Vivo estivesse, Raymundo Asfóra comemoraria hoje 86 anos de idade.
Mas, preferiu deixar a família, os amigos e ela - a boemia, que em Campina Grande nunca desacreditou no seu regresso.
“A morte está enganada, eu vou viver depois dela”, assinou o mote fazendo-se um eterno ex-ofício.
Asfóra vive, sim!
Por Marcos Maivado Marinho
Na
saudade de tantos e tantos que lhe queriam bem; nos exemplos de
altivez e coragem cívica; Na fidelidade extremamente sóbria aos
princípios de honestidade e zelo com a coisa pública; nos filhos
Gilbran, Samara, Sheyner, Thanner, Kerma e Bergma (e Omar, sim, que o
imitou num disparo fatal); nos netos...; na sua indelével e amada
Campina do Bodocongó e da granja Uirapuru.
Asfóra vive, porque a morte que temia não era coisa dele tratar em limites do planeta.
Por isso, vivas e vivas Asfóra!
À mesa, nosso Teachers. O meu com muito gelo; o teu no copo alto, natural e dosado com mineral sem gás da indaiá.
Tim Tim!
O artigo que segue eu publiquei anos atrás e reproduzo a pedidos:
MORTE ETERNA
Ninguém
matou Raymundo Asfóra. Ele decidiu seu caminho, a ida sem adeus. Tudo
que se diga em contrário é desinformação, pura e simplesmente.
Ou maldade!
O único problema que Asfóra alcançava nessa decisão era divino, não terrestre.
Católico,
credor da existência de uma vida eterna, artífice das parábolas na
hora de expressar o que queria, confiou-me dias antes da morte pequena
frase rabiscada de próprio punho que, interpretada ao pé da letra, diz
tudo que alguém possa querer saber sobre o seu fim.
Publiquei
a frase, acho que no jornal A União, quando efervescia o caso e quando
pululavam na mídia acusações caluniosas imputando a autoria da sua
morte a vários dos seus mais leais amigos, dentre estes eu, Ronaldo
Cunha Lima, o Cônsul do Líbano no Nordeste e compadre de Asfóra, Joseph
Noujaim Habib, Orlando Almeida, dentre outros.
E
por essas e outras prometi a mim mesmo não tocar mais nesse assunto. A
Paraíba sabe dos laços fortes que me uniam a Asfóra, das verdades que
conheço, do sofrimento que o desenlace produziu no seio familiar e
amigo do pranteado.
Mas
é prudente mexer no caso, quando o caso é reaberto pela Justiça e
volta a ser manchete. Prudente e necessário. Inclusive porque muita
gente que hoje acompanha o noticiário sequer conheceu Raymundo Asfóra. E
a vida desse grande homem foi singular, tanto assim que ele não se
permitiu dar à morte o direito de encontrá-lo. Foi a ela, ciente de que
a vida não mais lhe preenchia o íntimo.
Muito
falei e escrevi à época da sua partida, contrariando principalmente
uma balzaquiana irmã dele que mora em Recife - Mirian -, responsável
por todas as calúnias e por esta palhaçada que traz outra vez à ribalta
do sofrimento a viúva de Asfóra e seu mais fiel ‘cão-de-guarda’, o
morto-vivo fotógrafo Marcelo Marcos.
O
relatório apresentado pela Polícia Federal, que entrou no caso a
pedido do governador Tarcisio de Miranda Burity para exatamente apurar
com isenção o infausto acontecimento, é uma peça conclusiva e sem
defeitos. Mostra até que por fração de segundos após o disparo Asfóra
manteve-se consciente.
Quer
dizer, preparado esteve ele para suportar o impacto do tiro mesmo
porque, professor de Direito Criminal, não lhe comportava inocência no
gesto e nas conseqüências do que praticaria.
Pés
trançados com os pés da cadeira, cabeça deitada sobre a mesa… Todo um
figurino perfeitamente seguro e ambientado para o desfecho. Nada a
merecer dúvidas sobre a ação. Mas, eleito vice governador da Paraíba,
nome de evidência no momento político, óbvio que dúvidas sobre a
causa-mortis deveriam aparecer.
Disso
não houve queixa. Ao contrário, é dever do Estado tudo apurar. Dessa
obrigação Burity não arredou pé. E o resultado oficial, com todos os
elementos probatórios necessários, veio a público pelas mãos do xerife
maior da Policia Federal, o saudoso Romeu Tuma, que mais adiante virou
Senador da República pelo Estado de São Paulo e continuou até sua morte
sendo um dos mais respeitáveis nomes do Brasil nessa área
policial-investigativa.
A
morte de Asfóra não se deu por nenhum acaso. A teia de problemas
enredando-o na esfera familiar era tamanha que ir-se por deliberação
pessoal com certeza foi a melhor opção.
Não
tenho o direito de expor, nem neste e nem em outro espaço, as
confidências daqueles instantes finais de dores dilacerantes. Eu e ele,
por quatro anos em Brasília, fomos sozinhos. Se em Campina a
convivência em Manoel da Carne de Sol com Lindenberg Martins,
Rodenbusch, Moacir Thiê e tantos outros que embalavam a sua solidão nas
frias noites/madrugadas da Borborema, contribuindo para ajudá-lo a
abraçar os amanheceres, era coletiva, no Planalto Central o meu ombro
cansado pelo labor diário no gabinete do Anexo IV da Câmara Federal foi
o único porto seguro para afogamento das suas alegrias, tristezas,
mágoas e decepções.
Não
acho justo, pois, esse massacre sobre Neta (Gilvanete Vidal de
Negreiros Asfóra) e Marcelo. Essa invenção nascida sob a maldade da
balzaquiana que acima me refiro, é coisa de louca. De quem não respeitou
sequer os menores herdeiros que só não deixaram de ver o pai no caixão
porque eu me insurgi e de forma atrevida levei-os com a mãe para a
beira do ataúde lá no Palácio do Bispo, gesto do qual não me arrependo
porque foi o justo naquele instante de desespero e orfandade.
Neta,
Sheyner, Thanner, Kerma e Bergma estão vivos e sabem bem do que me
reporto. Daquele mal, pelo menos, eu os livrei. Negar o beijo no pai na
hora derradeira não tinha razão de ser. E assim agi como último ato da
assessoria permanente que prestei ao amigo até aquele minuto, fazendo o
que era certo!
Hoje
ouvi pelo rádio um repórter dizer que a promotoria pública tem um fato
novo para provar que Asfóra foi assassinado, mas que somente no dia do
júri, em março, trará à tona.
Não
me parece legal isso. Trata-se, evidentemente, de uma guerra de
nervos. Um massacre adicional para atentar contra as noites insones dos
acusados. Nem tanto por Neta, que tem apoio dos filhos e agora é por
um deles defendida, mas por Marcelo, este sim o ser mais prejudicado
nesse imbróglio, coisa de fazer cortar coração.
Asfóra matou-se! Marcelo, esse sim, foi assassinado. E a balzaquiana era quem deveria vir para o júri, pagar por esse crime.
Marcelo vive, mas está morto há quase três décadas na busca de provar-se inocente perante as leis do País.
Afora
a beleza de ter gerado uma filha, nada mais construiu em bem próprio.
Adoeceu e envelheceu. Quando anda, rumina saudades do amigo. Quando
para, pensa-se um malfeitor. Quando canta, quebra os versos. Quando
sonha, alquebra-se em pesadelos.
Isso será vida?
Blog do Tião Lucena
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