domingo, 9 de novembro de 2014

Análise das eleições 2014, após 15 dias do Segundo Turno

ONDE CÁSSIO ERROU, SOB O MEU MODESTO PONTO DE VISTA!


O primeiro erro do senador Cássio Cunha Lima foi ter escolhido o deputado federal Ruy Carneiro como seu vice, em detrimento de outros nomes de maior peso eleitoral, principalmente em João Pessoa, como o do ex-prefeito Luciano Agra. Era, pois, consensual esse entendimento entre os tucanos paraibanos de alta plumagem nas conversas informais ocorridas antes da homologação das candidaturas, de cujas conversações eu tive oportunidade de participar. Comenta-se, inclusive, que, quando Cássio fez a opção pelo nome de Ruy, o ex-prefeito Luciano Agra teria ficado muito triste por não ter sido o escolhido, tendo o mesmo ficado desmotivado e mal saía de casa para fazer campanha, apesar de ter disponibilizado o seu nome para suplência de senador, o que não era a mesma coisa.

Àquela época, com os institutos de pesquisa mostrando números desfavoráveis ao seu projeto de reeleição, o governador Ricardo Coutinho enfrentava dificuldades para encontrar um nome para compor a sua chapa, enquanto Cássio flutuava em céu de brigadeiro aparecendo com ampla vantagem em todas as pesquisas.

Ao contrário de Cássio, que precisava de um nome forte em João Pessoa e nada fez para o conseguir, Ricardo fez o possível - e o impossível também - para que o seu vice fosse de Campina Grande, berço político dos seu dois principais adversários, Cássio e Vital, e conseguiu fechar a sua chapa com Lygia Feliciano, depois de tentar nomes como os das deputadas Nilda Gondim e Daniela Ribeiro, além do nome de Arthur Cunha Lima Filho, vereador de Lucena, dentre outros campinenses.  

Outro erro inaceitável de Cássio foi não permitir que Cícero Lucena disputasse a senatoria, embora não houvesse favoritismo a seu favor para sua reeleição, mas possivelmente conciliaria as bases e abriria as portas na Capital. Assim, Wilson Santiago foi escolhido como seu candidato a senador, justamente aquele que simbolizava todo o seu ‘calvário’ para chegar ao Senado depois de eleito com mais de um milhão de votos em 2010.

Contando com o apoio da grande maioria dos deputados na Assembleia Legislativa, Cássio acreditou que a matemática eleitoral do "quem tem mais apoios, tem mais votos" ainda vigorava, quando na verdade esses parlamentares buscavam à reeleição atrelados ao seu inegável prestígio junto ao eleitorado, e, assim,  quando permitiu  - ou até colaborou - para a candidatura de tantos parentes, gerou tanto a ‘ciumeira’ dentro do bloco, quanto a ocupação de espaços que poderiam lhe dar mais ‘fôlego’ na negociação política.

Não era para Cássio ter aceitado passivamente a propagação da ideia do "já ganhou", que gerou a acomodação de lideranças e apoiadores, enquanto o grupo rival caçava dia e noite cada voto, não importava a distância e muito menos o preço.

Nos debates, Cássio insistia em chamar de “mentira” os números apresentados por seu rival e não tinha se preparado para mostrar os números que julgava “reais”, além de ter ido para o ataque contra Ricardo como quem estava perdendo, mesmo sendo apontado na liderança das pesquisas. Quando, estrategicamente, Ricardo propôs um debate de comparação de governos e Cássio aceitou, as vezes parecia que o governador era o candidato de oposição, dada a agressividade ao tom da campanha.

Além de acreditar que frases prontas e contra ataques sarcásticos derrotariam os argumentos de quem tinha as ações de sua gestão tão fáceis de serem lembradas pelos eleitores, outro erro primário de Cássio foi ter usado termos como “Cheque Moradia” e “Ciranda de Serviços”, mesmo tendo sido estes os grandes autores de sua maior queda: a sua cassação. E, ao deixar de optar por um discurso olhando para o futuro e mirar para seu rival, Cássio apostou que os paraibanos não votariam em Ricardo simplesmente porque não gostavam do seu temperamento e imaginou que criando uma barreira de antipatia do povo ao seu adversário atrairia a simpatia do eleitor, quando na verdade só aumentou o número de votos brancos, nulos e abstenções.

Quando preferiu gravar seus guias dentro de um estúdio, ao invés de ir conversar com o povo, como fez seu adversário muito bem, Cássio esqueceu que o "popular" dos dois era ele e insistiu em bater tanto na gestão de Ricardo só lembrando de usar a palavra “mudança” apenas no 2º Turno, na carona do discurso do presidenciável Aécio Neves, com quem o senador tucano vinculou a sua candidatura ao governo da Paraíba. Aliás, no segundo turno, as pesquisas aqui no Estado, quase todas, mostravam 35% a 65% para Dilma Rousseff, mas a imagem de Cássio era atrelada a tal ponto que Aécio não era candidato, já era presidente. Um exagero, no meu modesto entendimento, enquanto o seu adversário soube separar a campanha nacional com a regional, nadando de acordo com a maré, e acabou dando resultado. 

Some-se a tudo isso a inegável habilidade de Ricardo Coutinho no primeiro turno, tido por todos como politicamente isolado, tendo, no entanto, conseguido o importante apoio do PT paraibano - leia-se do prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo -, enquanto ao mesmo tempo negociava com os desmotivados peemedebistas após a desistência de Veneziano. 


Quem não lembra da "guerra judicial" travada pelo PT e PMDB em torno das alianças que ambos pretendiam fazer com a finalidade exclusiva de atender interesses partidários próprios, envolvendo inclusive as direções nacionais? Pois, bem: entre 'baleados e feridos' salvaram-se todos os beligerantes debaixo do guarda-chuva de Ricardo Coutinho, que os fez 'engolir' tudo que contra ele disseram no primeiro turno.  


Em resumo, em que pese uma campanha financeiramente pobre, acrescida de tantos erros, avalio que o senador Cássio Cunha Lima foi um gigante no resultado das urnas, uma vez que conquistou 47% dos votos em um confronto contra o Governo do Estado e a prefeitura de João Pessoa, além do Governo Federal”.

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