Dono de sobrenome tradicional na política do Rio Grande do Norte, Henrique Alves enfrenta peso da eleição de 2014
Liderança do PMDB, exerceu mandato parlamentar por 44 anos; ex-ministro 'constrangido' de Temer, é investigado por disputa no governo norteriograndense
O ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves, preso pela Polícia Federal nesta terça-feira - (VEJA.com/Divulgação) |
Dono de um dos sobrenomes mais tradicionais da política do Rio Grande do Norte, Henrique Eduardo Alves (PMDB) foi preso preventivamente pela Operação Manus, da Polícia Federal,
nesta terça-feira, acusado de participação em desvios de 77 milhões de
reais na construção da Arena das Dunas, estádio em Natal que abrigou a
Copa do Mundo de 2014. Ex-presidente da Câmara dos Deputados, ele foi um
ativo integrante do grupo político do presidente Michel Temer (PMDB) quando este era deputado federal.
Pela primeira vez em mais de 45 anos, deixou definitivamente de exercer um cargo público em junho de 2016, quando saiu do Ministério do Turismo no
governo Temer. Em carta enviada ao então presidente interino, disse que
não queria causar “constrangimentos ou qualquer dificuldade para o
governo”. Então, a delação premiada de outro peemedebista, o
ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, comprometia Alves relatando
que ele teria recebido 1,5 milhão de reais em propina das construtoras
Queiroz Galvão e Galvão Engenharia, oriundos do esquema da estatal
petrolífera.
Dois anos antes, tomou uma decisão que mudou seu destino
político: abriu mão da estabilidade de onze mandatos e 44 anos como
parlamentar, então presidente da Câmara, e anunciou a decisão de se
candidatar ao governo do Rio Grande do Norte.
Fazia sentido, comandante do legislativo e uma das lideranças nacionais
de um dos principais partidos brasileiros, ele contava ainda com o nome
da família. O pai, Aluizio Alves, é ex-governador, o tio, Garibaldi
Alves, foi senador e o primo, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), ainda
era. Completava o clã o prefeito de Natal, Carlos Eduardo Alves (PDT),
esta fora do partido que abriga o restante da família.
Na época, o parlamentar sentenciou a VEJA que a sua
experiência no Planalto Central era o diferencial que faria os
potiguares o escolherem para a função: “A vantagem de eu ser candidato é
que não há uma porta hoje em Brasilia, no Judiciário ou no Legislativo,
que eu não abra”. É provável que com a sua prisão, os donos das portas,
como o próprio presidente Temer, agora prefiram pensar em mudar a senha
do cadeado.
A campanha acabou não sendo a melhor ideia. Em primeiro lugar, porque foi derrotado por Robinson Faria
(PSD) no segundo turno. Depois, porque perdeu a segurança do foro
privilegiado – só poderia ter sido preso, como agora, caso fosse pego em
flagrante. E, por fim, o pleito acabou complicando a sua situação
judicial: Fernando Reis, ex-presidente da Odebrecht Ambiental, declarou
ter dado dois milhões de reais para ajudá-lo na disputa, com promessa de
vantagens futuras.
De lá para cá, foram dois ensejos de voltar à vida pública,
ambos na mesma função. Desde a derrota nas eleições, o nome dele passou a
ser cotado para a Esplanada dos Ministérios, ainda sob Dilma Rousseff,
que acabou não o convidando no primeiro momento. Quando manifestações de
rua começaram a pedir a sua saída em 2015, a petista ouviu
de seu então vice-presidente, Michel Temer, a sugestão de entregar a
articulação política do governo para Henrique Eduardo Alves. Dilma
acabou não aceitando, mas não relutou mais em trazer um dos principais
nomes do PMDB para o seu gabinete, acomodando-o na pasta do Turismo.
Como grande parte do partido faria naqueles meses, entregou
seu cargo à presidente nas iminências de seu afastamento pelo Congresso
Nacional. No entanto, não demorou a voltar: com a caneta na mão, Temer
reconduziu o aliado ao cargo menos de dois meses depois, até que o
“constrangimento” falasse mais alto e o ex-presidente da Câmara optasse
por voltar a vida cotidiana.
Nos últimos meses, o noticiário comprovou que ele tivesse
motivo para esperar “bombas” das investigações: em junho de 2016, uma
conta na Suíça com 833 mil dólares (ele admitiu o cadastro bancário, mas
declarou desconhecer a origem dos valores) e em outubro, junto com
outro ex-presidente, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – também alvo da Operação Manus – se tornou réu por suspeitas envolvendo fundos de pensão da Caixa Econômica Federal.
Agora, a investigação da Arena das Dunas, também relacionado
às colaborações da Odebrecht, coloca mais um peso sobre a delicada
situação de Henrique Alves. Preventiva, a sua prisão não tem prazo
determinado e põe mais um peso na crise política que abala o governo de
Michel Temer. Procurada por VEJA, a defesa de Alves informou que vai se
pronunciar nas próximas horas sobre a situação jurídica do
ex-parlamentar.
Veja
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