quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Joesley comprou silêncio de doleiro

Lúcio Funaro confirma que recebeu propina do empresário Joesley Batista

O operador Lúcio Bolonha Funaro confirmou, em um dos depoimentos da delação premiada, que recebeu dinheiro do empresário Joesley Batista, um dos executivos da JBS, para permanecer em silêncio, ou seja, não revelar o que sabia sobre corrupção e movimentação ilegal de recursos por parte de influentes políticos do país.
A informação deve fortalecer a denúncia que o procurador-geral da República Rodrigo Janot e equipe estão preparando para apresentar contra o presidente Michel Temer, a partir das delações do empresário Joesley Batista e outros executivos da JBS.
Temer é investigado por obstrução de Justiça e envolvimento em organização criminosa. Num dos trechos de uma conversa que teve com Temer, na noite de 3 de março, no Palácio do Jaburu, Batista descreveu uma série de crimes que teria cometido.
Ele disse, de forma cifrada, que vinha fazendo pagamentos regulares a Funaro e ao ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) que até ser preso era um dos principais aliados de Temer. Em depoimentos da delação premiada, Joesley e o executivo Ricardo Saud, também da JBS, disseram que os pagamentos eram para comprar o silêncio de Funaro e Cunha, uma forma de proteger o presidente e alguns auxiliares.
Num depoimento à Polícia Federal (PF) no mês passado, antes de fazer acordo de delação, Funaro confirmou os pagamentos, mas disse que se tratavam da quitação de uma dívida antiga.
Investigadores não acreditaram na explicação, que se chocava com a versão do empresário. Depois de decidir colaborar com a investigação, o operador revisou declarações anteriores e ratificou a narrativa do dono da JBS. Funaro estaria sem alternativa. Isso porque a irmã dele, Roberta Funaro, chegou a ser presa em 18 de maio depois de receber R$ 400 mil de Saud dentro de um táxi.
Parte da transação foi filmada em ação controlada conduzida pela Polícia Federal com ordem do ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). De acordo com a investigação, não fazia sentido Roberta ter sido escalada para receber dinheiro de forma clandestina se os pagamentos fossem de ordem legal.
Confrontado com os fatos, Funaro, já em colaboração com a investigação, confirmou que, de fato, os pagamentos eram uma forma de mantê-lo em silêncio.
A suposta propina está no centro da denúncia em que Temer é acusado de corrupção passiva. Ela foi barrada pelos aliados do presidente na Câmara no dia 2 deste mês e só pode ser retomada depois que Temer deixar o cargo de presidente.
Agora, Janot e equipe avançam nas investigações sobre obstrução de Justiça, a compra do silêncio de Funaro e Cunha, e organização criminosa. É a partir dessa investigação que o procurador-geral deverá fazer a segunda denúncia contra o presidente. A expectativa é que isso ocorra até sexta-feira da próxima semana. Janot deixa o cargo de procurador-geral em 18 de setembro.
O Globo

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