segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Fim da união do casal global

Ponto de vista: O fim do casal Bonner & Fátima Bernardes e do mito do amor eterno

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Por Bárbara Semerene
No último mês, testemunhei ao menos três separações. Duas grandes amigas minhas se divorciaram – ambas na faixa dos 40, com filho pequeno -, além do casal global Fátima Bernardes e William Bonner. Mas nada foi tão trágico quanto a reação da população brasileira ao rompimento da dupla televisiva.
O que mais me surpreendeu foi a imposição do significado de “drama” e “tragédia” ao divórcio, em pleno século XXI. O “abalo sísmico” e a frustração das massas com a separação de Bonner e Bernardes revela a ilusão, ainda tão difundida na sociedade, de que a “eternidade” possa existir, como nos contos de fadas, e a resistência em aceitar que a única coisa eterna nesta vida é a mudança e a transformação constantes.
Me surpreende ver pessoas esclarecidas tentando adivinhar “o motivo” da separação de Bonner e Fátima Bernardes: “é que ela começou a ganhar bem mais do que ele”; “foi a Maju”; “foi uma médica”; “foi uma produtora”. Como se houvesse apenas um motivo e este fosse algo pontual e recente. Ao menos quem é casado sabe quantos motivos e insatisfações vão se acumulando ao longo de um casamento… ainda mais em 26 anos, como no caso de Bonner e Bernardes! Quanto equívoco! Quanta ingenuidade! Quanta simplificação da complexidade da vida, do ser humano e das relações.
Me pergunto quantas separações ainda serão necessárias para que as pessoas se certifiquem, e aceitem com naturalidade, que “o pra sempre sempre acaba” — seja por causa da morte biológica de um dos entes envolvidos, seja pela morte simbólica da relação. E quanto chão as pessoas terão de trilhar para se tocar que a mudança de estado civil não é algo necessariamente triste, melancólico, nostálgico, penoso?
O que noto como fato é que as pessoas mais felizes que conheço são as que aceitam e abraçam as mudanças como algo positivo, e embarcam nelas. Mais do que isso, as promovem!
Num certo dia de agosto, me vi entre duas abas de WhatApp: uma com a amiga X, que havia saído de casa porque – apesar de ter um marido espetacular, ótimo pai, que a amava e com quem tinha uma relação de muita paz e harmonia – se sentia infeliz e resolveu ser sincera consigo mesma e ir atrás de descobrir o que de fato queria. Na outra aba, eu conversava com a amiga Y, que havia saído de casa porque não se sentia amada, tinha uma relação de desrespeito mútuo com o marido e via seu relacionamento como um fracasso total. A amiga X estava leve, tranquila, em busca de sua felicidade, cheia de vitalidade e ânsia de vivenciar novas experiências. A relação com a filha havia ganhado mais tons cor-de-rosa com a nova dinâmica que ganhou sem o pai em casa, com momentos novos e gostosos. A amiga Y estava deprê, se sentindo a última das mulheres por não ter conseguido ser bem sucedida no relacionamento com o pai de sua filha. Se culpava, se cobrava e se autopunia.
As visões opostas sobre o divórcio têm a ver com duas premissas básicas: a da que acreditava que casamento era um troféu, que ela não conseguiu conquistar. E a da que acreditava que casamento era uma passagem da vida, um percurso feito com a melhor das intenções, mas que passou, e agora era hora de seguir a caminhada. Uma visão de que tudo tem início, meio e fim, e de que é preciso tirar o melhor do que se constrói, e seguir em frente. E que nada é estático nem desperdiçável. Tudo é um acúmulo de experiências que vão se sobrepondo e servem de trampolim para a próxima, que não foi previamente delimitada.
O problema está exatamente aí: em se agarrar em paradigmas que se tornam obrigatórios em nossas vidas e que precisamos provar para nós mesmos que conseguimos alcança-los, por mais irreais que sejam. E aí torcemos e retorcemos a realidade para que ela se encaixe em nossos moldes e, quando não se encaixa, nos sentimos fracassadas. O fracasso está em ter “comprado” o molde, e não em não ter se encaixado nele.
Espero que o fim da união do casal global, em vez de quebrar os corações da gente, nos liberte do mito do amor eterno e nos libere para vivenciar com alegria a era dos amores líquidos. Que sirva de exemplo e força para casais insatisfeitos se darem o direito de também se separarem. “Se até eles, por que não eu?”, em vez de terem tirado a esperança de casais jovens que se unem com a esperança de que “serão felizes para sempre”. O que importa é se estão felizes agora. Quando não mais estiverem, que mudem as perspectivas, sem medo de seguir em frente.
Fonte: http://www.brasilpost.com.br/ - Créditos: Bárbara Semerene Favoritar 

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