Como o medo funciona
Considerado um fator decisivo na história da evolução humana, o medo tem gatilhos psicológicos e função protetora, mas pode se tornar mais grave e exigir tratamento
O gatilho do medo é tão intensamente
ligado a fatores psicológicos e evolutivos, muitas vezes em detrimento
de motivos racionais, que os medos mais comuns não têm nada a ver com as
maiores causas de morte mundiais hoje em dia.
Não existe uma
lista oficial, mas levantamentos apontam quase as mesmas causas para os
medos mais comuns: animais (aranhas, cobras, tubarões, baratas ou
cachorros), água, altura, trovões e relâmpagos, avião, sangue, lugares
fechados, falar em público e escuro (na infância).
No entanto, de
acordo com um ranking divulgado pela Organização Mundial da Saúde em
2011, as causas de morte mais comuns são: infarto (doença isquêmica do
coração), derrame, infecções respiratórias, doenças pulmonares crônicas
obstrutivas, doenças gastrointestinais, AIDS, câncer na traqueia, nos
brônquios ou nos pulmões, diabetes, acidente de carro e problemas em
decorrência da prematuridade.
Estado de alerta
A
resposta fisiológica ao medo é uma herança antiga. O estado de alerta
era fundamental para que os homens pré-históricos evitassem ataques
inesperados de animais selvagens que quisessem devorá-los. É na tensão,
então, que o coração bate mais rápido, distribuindo sangue para cérebro e
músculos, e os vasos sanguíneos periféricos se contraem para que o
sangramento seja menor em caso de machucados. A pupila se dilata e a
respiração entra em um ritmo mais intenso. Tudo isso para que estejamos
preparados para lutar ou fugir, o que significa que o medo tem sua
função e foi um atributo selecionado na evolução das espécies.
De
acordo com Patricia Picon, psiquiatra do Hospital São Lucas da PUC
(Pontifícia Universidade Católica) do Rio Grande do Sul, os medos são
protetores desde que apropriados. “É normal se sentir assustado ao andar
em uma rua escura no meio da noite, já que o medo também é adaptado às
circunstâncias. Mas se existe pavor em andar na rua durante o dia,
quando ela está iluminada e tem a presença de outras pessoas, o caso
deve ser analisado porque aparentemente não existe nenhuma situação de
risco”, diz.
Fobia x medo
Quando
esse medo – geralmente social ou de um objeto, situação, lugar ou
animal específicos – se transforma em um empecilho para a funcionalidade
da vida, pode-se considerá-lo uma fobia. Se alguém evita elevadores de
todas as maneiras e se vê forçado a enfrentar um, há possibilidades de
uma crise do pânico – que é uma das consequências da fobia, mas não é
necessariamente decorrente dela. Taquicardia, sudorese, tremor, tontura,
náusea, falta de ar, perda de autocontrole e sensação de que vai morrer
ou enlouquecer são alguns dos sintomas.
Não se sabe com precisão a origem da fobia, mas pode
ser que venha de uma predisposição genética ou familiar – quando os pais
sempre ensinaram a rejeitar algo. Ou decorrente de algum acidente, como
é o caso das pessoas que passam anos sem ingerir nada sólido após quase
morrerem ao se engasgar com um alimento.
O tratamento mais comum
nesses casos é a psicologia cognitiva-comportamental, em que o paciente é
exposto progressivamente ao obstáculo. Em um primeiro momento, ele deve
falar sobre o elevador, até conseguir ficar na frente de um, chamá-lo,
entrar acompanhado, andar sozinho por poucos andares e, então, até o
20º. Aos poucos e com muita calma, é possível eliminar o medo. “Todo o
processo precisa ser orientado por um profissional especializado de
forma sistemática e programada, jamais sozinho ou com algum amigo que
pretende ajudar. Se não for feito do jeito correto, o quadro pode
piorar”, reforça Corchs. Há, porém, outros procedimentos para tratar das
fobias, dependendo do tipo do problema e sua gravidade. Vale procurar
um profissional.
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