PESQUISA: Se fossem senadores, 65% dos brasileiros votariam “Fora, Dilma!”
Publicado por:
Gutemberg Cardoso
Resignada com o próprio infortúnio político, a presidente afastada
Dilma Rousseff acalentou uma última aspiração nos dias antecedentes à
derradeira votação do impeachment: ela não gostaria de terminar como
Fernando Collor, em 1992. Cortejado por meia dúzia de auxiliares, o
ex-presidente foi compelido a deixar o Palácio do Planalto por uma porta
lateral, de onde seguiu até o helicóptero presidencial debaixo de
vaias. Ao piloto da Aeronáutica, Collor arriscou emitir uma última
ordem. Como resposta, recebeu um rotundo “não”. Pressentira ali o
epílogo de sua melancólica passagem pelo poder.
DOBRO DO APOIO EM 100 DIAS
O protocolo do adeus e as circunstâncias políticas atuais podem até
impedir a reprise do episódio, mas – como Collor – Dilma não deixará
saudades. A maioria dos brasileiros continua a apoiar o impeachment,
prefere o presidente em exercício Michel Temer a ela e vislumbra um
horizonte de esperança a partir da saída da petista do poder. São as
principais conclusões de um levantamento realizado entre os dias 20 e 24
de agosto pelo instituto Paraná Pesquisas, a pedido da revista ISTOÉ
(Clique AQUI para a pesquisa completa). Às vésperas do último ato no
Senado para o afastamento definitivo, a pesquisa exibe um cenário
tétrico para Dilma. Segundo a amostragem, 65,5% dos brasileiros, se
fossem senadores e tivessem de comparecer à sessão marcada para
terça-feira 30, votariam pelo “Fora, Dilma”. Apenas 29,5% diriam “não” à
cassação. Confrontada em outra pergunta com a única opção em jogo
durante a apreciação do impeachment, ou seja, se quem deve governar o
País dali em diante é Dilma ou Temer, a maioria optou pelo presidente em
exercício do PMDB: 41,2%. A petista aparece com 21,9%. Ou seja, em 100
dias de governo, Temer já ostenta quase o dobro da preferência dos
brasileiros para governar no País em relação à Dilma Rousseff.
“Acho que Temer faz parte de um processo transitório e que o mercado,
a economia e até o próprio cenário internacional receberam o nome dele
de maneira muito positiva” Ana Paula Henkel, 44 anos, ex-jogadora de
vôlei da seleção brasileira
Espontaneamente, 34,7% responderam “nenhum dos dois”. O pior índice
de Dilma foi registrado na região Sul: 17,7%. O melhor no Nordeste:
32,3%. Mesmo assim, ela não bateria Temer na região, tradicional reduto
petista. O peemedebista teria a preferência de 34,7% dos nordestinos. Já
Temer obteve o melhor desempenho nas regiões Norte/Centro-Oeste: 46,2%.
Em sintonia com a consolidação de uma maioria favorável ao “Fora,
Dilma” e com a preferência por Temer, o levantamento indica um otimismo
com o novo Brasil a emergir no pós-cassação. Face à pergunta “Depois que
a presidente Dilma Rousseff foi afastada do cargo, o sr. diria que o
Brasil retomou a confiança e a esperança?”, 51,6% dos brasileiros
disseram “sim”, contra 45,1% “não” e 3,4% que não responderam. O pulsar
das ruas evidencia que este é um sentimento cada vez mais crescente
entre os brasileiros. A aposentada Berta Ofenhejm, 89 anos, de São
Paulo, é uma das otimistas por um Brasil melhor com a saída definitiva
de Dilma do Planalto. Ela conta já ter visto tudo na política, mas nunca
presenciou uma crise como a legada por Dilma. Para Berta, Temer pode
levar o País a um caminho mais próspero. “Não tenho dúvidas de que o
Brasil vai melhorar muito com ele. O presidente interino já mostrou com
as medidas que tomou que viveremos um crescimento na economia. A saída
de Dilma nos dá esperança”, diz. Pertencente a uma outra geração, o
estudante de engenharia civil Rafael Barbar, 20 anos, de São Paulo,
compartilha da mesma opinião. “Acho que o impeachment traz uma ótima
expectativa para nós. Poderemos ter um governo com novas ideias, que
faça o Brasil voltar a ser aquele País de oportunidades.” O jovem
defende a convocação de novas eleições. Mas, em sua avaliação, Temer
representa o primeiro passo para os brasileiros voltarem a sentir
confiança. “Ele tem tomado medidas importantes no campo econômico. No
médio prazo, vamos sentir os efeitos.”
“O impeachment também é uma mensagem política para o País, porque é
um sinal de que a população não aceita um governante que faz o que quer,
como a Dilma fez, como o Lula sempre fez” Rafael Cossi, 26 anos,
consultor estratégico
Para a atriz e apresentadora Luísa Mell, 38 anos, a corrupção
desenfreada e institucionalizada pelo PT é o motor da insatisfação
nacional. “Se a Dilma não sabia de tudo que está sendo mostrado na Lava
Jato, isso também é trágico porque mostra que ela é incompetente para o
cargo. Acho muito sério também o fato de ela ter tentado obstruir a
justiça colocando o Lula como ministro para ele ter foro privilegiado. O
problema não se encerra na Dilma e no Lula. A investigação tem que
continuar.” A veterinária Samira Franco Ferreira, 56 anos, faz coro.
Para ela, a corrupção é um dos fatores a impulsionar o “Fora, Dilma”. “A
ideia do impeachment é tirá-la do comando para recolocar o País nos
trilhos. Com ela isso não vai acontecer. Principalmente com os
escândalos que todos nós conhecemos bem.”
