Mulheres da PB mostram corpo na internet em campanha contra estupro
Elas aderiram ao movimento 'Eu não mereço ser estuprada'.
'O Brasil começou a colocar os seus demônios para fora', acredita cantora.
A
fotógrafa Sara Andrade, de Campina Grande, não quer 'mimimi' e diz que a
pouca roupa não justifica o crime (Foto: Sara Andrade/aquivo pessoal)
Mulheres paraibanas estão aderindo à campanha 'Eu não mereço ser
estuprada' e publicando nas mídias sociais fotos mostrando o corpo. A
mobilização começou a partir da divulgação de uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão do governo, na quinta-feira (27).
A pesquisa mostrou que 58,5% dos entrevistados concordam totalmente
(35,3%) ou parcialmente (23,2%) com a frase "Se as mulheres soubessem
como se comportar, haveria menos estupros". Segundo o levantamento,
37,9% discordam totalmente (30,3%) ou parcialmente (7,6%) da afirmação –
3,6% se dizem neutros em relação à questão.
A cantora e compositora paraibana, Socorro Lira, uma das vencedoras do
Prêmio da Música Brasileira em 2013, divulgou na manhã de segunda-feira
(31) uma foto seminua em sua página oficial, mas a postagem foi
bloqueada pela rede social. “A quem possa interessar: meu corpo é meu e
nem tente”, justificou, dizendo que se mantém firma na campanha.
A foto da cantora Socorro Lira com seios a mostra
foi retirada do ar pela rede social
Socorro Lira acredita que desde 2013 o brasileiro começou a assumir os
seus preconceitos. “O Brasil começou a colocar os seus demônios para
fora. Este é um momento único. De repente as pessoas estão assumindo os
seus preconceitos. Não havia direita, nem esquerda. Não existiam os
preconceitos. Agora as pessoas estão assumindo esse lado perverso”,
frisou.
A artista afirmou que a foto é uma forma de discutir a violência sexual
que tem acontecido em todo o Brasil, tanto no Sertão paraibano, onde
nasceu, até nos metrôs de São Paulo. A violência nos metrôs de São Paulo
a gente sempre soube que existia, mas não sabíamos que tinha essa
proporção de ser uma prática pensada e organizada de assédio e violência
sexual nos transportes públicos de São Paulo, que não é muito diferente
das violências que acometem as mulheres no Sertão da Paraíba ou no Sudão”, afirmou.
A cantora e compositora enfatizou que é preciso desmistificar a imagem
sobre o corpo feminino mesmo após tantos avanços conquistados pelos
movimentos feministas. “São mais de dois mil anos de Cristianismo. Este é
o momento em que precisamos superar a visão equivocada com essa
demonização sobre o corpo da mulher. Isso é uma herança das antigas e
novas religiões. Todo esse peso desses conceitos nos maltratam e
reforçam as agressões. E é preciso dizer um basta a isso tudo”, afirmou.
Natural de Brejo do Cruz,
mesma cidade de Zé Ramalho, Socorro Lira lembrou que mostrar os seios
continua sendo encarado como algo vergonhoso e lembrou de uma de suas
idas à praia de Tambaba, no Conde
(PB), destinada ao naturismo. “ Fui à área opcional de Tambaba e fiz
topless mas ao entrar no bar fui obrigada a me vestir. No local havia
vários homens sem camisa. Impressiona como os seios de uma mulher à
mostra incomoda”, lamentou.
Mira Maya: 'um absurdo em pleno século XXI'
(Foto: Mira Maya/arquivo pessoal)
Quem também aderiu à campanha foi a cantora Mira Maya, que mora em João
Pessoa e publicou sua foto na sexta-feira (28) declarando "Eu visto o
que eu quiser!" em seus próprio corpo. "Um absurdo em pleno século XXI
[os dados apresentados pela pesquisa]. Deixo aqui o meu mais profundo
repúdio!", declarou na postagem. Até terça-feira (1º), a postagem de
Mira tinha quase 260 curtidas.
Já a fotógrafa Sara Andrade, que mora em Patos, também aderiu na
segunda-feira à campanha e em 21 horas tinha 418 curtidas e 38
compartilhamentos na sua postagem. "Não me venham com falso moralismo, e
'mimimi'. A minha pouca [ou muita] roupa, ou a falta dela, não
justifica seu crime", disse na legenda da foto.
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