segunda-feira, 21 de julho de 2025

Saiba o que é a Lei Global Magnitsky

CRISE BRASIL/ESTADOS UNIDOS: O que é a Lei Global Magnitsky, que Marco Rubio ameaça usar contra o ministro do STF Alexandre de Moraes

Em maio, secretário de Estado dos Estados Unidos afirmou que o governo americano estaria analisando a possibilidade de aplicar sanções contra o ministro do STF com base nessa legislação.


Eduardo Bolsonaro tem se reunido com parlamentares republicanos em Washington, como Cory Mills -  (crédito: Reprodução/X)
Eduardo Bolsonaro tem se reunido com parlamentares republicanos em Washington, como Cory Mills - (crédito: Reprodução/X) - X

O secretário de Estado do EUA, Marco Rubio, anunciou na última sexta-feira (18/07) a revogação do visto americano do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

De acordo com postagem de Rubio no X, além do visto de Moraes, foi solicitada a revogação da permissão para os familiares do ministro e seus "aliados" — sem detalhar quem são esses.

"A caça às bruxas política do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, contra Jair Bolsonaro criou um complexo de perseguição e censura tão abrangente que não só viola direitos básicos dos brasileiros, mas também se estende além das fronteiras do Brasil e atinge os americanos", argumentou Rubio.

No sábado (19/07), o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que a medida do governo americano contra Moraes é uma forma de "intimidação".

Meses antes da revogação do visto de Moraes, Rubio disse que os EUA estudavam a possibilidade de aplicar sanções contra o magistrado com base na Lei Global Magnitsky.

A lei permite punições a autoridades estrangeiras acusadas de corrupção ou graves violações de direitos humanos.

"Isso está sob análise neste momento, e há uma grande possibilidade de que isso aconteça", disse Rubio em maio ao ser questionado pelo deputado republicano Cory Mills, da Flórida, sobre o tema.

Nas medidas contra Moraes anunciadas na última sexta (18/7), Rubio não mencionou a Lei Magnitsky.

O deputado republicano Cory Mills tem articulado com o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro que está morando nos EUA.

O republicano já afirmou em uma audiência no Capitólio que o Brasil vive um "alarmante declínio dos direitos humanos", citando supostos episódios de "censura generalizada" e "perseguição política contra a oposição, jornalistas e cidadãos comuns".

Ele também se referiu a uma "iminente prisão política do ex-presidente Bolsonaro" e alegou, sem apresentar provas, que a repressão se estenderia a pessoas vivendo nos EUA.

Caso o governo americano de fato sancione Moraes com base na Lei Magnitsky, seus bens e contas nos Estados Unidos poderão ser congelados. Fora do território americano, os efeitos dependeriam da adesão de instituições financeiras e governos estrangeiros às medidas.

Eduardo Bolsonaro e Cory Mills
Eduardo Bolsonaro tem se reunido com parlamentares republicanos em Washington, como Cory Mills - Reprodução/X

O que é a Lei Global Magnitsky

Aprovada durante o governo de Barack Obama, em 2012, a Lei Magnitsky foi criada para punir autoridades russas envolvidas na morte do advogado Sergei Magnitsky, que denunciou um esquema de corrupção estatal e morreu sob custódia em Moscou.

Inicialmente voltada para os responsáveis por sua morte, a lei teve seu alcance ampliado em 2016, após uma emenda que permitiu a inclusão de qualquer pessoa acusada de corrupção ou de violações de direitos humanos na lista de sanções.

Desde então, a lei passou a ter aplicação global.

Em 2017, pela primeira vez a lei foi aplicada fora do contexto russo, durante o primeiro governo de Donald Trump.

Na ocasião, três latino-americanos foram alvo de sanções por corrupção e violações de direitos humanos: Roberto José Rivas Reyes, então presidente do Conselho Supremo Eleitoral da Nicarágua; Julio Antonio Juárez Ramírez, deputado da Guatemala; e Ángel Rondón Rijo, empresário da República Dominicana.

