Bomba atômica (iStockphoto/Getty Images)
O Secretário de Estado dos Estados Unidos, Rex Tillerson, pediu em sessão especial do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), nesta sexta feira, que a comunidade internacional aumente as pressões em relação à Coreia do Norte, que seria uma resposta à exibição de material bélico e testes nucleares do país. Mas, para analistas internacionais, Kim Jong-Un,
está apenas começando a mostrar o poder das armas norte-coreanas, e
outro experimento atômico (o sexto da nação nos últimos dez anos) pode
estar por vir.
Desde que o país começou a divulgar o sucesso de seus ensaios nucleares, em 2006, a tensão com os Estados Unidos tem
aumentado. Isso se torna ainda mais grave diante da possibilidade de
que a nação asiática possa ter alcançado tecnologia suficiente para
produzir sua própria bomba de hidrogênio, muito mais potente do que uma bomba atômica comum.
A princípio, especialistas duvidaram dessa possibilidade, uma vez que
os tremores detectados durante o último teste, em janeiro de 2016, eram
mais parecidos com os de uma bomba atômica. Se Kim
Jong-Un efetivamente possuir uma bomba de hidrogênio e decidir atirá-la
em algum outro país, os efeitos podem ser até 4.000 vezes mais
devastadores do que a bomba que explodiu em Hiroshima, durante a
II Guerra Mundial.
Apesar do
perigo que isso pode representar, nenhum desses dispositivos foi
efetivamente utilizado pela Coreia do Norte, e sua aplicação está
restrita a testes – ensaios para conferir o poder de bombas
atômicas e de bombas de hidrogênio são feitos da mesma forma. Confira
como são feitos esses testes e quais seus efeitos:
Qual a diferença entre um teste e uma real explosão nuclear?
Desde
1963, por determinação do Tratado de Interdição Parcial de Ensaios
Nucleares, testes envolvendo bombas nucleares não devem ser feitos na
atmosfera (incluindo o espaço) ou sob a água – atualmente,
todos são feitos no subsolo. Para isso, os cientistas escolhem uma vasta
área em terra firme e cavam um buraco com quase um quilômetro de
extensão, no qual a bomba é inserida e, depois, coberta com camadas de
areia e cimento. Dessa forma, a explosão, assim como os resíduos, ficam
contidos no subterrâneo, sendo impossível de retirá-los depois. Por mais
perigoso que isso pareça – considerando que lixo radioativo fica depositado a apenas algumas camadas abaixo do solo – pesquisadores garantem que esse é, atualmente, o método mais seguro.
É seguro fazer testes atômicos?
“Os testes são bem controlados. O maior perigo são os vazamentos”, afirma a
física Emico Okuno, professora sênior especialista em radiação e física
nuclear do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP),
adicionando que, se a estrutura estiver em ordem, isso é difícil de
acontecer.
O mesmo
não poderia ser dito antes do tratado internacional, quando os testes
eram comumente realizados na atmosfera. Basicamente, o método consistia
em fazer o dispositivo explodir a alturas elevadas, como montanhas, ou
até fora da atmosfera – o que fazia com que toda a radiação
descesse para as nuvens após a explosão, precipitando-se na forma de
chuvas e contaminando uma região muito maior do que o ponto onde a bomba
foi lançada.
Um
exemplo foram os testes nucleares realizados pelos Estados Unidos no
atol de Bikini, em 1946. Os americanos chegaram ao local onde fica o
atol, o arquipélago das Ilhas Ralik, no Oceano Pacífico, equipados com
modernas câmeras e dispositivos para registrar a histórica explosão e
mostrá-la ao mundo. “Nem Hollywood tinha máquinas tão sofisticadas”,
afirma Okuno. O que as imagens não mostram, no entanto, é que, na época,
uma comunidade local teve de abandonar a área e mudar-se para uma ilha
vizinha. Depois, com o fim dos experimentos, os antigos habitantes do
atol foram impedidos de retornar, porque o solo, a água e os cocos (base
de sua alimentação) se tornaram radioativos.
Qual a potência das bombas que podem ser testadas?
Mesmo com
a regulação dos procedimentos para realizar testes nucleares atualmente
não existe uma restrição em relação à potência da bomba que pode ser
experimentada. A Coreia do Norte diz ter iniciado sua série de testes
com uma bomba em miniatura de 1 quiloton (o equivalente a 1.000
toneladas de dinamite) – já no quinto teste (e último, até
então), especialistas estimam que o explosivo ensaiado chegava a 20
quilotons, praticamente a mesma potência da bomba atômica lançada em
Nagasaki durante a II Guerra Mundial. A explosão foi tão potente que
provocou um terremoto de magnitude 5 na Escala Richter próximo ao local
em que o teste foi feito, no Nordeste da Coreia do Norte.
Como saber se um teste foi bem sucedido?
Segundo Okuno, o critério para determinar o sucesso do teste é a verificação do potencial destrutivo da bomba – e,
para isso, indicadores objetivos são medidos. O valor numérico da
potência da bomba, as ondas de calor, a magnitude dos tremores na região
e outras características mensuráveis são alguns dos indícios avaliados
pelos especialistas durante o teste.
Porém, de
acordo com a professora, há registros de experimentos passados que, há
até pouco tempo, também utilizavam animais para estudar os possíveis
danos causados pela explosão. “Em testes realizados pelos Estados
Unidos, o pelo de ovelhas era raspado e elas eram colocadas em locais
próximos à explosão. Assim, seria possível ver o efeito das queimaduras
causadas na pele”, explica Okuno.
O Brasil tem armas nucleares?
Nosso
país já cogitou fazer seus próprios testes de armas nucleares. Em 1980,
logo após o fim do regime militar, a Força Aérea Brasileira (FAB)
construiu um enorme buraco estrategicamente localizado dentro de uma
base militar no Pará. Em meio à selva amazônica, explosões de bombas
atômicas seriam realizadas no subsolo. Até o momento, nenhuma evidência
comprovou, efetivamente, que qualquer teste tenha chegado a ocorrer no
local.
Como as
operações eram sigilosas (e, até hoje, a FAB nega que o buraco tenha
sido escavado com essa finalidade), o assunto caiu no esquecimento até
que, na década de 1990, o então presidente Fernando Collor determinou
que o buraco fosse tapado. Ainda que a realização de testes nucleares
desperte opiniões contraditórias, o Brasil tem capacidade de produzir
uma estrutura para testes atômicos. “Não é simplesmente abrir um buraco no chão e pronto. Isso envolve muita tecnologia”, diz Okuno.
Embora a FAB nunca tenha
revelado qual era a verdadeira utilidade da estrutura, a especialista,
assim como outros cientistas, acreditam que poderia, sim, se tratar de
uma preparação para testes nucleares. “Hoje em dia é até difícil dizer
se realmente a ideia foi abandonada”, afirma.
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