sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Ebtrevista com João Doria

Não vou nomear quem não seja ficha-limpa’, afirma o prefeito eleito de São Paulo 

Não vou nomear quem não seja ficha-limpa’, afirma João Doria
 Assim que sentou-se à cabeceira da mesa onde deu entrevista ao GLOBO, nesta terça-feira, o prefeito eleito de São Paulo, João Doria, não apresentou documentos ou gráficos sobre o que fará pela cidade, que assumirá em janeiro. Materializou-se na sala um pequeno relógio plástico, branco e de ponteiros dourados, daqueles vendidos em lojas populares. “Começamos o tempo”, foi a primeira frase da entrevista. “Vocês agora têm mais quatro minutos”, foi uma das últimas, meia hora depois.
No escritório decorado com enormes quadros do artista japonês Manabu Mabe, num suntuoso prédio de arquitetura neoclássica, Doria falou de suas propostas com frases de orador, mesmo quando as respostas vagavam pela generalidade das ideias. Com garantia de que é um homem bem resolvido, sem nunca ter feito análise, rechaçou comparação com Donald Trump (candidato republicano à Presidência dos EUA), e disse que prefere ser visto como Bloomberg, ex-prefeito de Nova York. Disse ter prática em descascar abacaxi, uma de suas frutas preferidas, e que está pronto para tirar dinheiro do bolso para quitar dívidas de campanha. Ah, sobre política: garantiu que Geraldo Alckmin irá para a briga em 2018 sem abandonar o PSDB, que não vai fazer barganha política na composição do seu Secretariado e que sua gestão será marcada por privatizações e desburocratização. Se vai se contentar só com a prefeitura? Doria gosta de fazer mistério:
— Só o destino vai dizer.
2016 943165192-201610041737470841.jpg_20161004 (2).jpgO senhor já disse que fará uma gestão com privatizações. Quanto pretende arrecadar com a venda do autódromo de Interlagos, do Complexo Anhembi e a concessão do estádio do Pacaembu?
DORIA: Estamos estimando que tudo vai render R$ 7 bilhões. A meta é concluir isso no primeiro ano de gestão.
O GLOBO: O senhor tem dito que o acesso público e gratuito que existe hoje nessas áreas será mantido. Isso não reduzirá o preço desses espaços? A venda poderá se revelar um negócio desvantajoso à cidade?
DORIA: De maneira alguma. Há muito interesse nesses espaços. Eu já fui procurado por muitos interessados.
O GLOBO: Empresas o procuraram com interesse nessas áreas antes mesmo da sua vitória?
DORIA: Sim, nacionais e internacionais.
O GLOBO: O próximo ano tem previsão de baixo crescimento econômico. O senhor prometeu congelar a tarifa dos ônibus em 2017. Vai usar o dinheiro das privatizações para custear despesas como o subsídio às empresas de ônibus?
DORIA: Esse dinheiro vai, prioritariamente, para Saúde e Educação. Essas privatizações e concessões também vão ajudar nas despesas, à medida que vai levar à redução de gastos. O autódromo custa cerca de R$ 400 milhões a cada quatro anos. No caso do Pacaembu, são R$ 50 milhões por ano.
O GLOBO: O seu governo reajustará o salário dos servidores no primeiro ano de gestão?
DORIA: Esse é um assunto que estamos estudando. Não tenho resposta ainda.
O GLOBO: O telefone do seu tesoureiro de campanha passou a tocar mais depois de domingo? A sua campanha tem uma dívida de R$ 6 milhões.
DORIA: Não sei, tem que perguntar para ele. Temos, sim, uma dívida e posso garantir que vamos honrá-la.
O GLOBO: Nem que para isso tenha que colocar mais dinheiro do próprio bolso? O senhor já doou R$ 3 milhões.
DORIA: Sempre tive essa disposição e farei, se necessário.
O GLOBO: Ao fazer campanha frisando que não é político, não está reforçando a onda de descrédito na política em vez de estimular a participação?
DORIA: Não acho. Eu sou um gestor e estou na administração pública para contribuir. Eu respeito os políticos e vou ter com eles uma relação republicana.
O GLOBO: Não é ingenuidade pensar que as relações com vereadores e partidos vão se pautar sem cargos e vantagens?
DORIA: Não. Todos os que estão conosco nessa ampla aliança sabem, desde o início da campanha, das minhas condições. Isso não significa que não vou aceitar indicações de nomes para o governo. As sugestões são muito bem-vindas. Agora, quem vai escolher sou eu.
O GLOBO: Por que acredita que vai conseguir fazer diferente da imensa maioria dos governantes? Acha que o problema é a pessoa, e não o sistema?
DORIA: Eu não sou um super-herói. Mas, repito, vou conversar com todos, ouvir indicações, mas não vou nomear ninguém que não seja ficha-limpa. Não vai ter partilhamento (da máquina pública).
O GLOBO: O senhor diz que a cidade tem sido governada de forma provinciana. O prefeito Fernando Haddad (PT) tratou a cidade dessa forma?
