Marido de linchada após boato sobre magia negra celebra sentença máxima
Após
a condenação de um dos responsáveis pela morte da dona de casa Fabiane
Maria de Jesus, o marido da vítima afirmou estar confiante de que os
outros responsáveis também paguem pelo crime. A vítima foi linchada no
dia 3 de maio de 2014 e morreu dois dias depois. O caso ocorreu no dia 3
de maio de 2014 no bairro Morrinhos III, em Guarujá, no litoral de São
Paulo. O julgamento foi realizado na última quarta-feira (5).
Em
entrevista concedida após o julgamento, o marido da vítima, Jaílson
Alves das Neves, disse que crê que a Justiça seja feita para os outros
suspeitos. “Vendo que o rapaz pegou a pena máxima, confio que os outros
também peguem a pena máxima. Infelizmente o máximo que ele poderia pegar
é 30 anos, mas foi justo”, disse.
O crime aconteceu após uma foto
ter sido divulgada junto com um boato nas redes sociais de que uma
mulher parecida com Fabiane sequestrava crianças e as utilizava em
rituais de magia negra.
No julgamento, a Justiça determinou que o
rapaz terá que cumprir 30 anos de prisão e pagar uma indenização de R$
550 mil à família da vítima. Ele foi condenado por homicídio triplamente
qualificado, quando fica caracterizado que o crime possuiu requintes de
crueldade, a vítima não teve chances de se defender e ainda foi
torturada. A defesa ainda tentará anular a decisão do juiz.
O
advogado de defesa do acusado, porém, contestou a maneira com que o
julgamento foi conduzido. “Pedi o intervalo de 10 minutos e ele (juiz)
não quis dar e foi para a sala secreta. Isso aqui (julgamento) vai ser
anulado e dissolvido. Nós vamos voltar aqui para mais um julgamento
pedido pelo Tribunal de Justiça”, falou.
Mais cedo, o advogado
confiava em uma pena mais branda para seu cliente e chegou a afirmar que
a atitude dele, que bateu com a roda de uma bicicleta na cabeça de
Fabiane, não seria o suficiente para matar a vítima.
Segundo o
advogado de acusação, Airton Sinto, a decisão serve de exemplo para que
as pessoas tomem cuidados com as postagens na internet. “Que isso sirva
para acalentar o coração dos familiares da Fabiane e que sirva para
conscientizar sobre o uso da internet”, falou.
Um vídeo divulgado
na época do crime mostra Fabiane sendo carregada por diversos moradores
do bairro Morrinhos III logo após ela ter sido agredida. Convencidos de
que ela seria a sequestradora de crianças cuja foto circulava por uma
página do Facebook, alguns dos agressores amarraram os pulsos da mulher,
que foi agredida repetidamente até a chegada da polícia.
Durante
as investigações, cinco pessoas foram presas por terem participado do
linchamento de Fabiane. Abel Vieira Batalha Junior, de 20 anos, teria
participado da agressão amarrando os pulsos da vítima e a arrastando
pelo chão. Jair Batista dos Santos, de 37 anos, é acusado de agredir
Fabiane mas nega a participação no linchamento. Lucas Rogério Fabrício
Lopes, de 21 anos, é suspeito de ter passado por cima da dona de casa
com uma bicicleta.
Já Valmir Barbosa, de 50 anos, foi reconhecido
nas imagens do linchamento. Ele disse que tem filhos e que participou da
ação por acreditar que as acusações à vítima eram verdadeiras. Carlos
Alex Oliveira de Jesus, de 25 anos, aparece no vídeo segurando Fabiane
pelos cabelos. Ele disse que não chegou a golpear a vítima já que foi
segurado por duas primas.
Agressão
Fabiane
Maria de Jesus tinha 33 anos, era casada e tinha duas filhas, uma delas
tinha um ano e a outra 12. Ela tinha transtorno bipolar mas, segundo os
familiares, não era uma pessoa agressiva.
Fabiane saiu de casa de
bicicleta e foi até a igreja buscar uma bíblia que tinha esquecido no
local. Depois, segundo a família, ela iria para a casa de uma prima, em
Morrinhos III. De acordo com a polícia, ela foi abordada no caminho por
um grupo de pessoas, que agarraram Fabiane, amarraram as mãos dela e a
espancaram. O corpo dela foi arrastado até uma passarela. Ela foi
encontrada por policiais militares em estado de saúde grave.
As
cenas foram gravadas por um celular e mostram dezenas de pessoas ao
redor de Fabiane. Algumas pessoas teriam visto, na página Guarujá
Alerta, hospedada no Facebook, o retrato falado de uma mulher que
estaria sequestrando crianças em Guarujá e pensaram que se tratava de
Fabiane.
Confusão
De acordo com o
inquérito, o retrato falado atribuído a Fabiane havia sido feito por
policiais do Rio de Janeiro, da 21ª DP (Bonsucesso), em agosto de 2012.
Na ocasião, uma mulher foi acusada de tentar roubar um bebê do colo da
mãe em uma rua de Ramos, na Zona Norte da cidade.
Imagens de
câmeras de segurança divulgadas na época mostraram uma mulher passando
com a filha de 15 dias no colo e sendo seguida pela suspeita. A vítima
estava levando o bebê para fazer o teste do pezinho em um posto de
saúde. Ao sair da unidade, foi surpreendida pela mulher.
G1
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