Decisão do Tribunal Superior Eleitoral pode abalar fidelidade da base de Temer
Por interesses eleitorais ou para manterem o foro privilegiado, dirigentes e ministros de partidos aliados tentam conter movimentos de desembarque
Líderes das siglas ameaçam abandonar governo dependendo do julgamento marcado para hoje no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que pode levar à cassação de Temer, e do posicionamento do PSDB - (Nelson Almeida/AFP) |
Mesmo após três semanas de forte turbulência política causada pela delação de executivos da JBS,
o movimento pelo desembarque do governo ainda é tímido em grandes
partidos da base aliada, entre eles, PR, PSD, PP, DEM e PRB. Nessas
legendas, são poucos os parlamentares que defendem o rompimento com o
presidente Michel Temer. Por interesses eleitorais ou até para manterem o foro privilegiado, dirigentes e ministros dessas siglas atuam nos bastidores para conter movimentos de desembarque.
Os líderes desses partidos dizem, no entanto, que esse cenário pode mudar dependendo do julgamento marcado para hoje no Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
que pode levar à cassação de Temer, e do posicionamento do PSDB,
principal fiador de Temer no Congresso, que ameaça deixar o governo. A
avaliação é de que um eventual rompimento dos tucanos provocará um
efeito cascata de desembarque de outras siglas, deixando a situação de
Temer na Congresso ingovernável.
Outro fator de instabilidade é Rodrigo
Rocha Loures (PMDB-PR), então deputado suplente flagrado pela Polícia
Federal carregando uma mala com R$ 500 mil de propina, segundo delação
da JBS. Loures, que era assessor especial de Temer, foi preso no último
sábado. Grávida, sua esposa o pressiona para fazer delação, porém seus
advogados afirmam que ele permanecerá calado durante interrogatório que
será conduzido nesta quarta-feira.
Partidos
No DEM, partido do presidente da Câmara,
Rodrigo Maia (RJ), os cálculos são de que apenas dois dos 29 deputados
são favoráveis ao rompimento: Onyx Lorenzoni (RS) e Luiz Henrique
Mandetta (MS).
“O DEM está estabilizado. No primeiro
momento, houve uma insegurança, mas prevaleceu a tese de alinhamento com
o presidente Rodrigo Maia, que tem sido o pilar de sustentação do
governo”, afirmou o líder da legenda na Câmara, deputado Efraim Filho
(PB). Como Maia é o primeiro na linha sucessória da presidência da
República, o partido quer evitar qualquer movimento em relação ao
governo Temer, para não passar a imagem de que está agindo em causa
própria.
No Senado, a oposição ao governo é do
próprio líder do partido, Ronaldo Caiado (GO). Além de defender o
desembarque do governo, com a entrega do Ministério da Educação, hoje
com o partido, ele defende convocação de eleições diretas.
No PR, quinto maior partido da Câmara,
apenas sete dos 39 deputados defendem o desembarque, segundo o líder da
sigla, José Rocha (BA). Deputado licenciado, o ministro dos Transportes,
Maurício Quintella, atua nos bastidores para evitar que o movimento
cresça. Integrantes do PR dizem que ele quer continuar no governo para
usar a capilaridade política da pasta a seu favor, com vistas às
eleições de 2018, quando quer disputar uma vaga no Senado.
Dono da terceira maior bancada da
Câmara, com 47 deputados, o PP tem apenas um deputado que defende
publicamente o rompimento com Temer.
Articulação
O movimento pró-desembarque é tido como
controlado no PSD e PRB. Ainda assim, seus presidentes licenciados os
ministros Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicações, do PSD, e Marcos Pereira (Indústria, Comércio Exterior e
Serviços), do PRB, atuam para minimizar qualquer movimento nesse
sentido. Como não possuem mandatos parlamentares, os dois só mantêm o
foro privilegiado enquanto estiverem nos chefiando as pastas. Ambos
foram citados nas delações da Odebrecht e da JBS, mas negam
irregularidades.
Com 36 deputados, o PSB já rompeu
oficialmente com Temer, embora ainda esteja à frente do Ministério de
Minas e Energia. O grupo conta com o respaldo da direção partidária, que
saiu em defesa de eleições diretas. “A maioria é a favor do
desembarque. Acho que uns 20, 22 deputados”, calcula Júlio Delgado (MG).
O PPS diz hoje atuar de forma
independente na Câmara, apesar de manter o comando do Ministério da
Defesa, com Raul Jungmann. Antes da delação da JBS, a legenda ocupava
dois ministérios. Roberto Freire (SP) entregou a Cultura e retomou o
mandato de deputado.
Veja com Estadão Conteúdo
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