"Novo Cangaço" ameaça policiais militares e moradores no sertão nordestino
Arsenal apreendido pela Polícia Militar após a
explosão de um caixa eletrônico no interior do Piauí, feito por um grupo
que se autodenomina "Novo Cangaço"

No sertão nordestino, um grupo de assaltantes de bancos, que se
autodenomina "Novo Cangaço", tem atuado de forma violenta, explodindo
caixas eletrônicos, fazendo moradores reféns e ameaçando matar policiais
locais.
Eles contam com explosivos, carros blindados e armamento pesado para
suas ações. Mesmo procurados, eles ameaçam de morte policiais em recados
enviados pelas redes sociais.
"Como a bala entra em nós, entra neles também. A juventude do "Novo
Cangaço" vai voltar e vai cobrar. Nós vamos roubar esse banco e vamos
fazer latrocínio. Agora, "o polícia' que estiver de plantão vai pagar
por essa covardia [morte de integrante]", diz um dos integrantes da
quadrilha.
"Vamos matar qualquer PM na rua, não importa se trabalha no Corpo de
Bombeiros. Nós não somos covardes como vocês, vamos mostrar como se
briga, como é o verdadeiro cangaço", continuou o foragido. Veja a
íntegra da gravação.
Reféns em Curimatá
No dia 5 de maio, a quadrilha invadiu a pacata cidade de Curimatá,
região sul do Piauí, provocando pânico na população. Usando duas
caminhonetes, com as carrocerias cheias de material que seria usado na
explosão da agência do Banco do Brasil, os criminosos fizeram os reféns
as pessoas que estavam em bares, transformando-as em escudo para se
proteger da polícia.
"Eles colocaram os reféns em fila na frente da agência. Depois da
ação, os reféns foram espalhados pelos carros, para dificultar a ação da
polícia", contou comandante do policiamento do interior do Piauí,
coronel Paulo de Tarso.
A quadrilha, composta por 14 pessoas, conseguiu, então, explodir os
caixas eletrônicos, mas, na saída da cidade foi interceptada pela
Polícia Militar.
Seis pessoas foram presas, cinco morreram – entre os mortos estava o
líder do grupo Denilson Araquan – e três conseguiram fugir a pé. Foram
apreendidos três fuzis, uma submetralhadora, uma pistola e dezenas de
munições, além de material explosivo, rádios comunicadores e certa
quantidade de dinheiro.
Os fugitivos se esconderam na zona rural do município Morro Cabeça do
Tempo (PI) e Avelino Lopes (PI), na divisa com a Bahia. As polícias do
Piauí, Pernambuco e Bahia estão na caça ao restante do grupo.
Durante a fuga, que já dura 20 dias, moradores relataram que eles
chegam às casas dos sítios exigindo comida e água, fazem ameaças para
ninguém informar à polícia onde estão e seguem a pé em direção à Bahia. A
polícia não informou os nomes dos foragidos. Mas pelo menos um deles,
Cícero Henrique, foi identificado pela própria mãe que pede que os
policiais o prendam.
"Me ajude e traga meu filho preso porque eu não vou querer advogado
para tirar ele não. Eu quero que ele cumpra a sentença pelo que ele fez,
eu vou ajudar ele na prisão, ele vai pagar pelo que ele errou. Mas sou
uma mãe aflita e peço, eu só tenho um filho que Deus me deu ele", pede a
mulher. Ouça o vídeo que ela divulgou nas redes sociais.
MÃE DE FORAGIDO PEDE QUE POLICIAIS TRAGAM SEU FILHO PRESO
Violentos, irredutíveis e ramificados
"A característica desse grupo criminoso é que os integrantes não se
entregam, mesmo encurralados, eles resistem e preferem morrer a serem
presos. Eles são extremamente violentos. Porém, a polícia está preparada
para contê-los. Não nos intimidamos com os recados que eles estão
enviando pelo WhatsApp", afirmou o coronel Carlos Augusto Gomes de
Souza, comandante da Polícia Militar do Piauí.
A quadrilha estaria fazendo uma espécie de revezamento nas cidades
onde encontram menos dificuldade para praticar os crimes. São municípios
com uma ou duas agências bancárias, que não possuem efetivo policial
suficiente e onde a delegacia não funciona 24h.
"Observamos que nas cidades onde eles conseguem roubar dinheiro mais
fácil, eles sempre voltam a atuar", disse o delegado José Rivelino
Moraes, da Dinter (Diretoria Integrada do Interior) de Pernambuco.
A quadrilha é originária do sertão de Pernambuco, da região do
"polígono da maconha", e atua em cidades que estão na divisa do Estado
com a Bahia, o Ceará e o Piauí.
São cerca de 40 integrantes, todos de uma mesma família: os Araquan.
Nas décadas de 1980 e 1990, disputas deles com outras famílias
sertanejas como os Benvindo, Cláudio, Gonçalves, Nogueira e Russo
resultaram em dezenas de assassinatos em cidades como Floresta, Belém do
São Francisco e Cabrobó, todas no interior de Pernambuco.
Segundo a Polícia Civil de Pernambuco, o "Novo Cangaço" é subdividido
por setores de atuação. Uma parte é especializada em arrombamentos a
bancos e outra em assaltos a agências bancárias e Correios, além disso,
atuam no tráfico de drogas e armamentos. "Cada setor tem um chefe. Nunca
vão todos para a mesma ação criminosa, pois caso aconteça de serem
presos ou morrerem, o restante do grupo continua a atuar", disse o
delegado.
Os integrantes teriam também ligações com milícias no Paraguai e na
Bolívia, onde conseguiriam as armas e treinamentos para manuseá-las.
Medo em Curimatá
Após o arrombamento ao banco em Curimatá, moradores tem evitando ficar
até tarde nas ruas. Bares, lanchonetes e restaurantes também têm fechado
cedo suas portas. Dono de um bar no centro da cidade, que pediu para
não ser identificado, conta que quando os bandidos chegaram à cidade
atiraram para o alto e desceram dos carros pegando quem estava sentado
nas mesas do estabelecimento dele.
"Foi um terror porque ninguém sabia o que eles poderiam fazer com as
pessoas, pegaram homens e também mulheres. Depois disso, o movimento do
bar diminuiu e as pessoas não demoram muito aqui como antes. Eu até
prefiro fechar cedo para não correr risco, pois os ladrões disseram que
iam voltar", disse o comerciante.
Uma moradora da rua Barão do Paraim, no centro, onde fica a agência
bancária, contou que estava no terraço da casa quando os carros da
quadrilha passaram em alta velocidade. "Como aqui no interior quase não
tem movimento, a gente observa logo quando algo diferente está
acontecendo. Estávamos no terraço e corremos para dentro de casa com
medo de tiros", disse Maria dos Anjos Moreira, 53.
Fonte: Uol
Fonte: Uol
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