Procurador geral da República, cria força-tarefa para investigar familiares de deputado paraibano
O
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, criou no último dia 20 de
setembro uma força-tarefa para acompanhar os desdobramentos da operação
Desumanidade do Ministério Público Federal da Paraíba. A Desumanidade
investiga irregularidades e direcionamento do resultado de licitações
que beneficiaram a empresa Soconstrói Construções e Comércio, entre os
anos de 2012 e 2013, no município de Patos (PB). Entre os investigados
estão ao menos cinco integrantes da família do deputado Hugo Motta
(PMDB). Questionado à época, o advogado Solon Benevides, que representa
os integrantes da família Motta, afirmou à reportagem que os fatos não
podem ser objeto de análise pública porque estão sob sigilo.
De acordo com portaria publicada, a PGR autorizou que os procuradores
Djalma Gusmão Feitosa, Tiago Misael de Jesus Martins, lotados na
Procuradoria da cidade de Sousa (PB) e Renan Paes Félix, lotado em
Monteiro (PB), oficiem em conjunto com o procurador da República João
Raphael Lima e com o procurador regional da República Duciran Van Marsen
Farena, coordenador dos trabalhos, nos processos e investigações
relacionadas à Desumanidade.
Ex-presidente da CPI da Petrobras, Motta teve sua mãe, Ilanna Motta,
presa em outra investigação, a Veiculação. Por conta da mesma
investigação, sua avó, Chica Motta, foi afastada do cargo de prefeita de
Patos. O cunhado de Motta, José Willian Segundo Madruga, e o atual
marido de sua mãe, Renê Caroca, também foram presos pela Polícia Federal
no âmbito da investigação. Nabor Wanderley, pai de Motta, é apontado
como líder do grupo criminoso e seria destinatário de 10% do valor dos
contratos, segundo proposta de delação premiada dos proprietários da
Soconstrói.
De acordo com a investigação, foram encontrados graves indícios de
irregularidades e direcionamento do resultado de licitações que
beneficiaram a empresa Soconstrói Construções e Comércio entre os anos
de 2012 e 2013. Ainda segundo o relatório do MPF, restou provado em
diligências realizadas nas obras, que agentes públicos estavam
"diretamente envolvidos com a execução das obras". Por meio do
cruzamento dos sigilos fiscais e bancários da empresa e dos
investigados, o MPF mapeou que os valores oriundos das parcelas pagas
pela Prefeitura à empresa tinham três destinos.
Delações
O empresário José Aloysio Machado da Costa Júnior, dono da empresa
Soconstrói, apresentou uma proposta de delação premiada ao Ministério
Público Federal da Paraíba, no âmbito da Operação Desumanidade, na qual
afirma que 20% dos valores desviados da construção de Unidades Básicas
de Saúde (UBS) abasteceram a campanha do deputado Hugo Motta (PMDB). Em
depoimento gravado em vídeo e entregue aos investigadores, o empresário
declarou que o dinheiro destinado a Hugo Motta saiu do Contrato 51/2013
que previa a construção de 11 unidades básicas de saúde (UBS) e de uma
academia de saúde em Patos. Parte das obras foi bancada com emendas
parlamentares destinadas por Motta.
A procuradoria-geral da República já foi oficiada do conteúdo com
citação ao parlamentar e o conteúdo, bem como a aceitação ou não da
proposta, ficará aos cuidados do procurador-geral da República Rodrigo
Janot. Por sua vez, José Aloysio da Costa Machado Neto, pai de Júnior,
afirmou em proposta de delação premiada que o pai do deputado Hugo Motta
(PMDB-PB) recebeu 10% em propina sobre obra da Prefeitura do município
de Patos. Nabor Wanderley da Nóbrega Filho, pai do peemedebista, é
candidato a prefeito do cidade pelo PMDB. De acordo com o depoimento, a
propina saiu de um contrato de terraplanagem de ruas de Patos.
Nabor era o candidato do grupo político da família Motta à Prefeitura de
Patos nas eleições municipais deste ano. Nabor perdeu a eleição para o
candidato do PSDB na cidade e encerrou o domínio de cerca de 40 anos da
família na cidade de Patos.
Questionado à época, o advogado Solon Benevides, que representa os
integrantes da família Motta, afirmou à reportagem que os fatos não
podem ser objeto de análise pública porque estão sob sigilo. Segundo
ele, a prefeita Chica Motta mandou abrir uma sindicância para apurar as
possíveis irregularidades. "No curso da instrução vamos provar que as
acusações não tem procedência", afirmou Benevides.
PB Agora com UOL
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