Lojas e lotéricas enganam índios beneficiados com o Bolsa Família, diz Folha
O
difícil deslocamento até a cidade para retirar o dinheiro do Bolsa
Família e a desinformação sobre o funcionamento do programa têm deixado famílias indígenas vulneráveis a fraudes cometidas por comerciantes e por lotéricas encarregadas de distribuir os cartões.
No
Xingu, índios relatam que lojistas das cidades do entorno retêm os
cartões junto com a senha como garantia para compras a prestação.
Em
2014, a prática foi alvo de uma ação da Polícia Federal em Canarana
(MT). Segundo o coordenador regional da Funai, Kumaré Txicão, foram
apreendidos cerca de 200 cartões na época.
O problema é
generalizado no país, aponta relatório deste ano do Ministério do
Desenvolvimento Social, com base em pesquisas etnográficas feitas por
antropólogos em sete terras indígenas.
“O
controle sobre os cartões, a título de garantir o pagamento da dívida
contraída, é tamanho que as pessoas acabam alienando-se do valor que
recebem ou deveriam estar recebendo de acordo com as regras de cálculo
do programa”, afirma o estudo.
“Há nisso um forte indício de
conluio entre comerciantes e especialmente os estabelecimentos
lotéricos. No caso desses últimos, verificou-se que alguns funcionários
aproveitam-se das dificuldades de entendimento e de manuseio dos
indígenas do sistema de cartão magnético para dar-lhes somente parte do
valor da bolsa, ou mesmo dizer-lhes que não há nada para receber,
aparentemente apropriando-se desse recurso não repassado aos indígenas”,
diz o texto.
O relatório recomenda que o Bolsa Família passe por
adaptações, como uma ação informativa para explicar o programa, criação
de pontos de saque mais próximos das terras indígenas e o acionamento da
PF para “desbaratar as redes de exploração e expropriação de
indígenas”.
O ministério afirma que o estudo é da gestão da
ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e que “o atual governo está tomando as
devidas providências, inclusive junto ao Ministério Público Federal,
buscando soluções eficazes”.
Folha
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