Auditor de fraude no ISS diz que gastava R$ 10 mil com garotas de programa
Em entrevista na TV, Luis Alexandre Cardoso Magalhães revela também que construtoras procuravam auditores para integrar quadrilha
O auditor fiscal Luis Alexandre Cardoso
Magalhães, primeiro envolvido no caso da Máfia do Imposto sobre Serviços
(ISS) a aceitar a delação premiada, afirmou hoje que as construtoras
envolvidas no escândalo eram as responsáveis por procurar os auditores
acusados de integrar a quadrilha. Na mesma entrevista, concedida ao
programa Fantástico, da Rede Globo, Magalhães desconversou sobre o
envolvimento de políticos no esquema e revelou como gastava o dinheiro
que arrecadava com o esquema.
"Quem queria participar, procurava a gente. A construção
civil sabia quem ia ser o chefe do setor antes mesmo de ser nomeado",
revelou Magalhães, descartando a teoria de que as construtoras eram
"vítimas" de um sistema organizado pelos auditores. Além de Magalhães,
Carlos Augusto di Lallo Leite do Amaral, Eduardo Horle Barcellos e
Ronilson Bezerra Rodrigues, apontado como o chefe da quadrilha, também
têm seus nomes envolvidos no escândalo.
"Tinha obra que devia muito, então eles já sabiam como
funcionava e sugeriam participar daquela situação (esquema)",
complementou o auditor fiscal. Muitas vezes, segundo o auditor, as
construtoras pagavam apenas a metade do que deviam aos cofres públicos.
E, desse montante, apenas uma parte era recolhida como imposto. O valor
restante, caracterizado como propina, era dividido em quatro partes. Com
essa divisão, cada auditor chegava a receber entre R$ 30 mil e R$ 70
mil por semana.
As investigações apontam que, além de pagarem valores
inferiores aos estabelecidos, o esquema liderado por Rodrigues zerava
dívidas Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), ocultava reformas
de grandes empreendimentos do cálculo do tributo e até rebaixava o
padrão de construções de luxo para diminuir o valor venal do imóvel.
Estima-se que o rombo aos cofres do município tenha somado R$ 500
milhões em valor que teria deixado de ser arrecadado entre 2007 e 2012.
Perguntado sobre a participação de políticos no esquema e
o financiamento de campanhas, Magalhães desconversou. "Minha
participação era até o subsecretário. Não tinha contato no dia a dia com
o subsecretário para saber com quem ele se relacionava", disse
Magalhães em referência a Rodrigues, ex-subsecretário da receita
municipal.
Magalhães também reiterou informação dada ao Ministério
Público Estadual de que teria levado dinheiro ao prédio da prefeitura de
São Paulo, mas negou a existência de uma conta em seu nome em Miami,
nos Estados Unidos. Perguntado se estava arrependido de ter se envolvido
no esquema, o auditor afirmou que não sabia responder à pergunta. "A
ficha não caiu", disse.
Luxo
Na entrevista, o auditor fiscal afirmou que se tornou
compulsivo por sexo e que, por isso, chegou a gastar R$ 10 mil por noite
principalmente com a contratação de garotas de programa. Magalhães, que
possuía uma lancha, levou acompanhantes para passeios na embarcação e
também em um bimotor particular alugado.
Quando perguntado se devolveria a quantia recebida sob a
forma de propina, caso isso fosse possível, o auditor deixou claro qual
foi o destino da maior parte do dinheiro: "Não teria como. Só se eu
bater na porta de um monte de moça para tentar devolver."
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