Sula Miranda lança biografia e dispara: “Sou de outra geração, hoje os artistas são fabricados”
Publicado por:
Carlos Rocha
A música sertaneja mudou quando se mostrou na televisão de roupa
justa e salto alto. Essa combinação, até então pouco vista, vendeu 1,7
milhões de discos e deu a uma jovem cantora uma vida de sucesso e
glamour. Não, não estamos falando de Paula Fernandes.
Há 30 anos, Sula Miranda chegava ao estrelato, ao lado de Roberta
Miranda, abrindo de vez as portas para as mulheres no sertanejo
(introduzidas anos antes por Inezita Barroso e Nalva Aguiar). Com a
alcunha de Rainha dos Caminhoneiros, ela andava de automóvel rosa e
chegava a fazer show para cem mil pessoas. Mas até hoje ela se lembra do
gosto amargo do sucesso. “As pessoas falam do vazio. Eu não tinha o
vazio, eu tinha o cheio. Cheio de vaidade, de arrogância, de
prepotência”, relembra.
Esta “Paula Fernandes dos anos 1980″ foi também um dos primeiros
nomes do chamado “new sertanejo”, que buscava elementos urbanos na
música tradicionalmente de raiz. E até por isso ela acompanha e diz
gostar dos novos rostos na cena –seja sua “discípula” Paula Fernandes ou
os ditos sertanejos de balada, como Henrique e Juliano ou Lucas Lucco.
Sula admira, mas pondera. “Sou de outra geração. Hoje você sabe como
funciona um sucesso de um artista, né? Entre aspas, ele é fabricado.
Isso tem um custo. Se você não paga para tocar na rádio, pode ser a
música mais bonita, não toca. Se amanhã um empresário ou um escritório
quiser investir em mim, eu vou tocar tanto quanto nos anos 1980″,
garante.
Com a alcunha de Rainha dos Sertanejos, Sula Miranda andava em automóvel rosa e chegava a fazer show para cem mil pessoas |
Embora siga firme com a carreira musical, com um pé no gospel e outro
no sertanejo, Sula não toca mais nas rádios. E isso não é mais motivo
para preocupação. Sua biografia recém-lançada, “De Rainha a Serva de
Deus” (Companhia Editora Nacional) revela uma Sula em busca do equilibro
espiritual, mais do que as luzes da ribalta, que lhe brilharam forte em
1986 com o lançamento do primeiro disco, “Caminhoneiro do Amor”.
Ela relembra, na terceira pessoa, do sucesso que alcançou. “No auge
da Sula, eu perdi referências. Você não sabe quanto custa um litro de
leite. Tudo é normal, tudo você pode. A carreira artística te paparica
demais. Todo mundo quer te agradar o tempo inteiro. Você não fica na
fila, ganha um monte de coisas. Mas até onde isso é bom?”.
Rica aos 14
Sula Miranda se tornou financeiramente independente aos 14 anos. Ela
integrava o grupo pop As Mirandas, ao lado das irmãs Yara e Maria Odete
(mais conhecida como Gretchen, de outro reinado: a do Bumbum). Mais
tarde, o trio virou o quarteto As Melindrosas, um estouro de vendagem na
época: 1 milhões de cópias com o primeiro trabalho, “Disco Baby”.
Para ela, o fardo que a fama traz é um problema do passado. “Esses
dias o Lucas Lucco deu uma declaração dizendo que estava assim
[angustiado]. Puta cara lindo, jovem, bombando, foi para a Globo, fez e
aconteceu, e não está feliz? Quando eu vi a declaração dele, eu me
reconheci. É o que todo mundo busca o tempo inteiro, mas quando você
alcança, você fala assim: ‘Tá, mas tudo isso é para quê?'”.
Mais do que a música em si, Sula escancara o passado no livro e
revela outros dramas pessoais. Em 1990, seu marido, o empresário Luis
Flávio Rocha, cometeu suicidou. Dois anos mais tarde, a cantora viu seu
nome envolvido em um escândalo com Silvio Santos. Ela tinha acabado de
ganhar um programa na emissora e, ao mesmo tempo, foi vendida como
amante do apresentador. “Até provar o contrário, eu era a assassina e a
pistoleira”, diz.
Na época, se recolheu com depressão. “Por ter essa paz hoje é que eu
não tenho mais crises. Ficar mal por não cantar, não se apresentar? Não.
É preciso sabedoria e equilíbrio”. Fazendo sucesso ou não, ela garante
que não larga o sertanejo, mesmo com uma visão pessimista sobre a
indústria musical. “O que eu conquistei foi com minha credibilidade. E
se faço um programa de TV hoje, não pago um real”.
Créditos: UOL
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