Aécio Neves afirma que estava sem dinheiro e caiu em armação de Joesley Batista
Em vídeo, tucano diz que tinha de pagar advogados, mas não tinha recursos pois não acumulou patrimônio na vida pública; ideia, alega, era vender apartamento
O senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG), em sua casa - (Wilton Junior/Estadão Conteúdo) |
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) disse, em vídeo postado no Facebook, que concordou em aceitar R$ 2 milhões emprestados do empresário Joesley Batista porque não tinha dinheiro para pagar seus advogados na Lava Jato, mas que o dono da JBS fez uma “armação” contra ele para fazer parecer que tinha cometido um ato ilegal.
Foi a primeira declaração de Aécio diretamente aos seus
eleitores – “de coração aberto”, segundo ele – desde que veio à tona
gravação feita pelo empresário em que ambos combinam como seria feito o
repasse do dinheiro. Antes, ele havia apenas publicado uma defesa em
sua coluna no jornal Folha de S. Paulo, encerrada após a revelação do escândalo.
As denúncias resultaram na abertura de inquérito pelo Supremo Tribunal Federal, na
suspensão do seu mandato de senador – Aécio recorre nos dois casos – e
no pedido de sua prisão, que será analisada pelo STF, de sua irmã, a
jornalista Andrea Neves e de seu primeiro, Frederico Pacheco de Medeiros, o Fred – os dois estão presos.
“Quero me dirigir em especial a você que acompanhou e sempre
confiou em meus 30 anos de vida pública, exercida sempre com dignidade,
com honradez, em que respeitei cada voto que recebi. Fui vítima de uma armação
conduzida por réus confessos que só tinham um objetivo: livrar-se dos
gravíssimos crimes de que são acusados, mesmo que para isso tenham de
implicar pessoas de bem”, afirmou.
De acordo com ele, “essa armação me tornou hoje alvo de
acusações e de suspeitas e levou a medidas injustificáveis, como a
prisão de meus familiares, que, reafirmo aqui, não cometerem nenhum ato
ilícito”.
“O fato verdadeiro é apenas um: há cerca de dois meses, eu
pedi a minha irmã Andrea que procurasse o senhor Joesley e oferecesse a
ele a compra de um apartamento onde minha mãe vive há mais de 30 anos,
herança de seu ex-marido e que havia sido colocado à venda. Com parte
desses recursos, eu poderia pagar as despesas com minha defesa em inquéritos que, tenho certeza, serão arquivados”, disse.
“E fiz isso porque não tinha dinheiro, não fiz dinheiro na vida pública.
A partir daí, esse cidadão [Joesley] armou uma encenação e ofereceu
outro caminho: um empréstimo de 2 milhões de reais, que era o que nós
calculávamos que teríamos de gastar ao longo dos próximos anos. Esse
dinheiro, é claro, seria regularizado através de um contrato de mútuo,
até para que meus advogados fossem corretamente pagos”, continuou o
senador afastado.
“Essa nunca foi a intenção do criminoso. Na verdade, o que
ele queria era criar uma falsa situação que transformasse uma operação
entre privados, que não envolveu qualquer dinheiro público, que não
envolveu qualquer contrapartida, em um ato de aparência ilegal”, disse.
“Esses são os fatos, esta é a única verdade. Eu reafirmo aqui, de forma
definitiva: não cometi qualquer crime, minha irmã Andrea não cometeu
crime algum. Frederico, meu primo, não cometeu crime algum. São pessoas
de bem, que sofrem hoje as injustiças das sanções que são impostas”,
afirmou.
Na sequência, o senador admite que também errou, em três oportunidades. “Mas eu tenho que admitir que errei. Errei e isso me corrói as vísceras.
Em primeiro lugar, por ter permitido que minha irmã se encontrasse com
um cidadão cujo caráter agora todo o Brasil conhece. Errei ao utilizar,
mesmo numa conversa particular, um vocabulário que não costumo usar e,
por isso, peço desculpas. Mas meu maior erro foi deixar me enganar numa
trama montada por um criminoso”, disse.
“Nessa história, os criminosos não são eu nem meus
familiares. Os criminosos são aqueles que se enriqueceram às custas do
dinheiro público e que agora, nesse instante, lá no exterior, zombam
dos brasileiros com os inacreditáveis benefícios que obtiveram”,
afirmou, em referência ao acordo de delação que a JBS acertou com o
Ministério Público Federal. “Eles sim têm que voltar ao Brasil e
responder à Justiça pelos muitos crimes que cometeram.”
“E, por fim e acima de tudo, eu não descansarei até resgatar
o único patrimônio que acumulei em mais de 30 anos de vida pública: a
minha honra e a minha dignidade. Tenho certeza que, ao fim de tudo, a
verdade prevalecerá”, disse.
Veja na íntegra o vídeo postado por Aécio Neves:
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