Concurso dos bombeiros exige ‘teste de virgindade’ e Papanicolau
Um
dos exames exigidos no concurso do Corpo de Bombeiros do Distrito
Federal tem causado estranhamento: mulheres devem apresentar laudo do
Papanicolau (cientificamente conhecido como colpocitopatologia oncótica,
exame ginecológico realizado como prevenção ao câncer do colo de útero e
ao HPV) ou comprovar que não tiveram o hímen rompido – ou seja, ainda
são “virgens”. Não há exigências semelhantes para homens. Em nota, a
corporação disse não considerar a medida discriminatória e afirmou que o
objetivo é aferir “a condição física e laboral dos candidatos”.
A
comissão do concurso afirmou que não necessariamente uma alteração no
exame vai excluir uma candidata e que os dados serão mantidos em sigilo.
O concurso oferece 779 vagas e salários que variam entre R$ 5,1 mil e
R$ 11,6 mil. As inscrições foram abertas no dia 18 de julho e seguem até
18 de agosto. A prova é prevista para o dia 9 de outubro.
Para a
banca, não há necessidade de exames semelhantes para homens. “Sobre o
exame de próstata, informamos que se trata de um exame preventivo
indicado pelo médico aos homens a partir dos 40 anos de idade, sendo
esta idade superior ao limite exigido para ingresso nos quadros da
corporação”, disse. Também não há solicitações de exames para doenças
sexualmente transmissíveis, nem mesmo HPV.
“Entendemos que a
exigência do exame complementar citado não viola o sigilo das
candidatas, tampouco desrespeita o direito à intimidade, à honra e à
imagem. Pelo contrário, retrata o cuidado e o zelo que a corporação
possui com os futuros militares, tudo em conformidade com a lei, a
jurisprudência, e com orientações e determinações dos órgãos de controle
do CBMDF [Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal]”, completa.
Especialista
em concursos públicos, o advogado Fábio Ximenes disse considerar a
exigência uma “atrocidade”. “Fere o direito à intimidade, sim, da
candidata. Viola diversos princípios administrativos e constitucionais,
como o princípio da isonomia, fere o princípio constitucional da
discriminação, porque não pode haver discriminação de nenhum gênero, nem
para homem, nem para mulher. Já aconteceu outras vezes e é totalmente
imoral. É inconstitucional o edital cobrar esse tipo de conduta da
candidata.”
Trecho de edital do concurso do Corpo de Bombeiros do
Distrito Federal que fala sobre 'teste de virgindade'
para candidatas (Foto: Reprodução)
O advogado afirma ainda que os
testes são irrelevantes para determinar a aptidão das candidatas à
profissão. “Se a gente for apreciar se isso [os resultados] seria
relevante para o cargo, não é. Não impede o exercício de cargo de
bombeiro ou policial ou qualquer cargo. Isso não tem relação nenhuma
com as atribuições do cargo de bombeiro. Isso já é explicitamente
antiético. A exclusão de candidatos por esse tipo de conduta seria
totalmente contra a Constituição.”
Outros casos
Exigências semelhantes já foram questionadas anteriormente. Após
receber denúncias, a Defensoria Pública acionou o estado de São Paulo em
2014 para acabar com a obrigação para candidatas aos concursos do
governo.
Em 2015, a Justiça do Acre suspendeu o concurso para oficiais da Polícia Militar que trazia uma série de proibições aos candidatos, incluindo tatuagens na cabeça, pescoço e nos braços; cicatrizes “antiestéticas”; e ocorrência de testículo único, salvo em casos congênitos.
Em 2015, a Justiça do Acre suspendeu o concurso para oficiais da Polícia Militar que trazia uma série de proibições aos candidatos, incluindo tatuagens na cabeça, pescoço e nos braços; cicatrizes “antiestéticas”; e ocorrência de testículo único, salvo em casos congênitos.
Também em 2015, a Justiça Federal determinou que
a Marinha alterasse o edital de um concurso de admissão na Escola Naval
que vetava a inscrição de candidatos casados, em união estável ou com
filhos. O edital também previa desligamento de mulheres que engravidarem
durante o curso de graduação.
G1
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