Brasileiros criam coração artificial
O
primeiro coração artificial totalmente implantável em desenvolvimento
no Brasil está pronto para ser testado em humanos. Além disso, os
pesquisadores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
(Poli-USP) e do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, responsáveis
pelo projeto,
estão trabalhando no desenvolvimento de uma bomba cardíaca também
totalmente implantável e que permite maior tempo e qualidade de vida a
pacientes na fila de espera por transplante.
Segundo o professor José Roberto Cardoso, diretor
da Poli e coordenador da pesquisa, a bomba, cientificamente chamada de
dispositivo de assistência ventricular, ainda precisa passar por mais
testes em animais, antes de chegar à fase de testes clínicos, com
humanos. "Nossos próximos passos é fazer o teste em animais, mas dessa
vez com o dispositivo totalmente implantado, e reduzir seu tamanho o
máximo possível", conta.
Já o projeto do coração
artificial implantável, iniciado pelo Dante Pazzanese no ano 2000, está
mais adiantado. "Já tivemos o pedido para testes clínicos na ANVISA
[Agência Nacional de Vigilância Sanitária] aprovado, e estamos
trabalhando na seleção dos pacientes", afirma Aron José Pazin de
Andrade, diretor do Centro de Engenharia em Assistência Circulatória do
Instituto Dante Pazzanese. Os médicos Andrade e Jarbas Dinkhuysen,
também do Dante Pazzanese, são os pesquisadores principais do projeto.
Coube aos pesquisadores da
Poli desenvolver a solução para a recarga das baterias dos dispositivos.
Esse foi um grande desafio, já que o objetivo é ter dispositivos
totalmente implantáveis, sem fios e conexões atravessando a pele dos
pacientes. A Poli desenvolveu um sistema em que o carregamento é feito
pelo contato de uma bobina no exterior do corpo com uma outra ligada ao
dispositivo implantado. A energia elétrica é transmitida através da pele
por indução. A equipe da Poli também trabalhou no desenvolvimento do
sistema de controle eletrônico.
O coração artificial pode
ser implantado como um anexo ou pode substituir o coração natural do
paciente. É formado por duas câmeras de bombeamento e quatro válvulas.
"Começamos esse desenvolvimento em 2000, mas com a entrada da Poli e o
apoio da FAPESP, conseguimos avançar mais, de forma a chegar na fase de
teste clínico", afirma Andrade. A meta é fazer testes com 10 pacientes.
Já a bomba serve
apenas como auxiliar ao coração. Não pode substituir o órgão, como
ocorre com o coração artificial, mas sim ajuda o coração a bombear o
sangue. Há vários tipos de equipamentos que fazem isso, mas que não são
implantáveis. "Já existem equipamentos como esse em outros países, mas é
muito cara sua importação. Nossa proposta é desenvolver uma tecnologia
nacional que tenha um custo bem menor", explica Cardoso. Um dispositivo
importado pode facilmente ultrapassar o valor de R$ 200 mil. A equipe
pretende desenvolver um que custe algo em torno de R$ 10 mil, o que
viabilizaria a compra pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
A vantagem
da bomba é que não há partes expostas do dispositivo, o que reduz as
chances de o paciente contrair uma infecção. Além da bomba, o
dispositivo tem um pequeno motor, que a faz girar, uma bateria
recarregável para alimentar o motor e um controle eletrônico de
velocidade. Diferente do coração artificial, esta bomba não possui
válvulas cardíacas, daí não poder substituir o coração natural.
Assim como ocorre com o
coração artificial implantável, para reabastecê-la de energia não é
preciso acoplar nenhum fio: tudo é feito pelo contato entre as bobinas.
"O doutor Adib Jatene, do Hospital do Coração, nos ajudou na concepção
da bomba, pensando em sua geometria e no tipo da bomba", conta Cardoso,
falando da participação de um dos mais famosos cardiologistas do País.
"Agora vamos realizar o
teste em animais fazendo o implante total, algo que não fizemos na
primeira etapa", comenta ele. Os pesquisadores testaram o dispositivo em
um bezerro, mas não o implantaram totalmente no animal. "Precisávamos
ver se toda a eletrônica ia funcionar, se o motor ia operar
adequadamente, se não ia se aquecer", diz. Também vão estudar uma forma
de reduzir o tamanho do dispositivo. "Como ele é implantado dentro do
tórax ou do abdômen, pode comprimir órgãos como o diafragma, pulmão e
até o próprio coração, daí quanto menor for, melhor", acrescenta
Andrade.
Um importante diferencial da
tecnologia desenvolvida no Brasil em relação a outros está no tipo de
bomba utilizado. Os pesquisadores optaram por usar uma bomba centrífuga,
em que o sangue entra pelo centro do cilindro, e passa pela lateral.
Nas bombas do tipo axial, o sangue entra por um lado de um tubo e sai
pelo outro. "A movimentação da bomba pode agredir o sangue, destruindo
glóbulos, causando coágulos que podem levar a uma trombose e matar o
paciente", explica Cardoso. O mecanismo centrífugo desenvolvido no
Brasil opera em velocidades mais baixas - duas mil rotações por minuto -
enquanto as bombas axiais operam em 8 mil rotações, em média.
"É possível encontrar, no
mercado dos Estados Unidos, por exemplo, seis tipos diferentes de bomba.
Com nossas pesquisas, queremos fornecer uma gama de dispositivos para
atender um grande número de necessidade de pacientes e médicos
brasileiros", finaliza Andrade.

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