MARIANA VERSOLATO
EDITORA-ASSISTENTE DE "CIÊNCIA+SAÚDE"
EDITORA-ASSISTENTE DE "CIÊNCIA+SAÚDE"
Sim, o tema ainda é tabu --tanto para médicos como para pacientes.
Estudos já mostraram que os cardiologistas reconhecem a importância e
necessidade de falar a respeito, mas muitos não sabem que conselhos dar
ou se sentem constrangidos.
A vergonha também pode tomar conta de pacientes e seus parceiros, que
nessas situações costumam ter uma lista de medos e ansiedade. com
potencial de causar impactos negativos nos relacionamentos.
Uma das principais preocupações é sobre um eventual infarto durante o ato sexual -coisa rara, que só acontece em 0,9% dos casos.
É o tipo de informação que poderia ser repassada aos pacientes para
tranquilizá-los, segundo as diretrizes baseadas em evidências publicadas
recentemente na revista "Circulation" pela Associação Americana do
Coração e pelo Conselho de Enfermagem Cardiovascular e Profissões
Aliadas da Sociedade Europeia de Cardiologia.
"Por incrível que pareça, no século 21 esse é um tema difícil de
abordar", diz Abrão Cury Jr, supervisor de clínica médica do HCor
(Hospital do Coração). "A publicação tira o assunto da penumbra. Tem
médico que não sabe se fala sobre sexo com o paciente, mas o manual
incentiva e facilita essa abordagem."
Segundo o manual, é o próprio profissional que deve tomar a dianteira.
"Se o médico toca no assunto, facilita muito porque ele abre um canal de
comunicação. Claro que isso também pode gerar um constrangimento, mas o
médico deve sempre perguntar se o paciente tem dúvidas, dizer quando a
atividade sexual poderá ser feita. Todos querem saber, mas poucos
questionam", diz Carlos Costa Magalhães, presidente da Socesp (Sociedade
de Cardiologia do Estado de São Paulo).
Quando o bancário aposentado Edson Saraiva, 63, teve um infarto e
precisou colocar três pontes de safena aos 39 anos, foi dele a
iniciativa de falar sobre sexo.
"No início, nem pensava no assunto, mas, passado o perigo, queria
retomar a vida de antes e perguntei se podia. Depois de uma cirurgia
dessa a gente fica com medo de tudo e, se o médico não disser que pode,
não vai fazer."
No primeiro retorno, um mês depois, ouviu do médico que estava liberado,
mas que no começo precisaria fazer menos esforço físico e ser mais
passivo.
Isso significa ficar em posições confortáveis que requerem menor gasto
de energia, de preferência com a pessoa que sofreu o problema cardíaco
deitada.
O documento da Associação Americana do Coração também recomenda que os
casais avancem aos poucos, começando por beijos e carícias, para que o
paciente vá ganhando confiança e perca o medo. Sexo em lugares
familiares com o parceiro usual também gera menos estresse para o
coração.
Outra preocupação é em relação aos remédios prescritos para pacientes
cardíacos. Alguns deles, como os betabloqueadores e diuréticos, podem
causar perda de libido e disfunção sexual, e o ideal é conversar com o
médico a respeito para que ele considere trocar a classe das drogas ou
reduzir as doses.
Já os remédios para disfunção erétil são contraindicados para os homens que tomam drogas vasodilatadoras à base de nitrato.
As recomendações, é claro, devem ser individualizadas e dependem das
condições clínicas de cada paciente. E, se o médico não falar no retorno
à vida sexual, o paciente deve tocar no assunto e também relatar
quaisquer sintomas que possam aparecer durante a relação sexual.
"A pessoa não pode sair do consultório com dúvidas. E o médico tem que
mostrar que existe, sim, vida sexual após um infarto. Do que adianta
manter o paciente vivo sem qualidade de vida?", questiona Carlos Alberto
Machado, diretor da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
| Lydia Megumi/Editoria de Arte/Folhapress | ||
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