Pela ótica do jornalista Josias de Souza, o ‘efeito toga’ tornou-se principal variável de 2018
No
momento, não há nada mais equivocado na análise da conjuntura eleitoral
brasileira do que ter certeza. A leitura fria dos dados expostos na
mais recente pesquisa do Datafolha induz à falsa conclusão de que a
sucessão presidencial vai se consolidando como uma batalha entre o
pseudo-esquerdista Lula e o ultra-direitista Jair Bolsonaro. Mas a
construção do cenário de 2018 já não depende apenas do eleitor. A
situação penal do candidato do PT converteu o Judiciário num
protagonista da disputa sucessória. O “efeito toga” injeta no processo
um quê de imponderável.
Hoje, Lula continua na liderança. Oscila entre 34% e 37%, dependendo
do cenário. Bolsonaro isolou-se na vice-liderança, obtendo entre 17% e
19% das intenções de voto. O problema é que não são negligenciáveis as
chances de Lula, já condenado a nove anos e meio de cadeia, se tornar um
ficha suja. Retirando-se o pajé petista do páreo, a taxa de
entrevistados que preferem votar em branco ou nulo praticamente dobra,
chegando a 30%. Abre-se uma disputa pelo espólio eleitoral de Lula.
Candidatos que têm a aparência de cartas fora do baralho entrariam no
jogo.
Marina Silva belisca uma fatia do eleitorado lulista automaticamente.
Com Lula na briga, a candidata da Rede chega a amargar 9%. Sem o
ex-correligionário, Marina volta para o patamar dos dois dígitos. No seu
melhor cenário, ela amealha 16%, ficando a apenas cinco pontos
percentuais de Bolsonaro, com 21%. A ausência de Lula seria revigorante
também para Ciro Gomes, que migraria dos 6% para 12%, assumindo a
terceira colocação, à frente de Geraldo Alckmin (9%). O petista Fernando
Haddad, potencial substituto de Lula, amealharia escassos 3%.
O primeiro estágio da ruína penal de Lula é o Tribunal Regional
Federal da 4ª Região, que deve confirmar entre o final de março e o
início de maio a condenação imposta por Sergio Moro no caso do Tríplex
do Guarujá. Com isso, Lula viraria um ficha-suja. Pior: se o Supremo
Tribunal Federal não modificar a regra que permite a prisão de
condenados na segunda instância, o juiz da Lava Jato estará autorizado a
enviar o candidato do PT para o xadrez.
Em
reunião com a cúpula do PSB, a presidente do PT, senadora Gleisi
Hoffman (PR), disse que seu partido não analisa alternativas. Levará a
candidatura de Lula às últimas consequências. Recorrerá ao Supremo
Tribunal Federal contra o eventual enquadramento de Lula na Lei da Ficha
Limpa e contra eventual ordem de prisão emitida em Curitiba. O petismo
só indicará um substituto na hipótese de o Tribunal Superior Eleitoral,
provocado por algum rival de Lula, cassar-lhe as pretensões políticas.
Ou seja: os destinos da sucessão de 2018 passam pelo TRF-4, pela 13ª
Vara de Curitiba, pelo STF e pelo TSE. Considerando-se o caráter
lotérico que permeia as decisões judiciais no Brasil, a única previsão
segura que se pode fazer sobre 2018 é que o “efeito toga” torna a
disputa, por ora, imprevisível.
Fonte: UOL - Créditos: Josias de Souza
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