Suicídio de reitor da Universidade Federal de Santa Catarina deixa Polícia Federal sob suspeita
Ele havia sido preso pela Polícia Federal, na chamada Operação Ouvidos Moucos
O suicídio do reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Luiz Carlos Cancellier de Olivo completou dois meses neste sábado (2).
Ele havia sido preso pela Polícia Federal, na chamada Operação Ouvidos
Moucos, no 14 de setembro, estava sendo investigado, sem saber, pela
delegada Érika Mialik Marena.
O reitor, que não tinha antecedente criminal algum, era suspeito de uma
suposta tentativa de obstruir uma investigação sobre desvios no
programa de educação a distância. A denúncia foi feita, principalmente,
por um desafeto do reitor, o corregedor-geral da UFSC, Rodolfo Hickel do
Prado, integrante da Advocacia-Geral da União em Santa Catarina.
No dia seguinte à prisão dele, a PF manchetou, em seu site, o erro de
que a operação combatia "desvio de mais de R$ 80 milhões", conforme
atesta matéria do Estadão. Ainda segundo a reportagem, após depor na PF,
o reitor, sem que alguém tenha explicado o motivo de sua prisão, foi
levado para a penitenciária de Florianópolis, como se já estivesse
condenado. Teve os pés acorrentados, as mãos algemadas e foi submetido,
nu, à revista íntima. Ele passou mal por ser cardiopata, e foi examinado
e medicado por seu cardiologista.
Posteriormente, a delegada afirmou que os R$ 80 milhões era o total de
repasses do Ministério da Educação para o programa de ensino a distância
ao longo de dez anos, 2005 a 2015, quando Cancellier não era o reitor.
Ele assumiu a reitoria a partir de maio de 2016.
Depois da prisão, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições
Federais de Ensino Superior (Andifes) divulgou nota afirmando ser
"inadmissível que o país continue tolerando práticas de um Estado
policial" e o Núcleo da União da Juventude Socialista na UFSC fala em
"perseguição política".
Site Jornalistas Livres também repudiou a ação da PF. "Trata-se de
suicídio que cobre de vergonha todo o país, que consagrou como métodos
de investigação a deduragem, a humilhação pública e a prisão
estrepitosa, sob os holofotes de uma mídia linchadora e vulgar", escreve
Laura Capriglione.
Vale ressaltar que o denunciante, Rodolfo Hickel do Prado, era opositor
político do reitor. No dia 13 de setembro, um dia antes da prisão,
Cancellier autorizou seu chefe de gabinete, Aureo Moraes, a abrir um
processo administrativo-disciplinar contra o corregedor, pedido pelo
professor Gerson Rizzatti. Prado tentou uma liminar contra a portaria
que o afastava até a conclusão, mas não teve êxito.
Na última terça-feira, o juiz Marcelo Volpato de Souza mandou arquivar o
inquérito que apurou a morte do reitor, concluindo por suicídio.
Brasil 247
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