Brasil cai 17 pontos no Índice de Percepção de Corrupção e passa a ocupar a 96ª colocação no ranking mundial
País se encontra na pior situação dos últimos cinco anos
© Ricardo Stuckert / Fotos Públicas
O Brasil apresentou queda de
17 posições no Índice de Percepção da Corrupção (IPC), o índice mais
utilizado no mundo. O país passou a ocupar a 96ª colocação no ranking
global, contra a posição de número 79 da pesquisa anterior. O índice
brasileiro declinou três pontos, de 40 para 37 numa escala que vai de 0 a
100, em que zero significa alta percepção de corrupção e 100, elevada
percepção de integridade. O índice foi divulgado nesta quarta-feira
(21), de forma simultânea em todo o mundo, pela Transparência
Internacional, principal organização dedicada à luta contra a corrupção
no mundo.
Com
a nota da pesquisa de 2017, o Brasil se encontra na pior situação dos
últimos cinco anos, “com a ressalva de que, apesar de o IPC existir
desde 1996, suas pontuações somente são comparáveis estatisticamente a
partir de 2012”, explicou a organização. Hoje, o país está empatado com a
Colômbia, Indonésia, o Panamá, Peru, a Tailândia e Zâmbia, e fica atrás
de países como o Timor Leste, Sri Lanka, Burkina Faso, Ruanda e Arábia
Saudita. No tocante à posição relativa no ranking, apenas a Libéria e o
Bahrein mostraram recuo maior que o do Brasil, de 32 e 33 posições,
respectivamente.
Desde 2014, o IPC brasileiro vem caindo. A nota
do país caiu seis pontos nesse período e sua posição saiu de 69º para
96º. O país também deteriorou sua posição relativa a outras nações em
desenvolvimento, como, por exemplo, o grupo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e
China), entres os quais figura agora à frente apenas da Rússia, que
alcançou 29 pontos.
Segundo a Transparência Internacional, a
trajetória de queda observada nos últimos anos pode ser explicada pelos
efeitos da Lava Jato e outras grandes operações que denotam um esforço
notável do país em enfrentar o problema. “Este efeito inicial de
agravamento da percepção de corrupção é comumente observado em países
que começam a confrontá-la de maneira eficaz, pois traz o problema à luz
em toda a sua dimensão. No entanto, se o país persiste neste
enfrentamento, o efeito negativo inicial começa a se reverter numa
percepção de maior controle da corrupção”, explicou a organização.
No
IPC do último ano, o resultado brasileiro demonstrou uma estabilidade
que parecia apontar para esse ponto de inflexão, encerrando sua
trajetória descendente e antecipando a entrada numa fase virtuosa, em
que o país começaria a colher os frutos de seu empenho. A interpretação
da Transparência Internacional do resultado do ano passado foi que o
país se encontrava em uma encruzilhada, de onde poderia perseverar no
caminho do enfrentamento da corrupção e alcançar novos patamares ou
deixar que as forças que buscam estancar este processo prevalecessem e
que o país permanecesse no caminho da corrupção e impunidade sistêmicas.
“O
resultado negativo deste ano acende o alerta de que a luta da sociedade
brasileira contra a corrupção pode, de fato, estar em risco”, avaliou a
Transparência Internacional.
Corrupção contínua
No
entendimento da Transparência Internacional, a piora no ranking se deve
à percepção de que os fatores estruturais da corrupção nacional seguem
inabalados, tendo em vista que o Brasil não foi capaz de fazer avançar
medidas para atacar de maneira sistêmica esse problema. “É fato que as
grandes operações de investigação e repressão dos últimos anos trouxeram
avanços importantes, como a redução da expectativa de impunidade e o
estabelecimento de um novo padrão de eficiência para estas ações”, disse
Bruno Brandão, representante da Transparência Internacional no Brasil.
Para
Brandão, não houve, em 2017, qualquer esboço de resposta sistêmica ao
problema. “Ao contrário, a velha política que se aferra ao poder sabota
qualquer intento nesse sentido. Se as forças que querem estancar a
sangria se mostram bastante unidas, a população se divide na polarização
cada vez mais extremada do debate público, o que acaba anulando a
pressão social e agravando ainda mais a situação”.
Medidas anticorrupção
Com
o intuito de contribuir com os esforços do país, a Transparência
Internacional e a Fundação Getulio Vargas (FGV) se uniram para liderar
uma construção coletiva do maior pacote de medidas anticorrupção já
produzido no mundo. A construção se iniciou com a compilação de
propostas existentes e das melhores práticas internacionais. Em seguida,
foram consultadas mais de 300 instituições brasileiras.
O
conjunto de propostas foi levado à análise e adaptações das equipes da
Transparência e da FGV Direito Rio e contou com contribuições de dezenas
de especialistas brasileiros, dos mais diferentes campos, na redação e
revisão de um pacote inédito de mais de 80 projetos de lei, propostas de
emenda constitucional e resoluções administrativas.
A duas
instituições apresentam hoje (21) à sociedade brasileira a primeira
versão das “Novas Medidas contra a Corrupção”, com o convite a
participar da construção coletiva desse pacote que pode dar respostas às
causas sistêmicas da corrupção no Brasil.
O conjunto das medidas
legislativas ficará aberto para consulta pública durante 30 dias. As
pessoas poderão comentar, criticar e enviar sugestões de mudança para
cada uma delas. Todas as contribuições serão analisadas e consolidadas
naquele que será o conjunto final das “Novas Medidas contra a
Corrupção”.
O IPC
Este ano, o IPC passou a
listar 180 países e territórios, quatro a mais do que a pesquisa de
2016. O estudo também apontou que mais de dois terços dos integrantes
dessa pesquisa tiveram nota menor que 50, com média global de 43 pontos.
Para a Transparência Internacional, qualquer nota menor de que 50 no
IPC mostra que o país está falhando em lidar com a corrupção. O IPC 2017
foi calculado usando 13 fontes de dados diferentes, de 12 instituições
distintas, que capturaram percepções de corrupção nos últimos dois anos.
Em
2017, 81 países demonstraram melhora em sua pontuação, ao passo que 33
ficaram estáveis. Sofreram piora em suas notas 62 países, inclusive o
Brasil. O índice também revelou que, apesar dos esforços de combate à
corrupção em todo o planeta, a maioria dos países se move muito
vagarosamente nesse sentido. Nos últimos seis anos, por exemplo, grande
número de nações teve pouco ou nenhum progresso.
Uma análise mais
aprofundada dos resultados do índice mostra que os países com os mais
baixos índices de proteção à imprensa e à atuação de organizações não
governamentais (ONGs) tendem a ter as piores taxas de percepção da
corrupção. Para conferir e baixar as informações na íntegra, acesse o
portal global do IPC por meio do link www.transparency.org/cpi2017.
Notícias ao Minuto com informações da Agência Brasil
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