O que você gostaria de perguntar para elas e não sabia como? (Parte 2)
Depois de conversar com Milly Lacombe e Laura Bacellar, Blogay ainda fez algumas perguntas para outras lésbicas sobre o universo que cercam a lesbianidade, clichês e preconceitos
Suzy Capó, 52, jornalista, produtora cultural, curadora de festivais de cinema
Blogay – Você acha que a imagem lésbica ligada à MPB e sinuca
é um clichê ou um símbolo. Ele pode representar as lésbicas ou é
limitador?
Quero acreditar que a imagem lésbica ligada à MPB é hoje mais um
símbolo, não um clichê. E depende de quem vai usar a imagem. Pode ser
uma forma bem-humorada de representar as lésbicas ou hiper-limitado já
que obviamente esse segmento da sociedade é tão diverso quanto qualquer
outro. É como a imagem dos homens gays de couro e bigode. É limitador?
É, mas pode ser engraçado. Quando penso nessa imagem (da lésbica ouvindo
MPB e jogando sinuca), penso num cartoon.
Como está hoje a cinematografia com temática lésbica? O que indica para assistir?
A cinematografia lésbica vai bem, obrigada. Não há tantos filmes de
qualidade por aí, mas tem coisas excepcionais como “A Vida de Adèle”, de
Abdellatif Kechiche, que ganhou a Palma de Ouro este ano no Festival de
Cannes. Já aproveitando o espaço, a Mostra Gay do Festival do Rio este
ano vai apresentar 3 ótimos filmes com temática lésbica:
- “Dual”, de Nejc Gazvoda, que é uma espécie de Antes do Anoitecer lésbico, situado na Europa Oriental;
-”Concussion”, de Stacie Passon, que derruba aqueles clichês sexuais
relacionados às lésbicas, além de ser superdivertido (derrubando também
aquela equivocadíssima ideia de que lésbicas não tem humor);
- “She Said Boom: the Story of Fifth Column”, de Kevin Hegge, que
conta a história de uma banda post-punk canadense, formada só por
mulheres. Aliás, a imagem da lésbica roqueira é símbolo ou clichê?
Hahaha
São todos filmes muito bons. Mas, veja você, são poucos num programa
com 12 filmes, né? E, claro, para assistir já, tem “Flores Raras”, do
Bruno Barreto.
Algumas lésbicas se vestem como homens, desde antes mesmo da
escritora inglesa Radclyffe Hall no começo do século 20. Existe uma
confusão entre lesbianidade e transgênero dentro do próprio mundo
lésbico? Ou não?
Acho que essa questão de se vestir de homem não é exatamente uma
confusão. Quer dizer, pode até ser uma confusão, mas frequentemente a
confusão está nos olhos de quem vê, não de quem está sendo visto. Muitas
mulheres se vestiram como homens para transitar num espaço em que elas
não poderiam transitar de outro modo. Na Inglaterra hoje, uma mulher que
se veste de homem está fazendo isso por motivos bem diferentes daqueles
que levaram Radclyffe Hall a se vestir com trajes masculinos. Pode ser
simplesmente um jogo, “role playing”. Ou pode ser que ela seja ele, e é
simplesmente isso que ele está querendo afirmar.
Ivone Pita, 43, professora e militante LGBT
Blogay – Qual o ponto nevrálgico que une as lésbicas às feministas?
Nossa mentalidade ainda muito patriarcal oprime todas as pessoas, mas
com muito mais violência as mulheres. É no enfrentamento a esta
violência estrutural que vários grupos de mulheres se unem. Nos
movimentos feministas é que mulheres heterossexuais, homossexuais,
bissexuais, cis ou trans, estabelecem seus laços de força contra o
sexismo, o machismo e a misoginia. No entanto, desde sempre e ainda
hoje, muitas pessoas ainda associam pessoas lésbicas ao que se
convencionou chamar de masculinidade e, assim, por extensão, associam
lésbicas com o machismo, o que, naturalmente, levaria feministas a
rejeitarem lésbicas. A boa notícia é que isso hoje em dia parece ser
muito raro.
Algumas lésbicas se vestem como homens e em muitas vezes
mimetizam/imitam o homem machista, desde antes mesmo da escritora
inglesa Radclyffe Hall. Ao se identificarem com o machão, diferente dos
gays que se identificam com a mulher – o sexo oprimido, estaria aí –
além de uma representação dualista heteronormativa – um identificação
com o machismo? Seria isto? Ou não?
![]() |
| A poetisa grega Safo (Reprodução |
Qual é a maior violência que as lésbicas sofrem? E qual o direito mais urgente que ainda falta ser conquistado por elas?
Uma forma de violência é a negação de nossos direitos: de casar, de
adotar, de sermos protegidas por lei da violência homofóbica física e
verbal. E não há como lista-los hierarquicamente, pois somos tantas com
anseios e necessidades tão diferentes e, afinal, são direitos de
qualquer outro cidadão que nos estão sendo usurpados, portanto, queremos
direitos que são nossos. Queremos todos!


Nenhum comentário:
Postar um comentário