DORIA: Não quero falar mal da gestão do Haddad. A campanha acabou. Não vou prejudicar a transição. Estou aqui para prefeitar. Vou ficar os quatro anos do governo e não vou disputar a reeleição.
O GLOBO: João Doria é uma pessoa bem resolvida com ele mesmo? Já fez terapia?
DORIA: Sou super bem resolvido. Nunca fiz terapia e não tomo remédios (para ansiedade, depressão), apenas vitaminas.
O GLOBO: A sua carreira é marcada pela busca de melhores posições e cargos. Na TV Tupi, o senhor começou com um cargo baixo e terminou como um dos diretores da emissora. Na gestão do prefeito Mario Covas em São Paulo, começou no Anhembi, virou secretário de Turismo e presidente da Paulistur. Podemos supor que sua carreira política não acaba na prefeitura?
DORIA: Só o destino vai dizer (risos).
O GLOBO: É só isso que tem a dizer?
DORIA: Sim.
O GLOBO: Até que ponto vai brigar no PSDB pela candidatura do governador Geraldo Alckmin para a Presidência da República em 2018?
DORIA: Todos sabem das qualificações do governador. Defenso, sim, o nome dele. Aliás, estou pronto para defender prévias para 2018. Que disputem todos os interessado. Tudo dentro de um espírito democrático.
O GLOBO: Considerando a hipótese de Alckmin não ser o escolhido pelo partido, defende que a candidatura dele aconteça fora do PSDB?
DORIA: Não vislumbro a possibilidade de o Alckmin deixar o PSDB. Não acredito que faria isso. Defendo que o resultado das prévias seja respeitado.
O GLOBO: Receber cumprimento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso por Whatsapp não é demonstração de pouca empolgação com sua vitória?
DORIA: Não acredito. Eu e o presidente Fernando Henrique temos ótima relação. Ele gravou um vídeo com manifestação de apoio a mim para meu programa no horário eleitoral. A mensagem que ele mandou foi muito carinhosa.
O GLOBO: Qual perfil a cidade pode esperar do seu Secretariado, uma vez que suas relações são muito mais empresariais que políticas?
DORIA: Um perfil eficiente.
O GLOBO: Todos dizem isso. O que significa?
DORIA: Teremos equipe de gestores e políticos.
O GLOBO: A prefeitura tem um gabinete para a primeira-dama. A sua mulher, Bia, vai ter alguma função na gestão?
DORIA: Ela vai conduzir o Fundo Municipal de Solidariedade, que vamos criar.
O GLOBO: O sr. vai nomear mulheres para o primeiro escalão?
DORIA: Sim, claro. Aliás quero deixar meus cumprimentos aos eleitores que elegeram o dobro de mulheres para a Câmara Municipal este ano.
O GLOBO: Como vai lidar com a resistência ao seu projeto por parte do parte do eleitorado que não votou 45?
DORIA: Não terei problema com isso porque as pessoas vão perceber logo que governarei para todos.
O GLOBO: Qual a primeira medida concreta que tomará para estimular a geração de emprego, considerando que 2017 continuará sendo um ano difícil?
DORIA: Nossa proposta é desburocratizar.
O GLOBO: Isso é muito amplo. Não tem medidas mais específicas?
DORIA: Não é amplo, é fundamental. Com menor tempo para licenciamentos na cidade, por exemplo, você impulsiona o setor da construção, entre outros, e estimula a geração de empregos rapidamente.
O GLOBO: O que pretende fazer com o Uber?
DORIA: Não sou contra os aplicativos. Sou a favor do convívio na cidade. Não podemos impedir, desde que regulamentado, que os Uber tenham direito à oportunidade de emprego. Essas pessoas também têm família.
O GLOBO: Na Cultura, São Paulo criou recentemente a SPCine, inspirada na Rio Filmes. Vai mantê-la?
DORIA: Gosto muito da ideia, mas não me debrucei sobre os números ainda. A principio, gosto muito do modelo de Nova York. Lá, além de fomentar a cultura, ela ajuda na receita, uma vez que cobra taxa para autorização de filmagens nas ruas da cidade. Eu mesmo já tive que pagar taxa lá.
O GLOBO: Além da “cashmere” e do cabelo com gel, o uso de um apito é sua marca nos eventos com empresários, para botar ordem nos eventos. O apito entrará na prefeitura?
DORIA: Não. Acho que não haverá necessidade (risos).
O GLOBO: Na eleição americana, Doria é Donald Trump ou Hillary Clinton?
DORIA: Hillary.
O GLOBO: O senhor foi comparado a Trump nesta eleição. O que acha disso?
DORIA: Prefiro ser comparado ao (Michael) Bloomberg (milionário que governou Nova York entre 2002 e 2013).
O GLOBO: Na eleição do Rio, Doria é Marcelo Freixo ou Marcelo Crivela?
DORIA: Sou Rio de Janeiro.
O GLOBO: O que gosta de comer?
DORIA: Comida frugal. Hoje (ontem), almocei um prato de salada com peixe. Só não deu tempo de comer o abacaxi, o que sempre faço depois do almoço.
O GLOBO: O senhor é bom de descascar abacaxi?
Globo.com

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