Contra assédio e ‘golpes’, empresária acreana abre oficina mecânica de mulheres
Com
a missão de cuidar do carro da família, a acreana Daniella Lima via o
filme se repetir toda vez que precisava ir a uma oficina mecânica: falta
de explicação sobre os serviços feitos, preços abusivos e assédio por
parte dos profissionais que ela estava contratando. Sem opção para fugir
desse ambiente que considerava hostil, ela resolveu criar uma oficina
feminina em todos os aspectos – na decoração, nas funcionárias e, claro,
nas clientes que movimentam o seu negócio em Rio Branco, capital do
Acre.
Para se dedicar por completo aos motores, carburadores e
bombas de gasolina, a empresária passou os últimos três anos virando a
vida ao avesso. Desempregada em 2013 após sair de um trabalho de
auxiliar administrativa numa ONG, Daniella quis fazer um curso de
mecânica de 4 meses no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
(Senai). “Meu marido me perguntou porque eu não ia fazer um curso de
cabeleireira, mas eu não quis nem saber, estava decidida. Tanto que,
entre os moleques de 18 anos obrigados pelos pais a fazer o curso, eu me
destaquei”, disse.
A saída para o mercado aconteceu em parceria
com um professor, com quem conseguiu um estágio em uma oficina
“tradicional” em Rio Branco. Foi um ano inteiro de serviço diário não
remunerado, que Daniella usava para acompanhar o conserto dos veículos
pelos funcionários homens. O que ninguém esperava era que as mulheres
motoristas passariam a procurar exclusivamente o serviço da nova
profissional. “Não recebia salário, mas o dono da oficina começou a me
deixar num canto separado, para eu fazer meus bicos. E foi aí que pensei
que devia realmente iniciar um negócio”, explicou Daniella.
O
primeiro espaço da Rapidão Oficina Mecânica, em 2014, era alugado por R$
800 e só cabia um carro. A procura foi grande e, pouco mais um ano
depois, a empresária se mudou para um local maior, com espaço para 20
carros, equipamentos e até um lava jato. Para estruturar o negócio,
Daniella desembolsou R$ 40 mil. Dois anos depois, a empresária já
recuperou 50% do investimento e consegue manter o negócio com seis
funcionários (dois homens e quatro mulheres), além manter sozinha a casa
com a mãe e os três filhos – ela se divorciou do marido, que não soube
lidar com sua nova vida de empreendedora.
Hoje, a clientela da
oficina é 70% feminina e 30% de motoristas homens, normalmente indicados
por esposas ou amigas. O crescimento do negócio, diz Daniella, é
notável mês após mês, nesse marketing do boca a boca entre mulheres que
ficam mais confortáveis com o serviço feminino. “Os homens que chegam
desavisados, quando veem só mulheres, perguntam logo onde está o ‘dono’
da oficina. Me identifico e quase todos dão meia volta e vão embora”,
diz Daniella, que se orgulha em dizer que trabalha de bota rosa, brincos
na orelha e maquiagem no rosto. A estrutura da Rapidão também tem um
cuidado especial, com jardins bens cuidados e paredes pintadas de
amarelo e roxo.
Estadão
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