Advogado Frederick Wasseff, o “anjo” da família Bolsonaro que sabia onde estava Fabrício Queiroz – Por Regiane Oliveira
Discreto.
Ótimo advogado (mas de bastidores). Temente a Deus. É assim que o
criminalista do clã Bolsonaro, Frederick Wasseff, é definido por
diversos de seus pares, que conversaram com o EL PAÍS na condição de
manterem o anonimato. Wasseff já tinha um histórico de controvérsias
antes mesmo de ganhar os holofotes por ter dado abrigo a Fabrício
Queiroz, suspeito de ser o responsável por um suposto esquema de
“rachadinha” do gabinete do então deputado estadual, Flávio Bolsonaro.
Queiroz
foi preso na manhã desta quinta-feira na Operação Anjo, em um imóvel de
Wasseff em Atibaia, do interior de São Paulo — curiosamente, cidade
também famosa pelo caso do sítio que condenou o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva à prisão no âmbito da Lava Jato. A operação teria
sido batizada de “Anjo” em referência ao apelido do advogado dos
Bolsonaro. O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPF-RJ), no entanto,
não confirma a informação, pois o inquérito está em sigilo. A OAB (Ordem
dos Advogados do Brasil).
Sabe-se
que Wasseff é admirador dos Bolsonaro, mas as informações de como ele
conheceu a família são nebulosas. Há quem defenda que o criminalista
tomou a iniciativa de se aproximar dos políticos antes mesmo das
eleições de 2018, motivado por valores comuns com o então candidato,
como a defesa da família, dos armamentos e da religião. Outros afirmam
que a relação é mais antiga, e começou como uma amizade entre famílias
em 2014, que passou a uma oportunidade de negócios. Conforme reportagem
do jornal O Globo, em 2016, ele teria participado, juntamente com sua
então mulher, a empresária Maria Cristina Boner Leo, da elaboração do
projeto assinado por Jair e Eduardo Bolsonaro para liberar a chamada
“pílula do câncer” (fosfoetanolamina).
Maria Cristina Boner Leo é
um capítulo à parte na trajetória de Wasseff. Em 2009, ela foi
denunciada no âmbito da Operação Caixa de Pandora ― que investigou
políticos de Brasília incluindo o então governador José Roberto
Arruda ―, pela prática dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
Antes disso, ela viveu uma separação conturbada com seu ex-marido, o
empresário Antonio Bruno Di Giovani Basso, na disputa por patrimônio.
Wasseff é um inimigo declarado de Basso, que chegou a ser preso e
acusado de fazer ameaças à ex-mulher, o que o empresário sempre negou.
Maria Cristina e Wasseff estão separados há cerca de três anos.
Paralelamente
aos conflitos familiares, Wasseff foi galgando os degraus do poder em
Brasília, ora como conselheiro ora como advogado do clã. Representou o
presidente no caso Adélio Bispo, responsável pelo atentado a faca contra
Bolsonaro, às vésperas das eleições presidenciais de 2018. Também
representa o senador Flávio Bolsonaro na investigação do suposto esquema
de “rachadinha” no caso Queiroz. “Estou no dia a dia aqui com o
presidente e com a família Bolsonaro. Eu conheço tudo que tramita na
família Bolsonaro”, afirmou Wassaf à rádio GaúchaZH.
Chegou
a dizer, ainda, durante um programa da Globonews, em setembro de 2019,
que não sabia do paradeiro de Queiroz. “Não sei. Não sou advogado dele”,
disse. No entanto, ele não só sabia do paradeiro ― já que caseiros
revelaram à polícia que Queiroz estaria há cerca de um ano na casa do
advogado ―, como também sabia do interesse da polícia em encontrar o
ex-policial. Em dezembro do ano passado, durante investigação de que
Flávio Bolsonaro teria adquirido uma franquia da rede Kopenhagen na
Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, com alguma fração do dinheiro
desviado pela “rachadinha”, a Justiça autorizou buscas e apreensões em
endereços relacionados a Queiroz e sua esposa. Eles não foram
encontrados. E como não havia mandado de prisão contra o ex-policial à
época, tecnicamente, Queiroz não estava foragido, apenas em endereço
desconhecido.
A Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo (OAB
SP), que acompanhou a diligência realizada na madrugada a um imóvel onde
seria o escritório de Wasseff em Atibaia, informou em comunicado que
“eventual falta ética ou infrações, se existente” por parte do advogado
proprietário do imóvel onde estava Queiroz será apreciada pelo Tribunal
de Ética e Disciplina da entidade. No local da busca, até havia placas
indicando que seria um escritório de advocacia, mas era apenas fachada.
Outros detalhes também chamaram atenção na casa de Wasseff: em cima de
uma lareira, havia um cartaz com a inscrição AI-5, decreto que
institucionalizou a repressão política e o terror promovido pelo Estado
durante a ditadura militar (1964-1985), e estátuas de Scarface, o famoso
chefão da droga interpretado por Al Pacino no filme de Brian de Palma.
Wasseff
também foi procurado pela reportagem, sem sucesso. Também tentamos
falar com o novo advogado de Queiroz, Paulo Emílio Catta Pretta —que
também era advogado de Adriano Nóbrega, apontado como chefe do braço
armado da milícia Escritório do Crime, que foi morto em fevereiro na
Bahia. Ele também não retornou nossa solicitação.
Essa
não é a primeira vez que o nome de Wasseff ganha destaque em um
escândalo midiático. Em 1992, uma reportagem do Jornal do
Brasil afirmava que um pedido de prisão do advogado havia sido feito por
sua suposta ligação com uma seita considerada satanista, o Lineamento
Universal Superior (Lus), no episódio conhecido como as “bruxas de
Guaratuba” ou “caso Evandro”. Wasseff, no entanto, nunca foi acusado.
Fontes ligadas ao advogado dizem apenas que ele conhecia a líder da
suposta seita, Valentina de Andrade, e que gostou de seu livro Deus, a
grande farsa. Ela foi uma das acusadas do desaparecimento de dois
meninos da região, mas foi absolvida por falta de provas.
* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Polêmica Paraíba.
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