A corrupção esteve entre os temas abordados pelo instituto Paraná
Pesquisas. Embora tenha se esforçado para emplacar a fictícia narrativa
do “golpe”, que de maneira conveniente limita o seu afastamento a
motivações políticas impulsionadas por “meras falhas contábeis”, a
mandatária afastada aparece pela primeira vez associada pelos
brasileiros aos malfeitos. Pior: como líder de uma quadrilha. Ante a
pergunta espontânea sobre “quem seria o chefe da quadrilha que roubou o
Brasil nos últimos anos”, 5,3% da população cravaram Dilma Rousseff na
resposta. Neste quesito, a petista figura em segundo lugar, só ficando
atrás de Lula, apontado por 38,2% dos entrevistados como o grande
comandante do esquema de corrupção no País.
IMAGEM MANCHADA
O dado é um indicativo de que as recentes delações de personagens
envolvidos no Petrolão, apontando que Dilma não só sabia como participou
diretamente das operações de caixa 2 e pagamentos de propina durante a
campanha eleitoral, contribuíram para a deterioração de sua imagem. O
ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, foi mencionado por 3,8%, FHC 3%,
PT 2,6% e empreiteiros 2,1%. Do total, 34,5% não souberam responder. A
corrupção, aliás, – ao lado da Saúde – constitui-se na principal
preocupação dos brasileiros, de acordo com o instituto Paraná Pesquisas.
Entre os entrevistados, 26% consideraram o combate à corrupção e os
investimentos na Saúde como a “prioridade máxima” do próximo presidente
do Brasil. Em seguida, aparece o Emprego (22,5%) , a Educação (15,8%) e a
Segurança (7,7%). Para o comediante Marcelo Madureira, 58, anos, Temer
terá de adotar algumas prioridades para conquistar a confiança do
brasileiro. “Se ele tiver juízo, fará um baita ajuste no setor público.
Vai ter que abrir o baú de maldades e também dar início a algumas
reformas estruturais”, defendeu.
Em setembro do ano passado, o empresário e dono das lojas Riachuelo,
Flávio Rocha, 58 anos, foi a público dizer que o governo de Dilma havia
perdido o controle e a única saída seria o impeachment. Um ano depois,
ele está esperançoso com os frutos a serem colhidos com a efetivação de
Michel Temer. “O que estamos assistindo hoje é uma troca na forma de ver
o mundo. Vamos ter um País normal e próspero, com uma combinação de
democracia com livre mercado. Já vimos as sinalizações da confiança do
investidor e do consumidor”, diz. O economista Cláudio Vourof, 66 anos,
de Curitiba, comunga das mesmas idéias. Para ele, o impeachment trará
uma lufada de esperança, principalmente para a economia. As
expectativas, segundo ele, são as mais positivas. “A confiança dos
empresários vai melhorar e eles devem investir mais. O impeachment cria
um clima de otimismo e isso produzirá uma retomada econômica”, afirma. O
médico Daniel Barhtolo Hyppolito, 36 anos, acompanhou todas as
discussões em torno do impeachment e rechaça a narrativa do golpe,
entoada por petistas e congêneres. “As acusações têm fundamento e estão
de acordo com a Constituição”, diz. Apesar de Temer não ser seu
candidato, ele acredita na capacidade do peemedebista de comandar a
nação. “Temer e Dilma eram aliados. Ainda assim, acho que ele será
melhor dirigente do que ela. Entendo que ela cometeu um crime e deve ser
punida.”
Assim como Hyppolito, a ex-jogadora de vôlei da seleção brasileira,
Ana Paula Henkel, 44 anos, analisou com acuidade a situação da
presidente Dilma antes de defender um posicionamento. “Não era contra
nem a favor, estava apenas observando. Mas, após o relatório do senador
Antonio Anastásia (PSDB-MG), vi que não tem como fugir do impeachment.
Houve um crime de responsabilidade fiscal”, afirma. A ex-jogadora afirma
não ter votado na chapa PT-PMDB em 2014, mas alimenta expectativas com a
alternância de poder. “Acho que ele (Temer) faz parte de um processo
transitório e que o mercado, a economia e até o próprio cenário
internacional receberam o seu nome de maneira muito positiva. Sinto que é
o que nós precisamos nesse momento.” Apesar de não apoiar Michel Temer,
a atriz Julia Ianina, 33 anos, demonstrou preocupação com a paralisia
do governo Dilma. Para ela, legítima representante dos que não querem
nem Dilma nem Temer, o País poderá tomar um novo rumo quando forem
convocadas novas eleições. “Dilma dificilmente conseguiria uma situação
boa para governar. Então, o ideal seria ter uma nova eleição”. Trata-se
de um cenário inviável, uma vez que a convocação de um novo pleito teria
de ser aprovado por pelo menos 2/3 de um Congresso hoje alinhado com o
atual governo. Num cenário hipotético de novas eleições, Dilma
dificilmente teria condições de influir na disputa. Pelo contrário. O
levantamento realizado pela Paraná Pesquisas traduz a fragilidade
política da petista, a manquitolar sem perspectivas eleitorais. Um
percentual semelhante (63,7%) àquele favorável ao afastamento definitivo
da presidente afastada não votaria de jeito nenhum num candidato
apoiado por Dilma nas eleições municipais de outubro. Apenas 19,6%
admitiriam votar num nome indicado pela presidente afastada. Se é
incapaz de transferir votos, inepta para pavimentar maiorias
parlamentares, como poderia nutrir planos políticos para si própria ou
para outrem?
Fonte: istoé
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