“Theófanes Venard amava muito sua família; e eu também amo muito minha
familiazinha. Não compreendo os santos que não amam sua família…”
(CA 21/26.5.1)
“… O Bom Deus me deu um pai e uma mãe mais dignos do céu do que
da terra”
(Ct 261)
Todos os que conhecem a vida de Santa Teresinha sabem do amor extremado que
a unia a seus pais. Órfã de mãe muito cedo, é natural que seu apego à figura
paterna tenha se exacerbado. Louis Martin era o seu “Rei”. Teresa
era, sem dúvida, a filha predileta, a “Rainhazinha” do Sr. Martin.
Luís José Aloísio Estanislau Martin, o pai, nasceu em Bordeaux, França, aos
22 de agosto de 1823.
Nesse dia, seu pai, militar, estava ausente, numa expedição na Espanha.
Devido ao trabalho do pai, Luís passou a infância em vários lugares:
Avignon, Estrasbourg e, finalmente, Alençon, onde fixou residência a partir
de 1830.
Calmo, piedoso, dado à contemplação, Luís desejou abraçar a vida monacal.
Para tanto, visitou o Mosteiro do Monte São Bernardo, em 1843. Porque não
conhecia o latim, não foi aceito à Ordem Cisterciense. Voltando a Alençon,
abriu uma relojoaria, em 1850.
Zélia, mãe de nossa santa, chamava-se Azélia Maria Guérin. Nasceu aos 23
de dezembro de 1831, em Gandelain, França. Quando jovem, sonhou e chegou mesmo
a ingressar na Ordem das Visitandinas, mas a Superiora logo descobriu que
Zélia não era possuía vocação religiosa. Este sonho permanecerá em sua cabeça.
Em 1844, mudou-se para Alençon, onde estudou com as Damas da Adoração e aprendeu
a profissão de rendeira, especializando-se na famosa renda de Alençon. Começou
a fabricar a renda para uma casa de Paris. Por volta de 1863 começou a trabalhar
por conta própria, quando abriu uma pequena empresa.
Zélia Guérin e Luís Martin casaram-se em Alençon em 13 de julho de 1858.
Pretendiam viver como irmãos.
Convencidos por um confessor, decidiram ter filhos e os tiveram em
número de nove: sete meninas e dois meninos.
Zélia fez por eles a seguinte oração: ” Senhor, dá-me
muitos filhos, e que eles sejam todos consagrados a ti”. A oração foi
integralmente atendida.
Nada há de extraordinário na vida deste casal cristão.
Vida simples, decididamente voltada para Deus que está no centro
de tudo: missa diária, devoção ao Sagrado Coração de Jesus, participação
em alguns movimentos da Igreja, solidariedade e caridade para com os menos
afortunados.
Luís e Zélia amam-se muito.
Durante uma viagem, ela escreve: “Estou ansiosa para
estar perto de ti, meu querido Luís… Eu te amo de todo meu coração e
ainda agora sinto redobrar minha afeição pela privação de tua presença”.
Eles se completam harmoniosamente, tomam juntos as decisões importantes referentes
ao casamento e ao trabalho. São generosos com os pobres e os infelizes.
Ambos desejam ser santos e vivem com fidelidade suas obrigações de estado,
exercendo seu trabalho e dando o melhor de si para a educação de seus filhos.
Se se pensa em beatificá-los como casal é porque a heroicidade de suas virtudes
foi reconhecida em ambos. O Papa João Paulo II já reconheceu oficialmente
essa heroicidade.
Esta santidade foi particularmente manifestada através das provações. O casal
Martin vive o abandono à Providência, principalmente quando a conjuntura econômica
não favorecia os negócios. E, embora, no geral, tenham vivido em boa situação
financeira, jamais se deixaram envaidecer por isso. Zélia, em uma de suas
cartas, afirma que “a prosperidade constante afasta de Deus”.
Eles experimentaram a provação de perderem dois filhos e duas filhas ainda
criancinha. Zélia se angustiará com estes episódios, mas encontrará seu consolo
na oração. Desde 1864, começará a sentir os sintomas do câncer de mama que
a levará em 1877. Assumirá com coragem sua enfermidade e se dedicará aos filhos
e ao trabalho até o fim.
Ela fala em viver simplesmente o instante presente, que é onde Deus
se revela, dando-nos uma lição de confiança: “Eu me resigno
a todos os acontecimentos adversos que me vêm ou que me podem vir.
Eu penso: foi Deus quem quis assim! E não penso mais nisso!”.
Dez dias antes de morrer ela escreve a seu irmão: “Que
vocês querem, se a Santa Virgem não me cura… É que meu tempo chegou e
o Bom Deus quer que eu repouse em outro lugar e não sobre a terra”. Zélia
morre com 46 anos em 28 de agosto de 1877. Teresa tem quatro anos e meio.
Após a morte de Zélia, Luís se muda para Lisieux, atendendo ao convite de
seu cunhado Isidore Guérin, instalando-se com as cinco filhas na casa Buissonnets.
Assiste feliz ao ingresso de todas as suas filhas na vida religiosa. Ele tem
consciência de todas as graças que recebeu do Senhor.
Um dia revela às filhas que costuma fazer a seguinte oração:
“Senhor, é demais! Sim, sou muito feliz. Mas não é possível ir ao céu
desta maneira.
É preciso que eu sofra um pouco por vós”. E ele se oferece. Pouco tempo
depois ele experimenta a terrível humilhação da doença mental, conseqüência
de uma arteriosclerose. É internado em Caen, no hospital Bom Salvador, onde
se tratam os loucos. Grande provação para ele e para suas filhas.
Teresinha, a respeito dessa enfermidade, escreverá: “Os
três anos do martírio de meu pai pareceram-me os mais amáveis, os mais frutuosos
de toda nossa vida. Eu não os trocaria por todos os êxtases e as revelações
dos santos”.
Se um dia Luís e Zélia Martin forem beatificados, não será porque foram pais
de uma santa. Será porque eles foram cristãos normais, vivendo no mundo. Seu
exemplo mostra que a santidade não é um ideal inacessível, mesmo para pessoas
casadas, tendo obrigações e responsabilidade de família, engajadas em trabalhos
comerciais, etc.
Ao cumprir quotidianamente seu dever de estado, eles acolheram simplesmente
a vontade de Deus para eles. Não há, nesta simplicidade, como que uma amostra
grátis da “pequena via” descoberta por sua filha?
Fonte: reporterdecristo.com
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