Após ter pressentimento ruim, médico vítima de Covid-19 mandou áudio de despedida para o filho: “Fique bem, é a vida”
O
médico anestesista Diamir Gomes, 74, teve um pressentimento ruim na
quarta-feira (25/03). Estava havia alguns dias com sintomas de gripe, mas
percebeu uma piora acelerada na respiração. Mandou então um áudio por
WhatsApp para o filho Diego dizendo que ia para o hospital e que não
sabia se voltaria: “Fique bem, é a vida”. Foi o último contato do pai
antes de morrer por complicações decorrentes do novo coronavírus.
O Dr. Diamir
morreu na manhã de sexta-feira (27/03), em Santos, litoral de São Paulo.
Ele resistiu o quanto pode em se internar por medo de contrair o vírus.
Tinha sido dispensado há poucos dias de dar plantões no hospital onde
trabalhava em São Paulo por pertencer ao grupo de risco. Internado,
ainda tentou o tratamento com cloroquina, em vão.
A história da
família Gomes é marcada por perdas. Em 2001, morreu Iria, mulher de
Diamir, de câncer. Um ano e meio depois, uma brincadeira de adolescente
feita por Ana Carolina, irmã mais velha de Diego, acabou em tragédia.
Ela e a prima inventavam cremes, mas um deles, aplicado pela jovem no
rosto antes de dormir, resultou em reação alérgica fatal. Morreu aos 16
anos.
Diego, então com 14 anos, precisou aprender a ser mais próximo do pai. Acabaram virando grandes amigos.
As
pessoas próximas definem Diamir como um sujeito brincalhão, sempre de
bem com a vida e extremamente generoso. Certa vez, bancou uma cirurgia
do zelador de um prédio onde morava. Em outra, deu R$ 500 (cerca de dois
salários mínimos, à época) para outro porteiro, que estava com as
remunerações atrasadas do condomínio e enfrentando dificuldades. “Meu
pai tinha um coração maior do que tudo”, lembra Diego.
O
também estudante de medicina Marcelo Beser, 30, diz a mesma coisa.
Amigo da família há mais de 16 anos, ele foi criado como um sobrinho por
Diamir, segundo suas próprias palavras. “Sempre foi um cara que não
ligava para dinheiro. Levava todo mundo que o Diego quisesse para
viagens, restaurantes, não cobrava nada e nunca jogou na cara.”
Nascido
em Aquidauana, cidade pequena de Mato Grosso do Sul, Diamir saiu de lá
para estudar bioquímica e farmácia em Curitiba, onde trabalhou como
fiscal de táxi. Já como farmacêutico, rodou o Brasil. Com o sonho de ser
médico, mudou-se para o Rio de Janeiro e começou a dar aulas de
matemática e física em cursinhos para pagar o curso de medicina.
No
Rio de Janeiro, conheceu a enfermeira Iria, com quem se casou. Mudaram-se para São
Paulo para trabalhar, mas escolheram morar em Santos para criar os
filhos perto da praia. O médico subia e descia a serra todos os dias.
Diego
diz que não sabe como o pai contraiu a Covid-19. Se pudesse responder à
mensagem de áudio do pai, ele diria que fará tudo para dar orgulho “a
ele lá em cima”.
Fonte: Folha - Créditos: Polêmica Paraíba - Publicado por: Adriany Santos
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