “um homem forte”.
Ele chamou a “profecia” do filósofo de “uma forma de bullying intelectual”.
O
jornal americano também lembra que, em 1997, quando Rorty deu as três
palestras que formariam a base para o livro Achieving our Country, o
filósofo insistiu que poucos de seus colegas estavam falando sobre a
redução da pobreza.
“Ninguém
está iniciando um programa de estudos sobre desempregados, sem-teto ou
moradores de trailers porque os desempregados, os sem-teto e os
moradores de trailers não são (considerados) ‘outros’ no sentido mais
relevante.”
Na época, o filósofo ainda alertou que a instabilidade econômica e a desigualdade estavam aumentando graças à globalização.
“Em
breve, a economia mundial será propriedade de uma classe superior
cosmopolita que tem tanto sentimento de comunidade com qualquer
trabalhador quanto qualquer um dos grandes capitalistas americanos do
ano 1900.”
‘Piora econômica’
O
jornal britânico “The Guardian” escreveu que Rorty previu que o chamado
“homem forte” não teria poderes para fazer nada além de “piorar as
condições econômicas” e “fazer as pazes rapidamente como os
super-ricos”.
A
publicação esclarece, no entanto, que Rorty não foi o primeiro nem o
último acadêmico a prever essas mudanças tão radicais na política,
causadas por tecnologia, globalização e movimentos liberais.
“Previsões”
sobre os eleitores se voltando contra as “elites” e transformando
minorias em bodes expiatórios também foram tornadas publicas pelo
historiador americano Samuel Huntington em 2004 e pelo filósofo Noam
Chomsky em 2010.
G1
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