Aprovada no Enem, Travesti será chamada por nome social na UFPE
Amanda Palha, 28 anos, desembarca hoje no Recife. É a primeira vez
dela na capital pernambucana. Uma estreia e tanto. Travesti e engajada
na causa LGBT há dez anos, a paulista passou em primeiro lugar no curso
de Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) com a
nota 769,39.
Na UFPE, Amanda poderá ser chamada pelo seu nome social nos registros
da universidade. O direito foi reconhecido através da portaria
normativa n° 01, de 20 de fevereiro de 2015.
A militante mora na capital paulista e disse ter escolhido o Recife
para estudar porque em São Paulo não existem universidades públicas com o
curso de serviço social. “Santos tem, mas, para mim, significaria a
mesma mudança de endereço, seja para o litoral ou para outro estado,
como Pernambuco. No Recife, conheço algumas pessoas e tenho boas
impressões da cidade e do curso de serviço social”, explicou.
Na chegada, Amanda vai cuidar da matrícula na UFPE, que acontece
entre os próximos dias 22 e 26, e do novo emprego: trabalhar em
cooperativas de reciclagem formadas por mulheres. O mesmo serviço que
ela já desenvolvia em São Paulo.
Amanda sabe do significado de sua conquista. Mas reconhece que só
entrar na universidade não muda em nada a situação das travestis. “É
importante por um lado, mas mais importante é o que eu vou fazer em prol
do movimento a partir do momento em que estiver lá dentro. Essa
repercussão do meu caso na imprensa mostra o quanto nós, travestis,
ainda somos exceção como universitárias”, reflete.
A conquista da vaga na universidade aconteceu depois de pelo menos
três tentativas. “Já tentei ciências sociais, história, mas nem sempre
ia fazer as provas na segunda fase do concurso. No ano passado, tive uma
crise de pânico no dia dos exames”, lembrou.
O tema da redação deste ano – A persistência da violência contra a
mulher na sociedade brasileira – ajudou Amanda a conquistar uma boa
nota: 960. “Fiz um curso de formação política no Núcleo de Educação
Popular, em São Paulo, e isso me ajudou muito com a redação, com
filosofia e com história. Ajudou a aumentar minha nota”, destacou. Os
pais e dois irmãos de Amanda também comemoraram a conquista e apoiaram a
viagem dela para o Recife.
A ideia de Amanda é seguir carreira acadêmica, com mestrado e
doutorado. A travesti conta ter interesse em pesquisa, além de
intimidade com estudos de economia, política e gênero.
Correio Braziliense
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