Jovens foram torturados após visita de Joaquim Barbosa
Josias de Souza
Aconteceu
em Maceió, capital de Alagoas. Após receber uma visita do presidente do
Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça, ministro
Joaquim Barbosa, jovens infratores internados em unidades de atendimento
socioeducativo sofreram tortura. Nesta sexta-feira (9), o CNJ informou
que 46 inspetores foram afastados de suas funções sob a acusação de torturar adolescentes.
Deve-se
a informação à juíza Ana Cristina Borba Alves. Ela coordena desde o
segunda-feira (5) um mutirão do CNJ em Alagoas. Visitou em Maceió cinco
unidades de internação de adolescentes. Contou que as denúncias de
tortura encontram-se sob investigação. Os afastamentos foram
formalizados por ordem judicial e pedidos do Ministério Público ou da
Defensoria Pública.
Segundo Ana Cristina, em relação a pelo menos
18 dos 46 dos monitores afastados já “foram produzidos laudos de corpo
de delito que comprovam a prática de tortura”. Nesses casos, disse a
magistrada, “há comprovação material das agressões”. Em missão do CNJ,
Joaquim Barbosa estivera com internos alagoanos no dia 15 de abril. Na
saída, declarou-se impressionado com o que viu.
“Essa realidade
impressiona. São adolescentes encarcerados em verdadeiras jaulas, sem
nenhuma condição de salubridade, iluminação e ventilação. Ficam
confinados neste espaço com apenas uma hora de banho de sol.” Detectou
falta de estrutura, carência de profissionais e despreparo. Estava
acompanhado do governador de Alagoas, Teotônio Vilela (PSDB), do
presidente do Tribunal de Justiça, José Carlos Malta Marques, do
procurador-geral de Justiça, Sérgio Jucá e do juiz da Vara da Infância e
da Juventude, Ney Alcântara.
De acordo com relatos recolhidos
pelo Ministério Público e pela Defensoria Pública, os adolescentes
entraram na pancada um dia depois da visita. Monitores mascarados
invadiram os alojamentos num horário em que os jovens dormiam.
Distribuíram chutes, socos e vassouradas. “Apesar de os monitores
estarem escondidos sob toucas ninjas, os jovens agredidos reconheceram
alguns deles pela voz e pelos olhos”, relatou a juíza Ana Cristina.
Outro
magistrado, Douglas Martins, juiz auxiliar da presidência do CNJ e
coordenador do Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema
Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas do
conselho, cobrou a apuração exemplar do ocorrido. “O CNJ não compactua
com a tortura, nem com a omissão diante dela. Vamos fazer constar do
nosso relatório esses episódios de violação aos direitos humanos em
Maceió”, disse.
A precariedade do sistema socioeducativo alagoano
foi debatida nesta semana, em Maceió, num encontro do Conanda, o
Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente.
Representante do CNJ nessa reunião, a juíza Marina Gurgel definiu a
coisa como “caótica”.
“Em alguns casos”, disse a doutora, “a
situação de adolescentes internados aqui em Maceió consegue ser pior que
o Regime Disciplinar Diferenciado [RDD], reservado a presos adultos de
alta periculosidade. Muitos adolescentes passam 23 horas segregados em
alojamentos imundos e recebem alimentação imprópria ao consumo humano”.
Quer dizer: as unidades ditas socioeducativas não socializam nem educam a
clientela.

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