O cientista político Carlos Pereira, professor
da Fundação Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro, acredita que Lula mantém
popularidade porque fez um primeiro governo muito virtuoso. Nessa fase,
ele manteve políticas do antecessor Fernando Henrique Cardoso e foi
capaz de oferecer duas coisas que o brasileiro médio deseja:
estabilidade macroeconômica e inclusão social. “A resiliência de Lula
vem dessa imagem que o eleitor tem dele”, diz Carlos Pereira. Outros
analistas políticos entendem que Lula soube capitalizar o papel de
“vítima” da Operação Lava-Jato e que esse perfil teria se fortalecido,
ultimamente, com suspeitas levantadas sobre a imparcialidade do juiz
Sérgio Moro, atual ministro da Justiça de Bolsonaro, quando executor da
Lava-Jato.
O retorno de Lula ao cenário de embates políticos ainda
depende de um enorme caminho que precisa trilhar na Justiça para limpar
sua ficha. Lula foi encarcerado há mais de um ano, em Curitiba, para
cumprir uma pena de oito anos e dez meses de prisão. Além disso, é réu
em mais nove processos e investigado em outros inquéritos sob suspeita
de ser corrupto ou de ter praticado crimes como lavagem de dinheiro,
tráfico de influência e formação de organização criminosa. A expectativa
que anima Lula e os petistas é a de uma virada de posições no Supremo
Tribunal Federal. No último dia 17, a Corte voltou a se debruçar sobre a
questão da prisão após condenação em segunda instância no país.
Permitida desde 2016, em meio ao clamor da sociedade pelo endurecimento
contra os crimes de colarinho-branco, a medida deve cair, já que o
entendimento de alguns ministros sobre o tema modificou-se. O recuo
tiraria Lula de trás das grades, já que seu processo ainda não transitou
em julgado, mas não seria suficiente para sua pretensão política porque
ele ainda ficaria inelegível nos termos da Lei da Ficha Limpa. Pelo
mesmo motivo, Lula recusa-se a aceitar a progressão ao regime semiaberto
a que tem direito desde setembro por ter cumprido um sexto da pena e
ter tido bom comportamento.
O
ex-presidente demonstra que não tem pressa em sair da cela a que está
recolhido, mas intimamente exibe confiança ilimitada em que acabará
sendo favorecido. Do ponto de vista do enfrentamento eleitoral, caso
chegue a ser liberado para disputar, Lula terá de bater de frente com
Bolsonaro, que se lançou prematuramente à reeleição e continua sendo um
adversário duro de superar. Ele aparece numericamente à frente em quase
todos os cenários, no levantamento Veja/FSB. Igualmente, consegue manter
estáveis os índices de avaliação de seu governo. Interlocutores do
presidente chegam a opinar que seria até uma boa notícia a eventual
volta de Lula ao palco eleitoral, pois permitiria a Bolsonaro repetir o
discurso vitorioso que o levou ao poder: evocar o fantasma da vitória do
Partido dos Trabalhadores.
Fonte: Os Guedes - Publicado por: Ivyna Souto
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