quinta-feira, 3 de abril de 2014

Campanha contra estupro

Mulheres da PB mostram corpo na internet em campanha contra estupro

Elas aderiram ao movimento 'Eu não mereço ser estuprada'.
'O Brasil começou a colocar os seus demônios para fora', acredita cantora.

Wagner Lima e Aline Oliveira Do G1 PB

A fotógrafa Sara Andrade, de Campina Grande, não quer 'mimimi' e diz que a pouca roupa não justifica o crime (Foto: Sara Andrade/aquivo pessoal)
A fotógrafa Sara Andrade, de Campina Grande, não quer 'mimimi' e diz que a pouca roupa não justifica o crime (Foto: Sara Andrade/aquivo pessoal)
Mulheres paraibanas estão aderindo à campanha 'Eu não mereço ser estuprada' e publicando nas mídias sociais fotos mostrando o corpo. A mobilização começou a partir da divulgação de uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão do governo, na quinta-feira (27). A pesquisa mostrou que 58,5% dos entrevistados concordam totalmente (35,3%) ou parcialmente (23,2%) com a frase "Se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros". Segundo o levantamento, 37,9% discordam totalmente (30,3%) ou parcialmente (7,6%) da afirmação – 3,6% se dizem neutros em relação à questão.
A cantora e compositora paraibana, Socorro Lira, uma das vencedoras do Prêmio da Música Brasileira em 2013, divulgou na manhã de segunda-feira (31) uma foto seminua em sua página oficial, mas a postagem foi bloqueada pela rede social. “A quem possa interessar: meu corpo é meu e nem tente”, justificou, dizendo que se mantém firma na campanha.
A foto da cantora Socorro Lira com seios a mostra 
foi retirada do ar pela rede social
A foto da cantora Socorro Lira, da Paraíba, com os seios a mostra foi retirada do ar pela rede social (Foto: Reprodução/ Facebook) Socorro Lira acredita que desde 2013 o brasileiro começou a assumir os seus preconceitos. “O Brasil começou a colocar os seus demônios para fora. Este é um momento único. De repente as pessoas estão assumindo os seus preconceitos. Não havia direita, nem esquerda. Não existiam os preconceitos. Agora as pessoas estão assumindo esse lado perverso”, frisou.
A artista afirmou que a foto é uma forma de discutir a violência sexual que tem acontecido em todo o Brasil, tanto no Sertão paraibano, onde nasceu, até nos metrôs de São Paulo. A violência nos metrôs de São Paulo a gente sempre soube que existia, mas não sabíamos que tinha essa proporção de ser uma prática pensada e organizada de assédio e violência sexual nos transportes públicos de São Paulo, que não é muito diferente das violências que acometem as mulheres no Sertão da Paraíba ou no Sudão”, afirmou.
A cantora e compositora enfatizou que é preciso desmistificar a imagem sobre o corpo feminino mesmo após tantos avanços conquistados pelos movimentos feministas. “São mais de dois mil anos de Cristianismo. Este é o momento em que precisamos superar a visão equivocada com essa demonização sobre o corpo da mulher. Isso é uma herança das antigas e novas religiões. Todo esse peso desses conceitos nos maltratam e reforçam as agressões. E é preciso dizer um basta a isso tudo”, afirmou.
Natural de Brejo do Cruz, mesma cidade de Zé Ramalho, Socorro Lira lembrou que mostrar os seios continua sendo encarado como algo vergonhoso e lembrou de uma de suas idas à praia de Tambaba, no Conde (PB), destinada ao naturismo. “ Fui à área opcional de Tambaba e fiz topless mas ao entrar no bar fui obrigada a me vestir. No local havia vários homens sem camisa. Impressiona como os seios de uma mulher à mostra incomoda”, lamentou.
A cantora Mira Maya, de João Pessoa, considera a pesquisa 'absurdo em pleno século XXI' (Foto: Mira Maya/arquivo pessoal)Mira Maya: 'um absurdo em pleno século XXI' 
(Foto: Mira Maya/arquivo pessoal)
Quem também aderiu à campanha foi a cantora Mira Maya, que mora em João Pessoa e publicou sua foto na sexta-feira (28) declarando "Eu visto o que eu quiser!" em seus próprio corpo. "Um absurdo em pleno século XXI [os dados apresentados pela pesquisa]. Deixo aqui o meu mais profundo repúdio!", declarou na postagem. Até terça-feira (1º), a postagem de Mira tinha quase 260 curtidas.
Já a fotógrafa Sara Andrade, que mora em Patos, também aderiu na segunda-feira à campanha e em 21 horas tinha 418 curtidas e 38 compartilhamentos na sua postagem. "Não me venham com falso moralismo, e 'mimimi'. A minha pouca [ou muita] roupa, ou a falta dela, não justifica seu crime", disse na legenda da foto.

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