Lúcio Funaro confirma que recebeu propina do empresário Joesley Batista
O operador Lúcio Bolonha Funaro confirmou, em um dos
depoimentos da delação premiada, que recebeu dinheiro do
empresário Joesley Batista, um dos executivos da JBS, para permanecer em
silêncio, ou seja, não revelar o que sabia sobre corrupção e
movimentação ilegal de recursos por parte de influentes políticos do
país.
A informação deve fortalecer a denúncia que o procurador-geral da
República Rodrigo Janot e equipe estão preparando para apresentar contra
o presidente Michel Temer, a partir das delações do empresário Joesley
Batista e outros executivos da JBS.
Temer é investigado por obstrução de Justiça e envolvimento em
organização criminosa. Num dos trechos de uma conversa que teve com
Temer, na noite de 3 de março, no Palácio do Jaburu, Batista descreveu
uma série de crimes que teria cometido.
Ele disse, de forma cifrada, que vinha fazendo pagamentos regulares a
Funaro e ao ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) que até ser preso era
um dos principais aliados de Temer. Em depoimentos da delação premiada,
Joesley e o executivo Ricardo Saud, também da JBS, disseram que os
pagamentos eram para comprar o silêncio de Funaro e Cunha, uma forma de
proteger o presidente e alguns auxiliares.
Num depoimento à Polícia Federal (PF) no mês passado, antes de fazer
acordo de delação, Funaro confirmou os pagamentos, mas disse que se
tratavam da quitação de uma dívida antiga.
Investigadores não acreditaram na explicação, que se chocava com a
versão do empresário. Depois de decidir colaborar com a investigação, o
operador revisou declarações anteriores e ratificou a narrativa do dono
da JBS. Funaro estaria sem alternativa. Isso porque a irmã dele, Roberta
Funaro, chegou a ser presa em 18 de maio depois de receber R$ 400 mil
de Saud dentro de um táxi.
Parte da transação foi filmada em ação controlada conduzida pela
Polícia Federal com ordem do ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato
no Supremo Tribunal Federal (STF). De acordo com a investigação, não
fazia sentido Roberta ter sido escalada para receber dinheiro de forma
clandestina se os pagamentos fossem de ordem legal.
Confrontado com os fatos, Funaro, já em colaboração com a
investigação, confirmou que, de fato, os pagamentos eram uma forma de
mantê-lo em silêncio.
A suposta propina está no centro da denúncia em que Temer é acusado
de corrupção passiva. Ela foi barrada pelos aliados do presidente na
Câmara no dia 2 deste mês e só pode ser retomada depois que Temer deixar
o cargo de presidente.
Agora, Janot e equipe avançam nas investigações sobre obstrução de
Justiça, a compra do silêncio de Funaro e Cunha, e organização
criminosa. É a partir dessa investigação que o procurador-geral deverá
fazer a segunda denúncia contra o presidente. A expectativa é que isso
ocorra até sexta-feira da próxima semana. Janot deixa o cargo de
procurador-geral em 18 de setembro.
O Globo
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