As punições incluem o bloqueio de bens e contas no país, além da proibição de entrada em território americano. Não há necessidade de processo judicial — as medidas podem ser adotadas por ato administrativo, com base em relatórios de organizações internacionais, imprensa ou testemunhos.

Segundo o texto da própria lei, são consideradas violações graves atos como execuções extrajudiciais, tortura, desaparecimentos forçados e prisões arbitrárias sistemáticas.

Também podem ser sancionados agentes públicos que impeçam o trabalho de jornalistas, defensores de direitos humanos ou pessoas que denunciem casos de corrupção.

A Lei Magnitsky já foi usada contra membros do judiciário de países como Rússia e autoridades de Turquia e Hong Kong, em casos de perseguição a opositores, julgamentos fraudulentos ou repressão institucionalizada.

Ofensiva contra Alexandre de Moraes e o STF

Alexandre de Moraes
Sanções norte-americanas a Moraes são uma das pautas mais defendidas por apoiadores de Bolsonaro - ANDRE BORGES/EPA-EFE/REX/Shutterstock

A movimentação em torno da Lei Magnitsky representa um esforço para internacionalizar o embate político entre bolsonaristas e o judiciário brasileiro.

Sanções americanas a Moraes são uma das pautas mais defendidas por Eduardo Bolsonaro e outros militantes de direita radicados nos Estados Unidos.

Eles afirmam que Moraes e outros integrantes do STF estariam conduzindo uma perseguição judicial contra Bolsonaro e contra outros políticos e militantes de direita.

No pano de fundo, está também a tensão entre o Judiciário brasileiro e as plataformas digitais.

Moraes foi alvo de críticas do ex-senador Rubio após ordenar o bloqueio do X (ex-Twitter) no Brasil, em agosto de 2024. À época, Rubio classificou a medida como uma "manobra para minar liberdades básicas".

No início de maio, o governo americano enviou um representante do Departamento de Estado ao Brasil pela primeira vez — o chefe interino da coordenação de sanções internacionais, David Gamble.

Desde que a vinda da comitiva norte-americana foi confirmada, surgiram rumores de que um dos assuntos seriam sanções a membros do STF como Moraes — relator de diversos processos que tramitam contra Bolsonaro e seus apoiadores na Corte, como os relacionados aos atos de 8 de janeiro de 2023.

Na postagem em que anunciou a ida da equipe do Departamento de Estado ao Brasil, Eduardo Bolsonaro fez uma menção ao ministro.

"Quando eu disse que a batata do Alexandre de Moraes estava esquentando aqui nos Estados Unidos, pode ter certeza de que está esquentando de verdade. Se Deus quiser, os violadores sistemáticos de direitos humanos [...] vão ser punidos", disse o parlamentar licenciado.

Em fevereiro, Moraes foi processado pessoalmente pela empresa de mídia de Trump, a Trump Media & Technology Group (TMTG), em conjunto com a rede Rumble, que havia sido bloqueada no Brasil por ordem de Moraes.

A ação, movida na Flórida, questionou o poder do ministro para tomar decisões sobre conteúdos postados na Rumble e sobre a monetização destes conteúdos.

O processo foi iniciado horas depois de a Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciar Jair Bolsonaro como suposto líder de uma organização criminosa que teria planejado a ruptura democrática do Brasil após as eleições de 2022.

Em outra frente, parlamentares republicanos lideram, na Câmara dos Representantes dos EUA (equivalente à Câmara dos Deputados, no Brasil) um projeto batizado de "No Censors on our Shores Act" ("Lei Sem Censores dentro de nossas Fronteiras", em tradução livre).

O projeto prevê a deportação ou a proibição de entrada em território americano de autoridades estrangeiras que tenham infringido a Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos, que trata da liberdade de expressão.

Correio Braziliense

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