Pinto do Acordeon: O anti-forró e um Pinto duro na queda, 'frente a frente' com Heron Cid
No Frente a Frente, programa semanal que apresento na TV Arapuan, o
forrozeiro natural de Conceição (PB), mostrou que está bem vivo: na
saúde e nas suas opiniões sobre o ritmo dos primeiros até os seus atuais
66 anos de vida.
Ousado, sugeriu a mudança do nome do ritmo tocado pelas bandas que
fazem sucesso hoje em dia carregando o ‘forró’ em seus títulos. E mirou
no maior expoente da atualidade: Wesley Safadão.
Pinto toca num ponto crucial. O cearense tem todos os méritos de
artista popular e que reúne multidões, mas está em jogo outra coisa além
da grande produção artística e empresarial por trás de ‘fenômenos’,
como Wesley.
Na proporção do estouro nacional está o empobrecimento do ritmo. Da
estética original à baixíssima qualidade das letras. Nas músicas,
ouve-se tudo, menos a emblemática sanfona, dando lugar ao barulho da
percussão e os acordes dos metais.
O pior: praticamente todos os sucessos, sem exceção, são repetições
das mesmas temáticas: cachaça, apologia ao álcool, fulanização dos
relacionamentos e vinganças passionais. Uma demonstração de esvaziamento
da poesia, das paixões, dos amores que dão certo… Parece que a
inspiração da nova geração de compositores chegou ao fundo do poço.
Culpar, isoladamente, artistas e compositores talvez seja
radicalismo. Existe todo um investimento de grandes grupos de produção
musical faturando horrores. Mais do que isso: do outro lado da linha de
produção, ainda que levado pela força da mídia patrocinada e
exaustivamente veiculada, há o público com o poder de escolher o que
consome, engole ou cospe.
E, por enquanto, esse universo da nova juventude tem preferido
degustar e injetar nas veias o estilo “safadão”. É uma questão, também
de gosto, portanto, ainda mais preocupante. A cutucada corajosa de
Pinto, ereto como sempre na sua trajetória, serve para mexer nas águas
turvas desse debate.
Por Heron Cid.
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