Recessão e inflação, as principais causas do aumento da pobreza no Brasil
Número de pessoas pobres subirá de 17,3 milhões para 19,8 milhões entre 2015 e 2017, segundo projeções de um estudo do Banco Mundial
Na avaliação do economista Emmanuel
Skoufias, especialista em combate à pobreza e coordenador do estudo, a
retomada do crescimento econômico deverá voltar a gerar oportunidades de
ascensão social para a população mais carente. Ele adverte, entretanto,
que a recuperação será sustentável apenas se houver equilíbrio nas
contas públicas. “A austeridade não é culpada pelo aumento da pobreza”,
afirma. “Sem o ajuste nas contas do governo, a pobreza poderia crescer
ainda mais no futuro, porque o resultado de finanças públicas
desequilibradas seria o aumento da inflação e das taxas de juros – e
ambos esses fatores tendem a lesar mais os pobres do que os ricos.”
Skoufias deu a seguinte entrevista a VEJA:
O aumento da pobreza é um fenômeno transitório, devido à recessão, ou o processo de redução da pobreza atingiu um limite?
Os principais mecanismos para a redução da
pobreza no Brasil, e em qualquer outro país, são mercados de trabalho
saudáveis, com aumento das oportunidades e de salários. A atual crise
econômica provocou uma profunda redução de empregos, aumentando,
consequentemente, a pobreza a partir de 2015. Contanto que o país
consiga se recuperar e gerar novas oportunidades de emprego, esse
fenômeno, no entanto, será algo mais transitório do que permanente. Para
fazer isso de uma forma sustentável, o Brasil precisará de um novo
modelo de crescimento que seja menos dependente de commodities, do
crédito para estimular o consumo e da expansão dos gastos públicos. O
crescimento deverá ser baseado em iniciativas do setor privado, em
investimentos e em uma melhora na qualificação da força de trabalho.
“O equilíbrio fiscal não tem culpa pelo aumento da pobreza. Sem o ajuste nas contas do governo, a pobreza poderia crescer ainda mais no futuro”.
O ajuste fiscal deve ser culpado pelo aumento da pobreza?
“O equilíbrio fiscal não tem culpa pelo aumento da pobreza. Sem o ajuste nas contas do governo, a pobreza poderia crescer ainda mais no futuro”.
O ajuste fiscal deve ser culpado pelo aumento da pobreza?
O equilíbrio fiscal não tem culpa pelo aumento da
pobreza. Sem o ajuste nas contas do governo, a pobreza poderia crescer
ainda mais no futuro, porque o resultado de finanças públicas
desequilibradas seria o aumento da inflação e das taxas de juros – e
ambos esses fatores tendem a lesar mais os pobres do que os ricos. O
argumento de que a austeridade é a culpada pela recessão não se aplica
ao Brasil, tendo em vista a relação entre finanças públicas, taxas de
juros e a confiança dos investidores. De qualquer maneira, a forma como o
ajuste fiscal é conduzido importa no que diz respeito a como os pobres
serão afetados. Os gastos públicos do Brasil são muito grandes quando
comparados aos países de renda média, mas grande parte disso vai para as
classes de renda maior, e não para os pobres. Dois exemplos disso são o
sistema de Previdência, que gera um grande déficit e beneficia
majoritariamente os funcionários públicos com os melhores salários, e os
subsídios pagos para indústrias através de empréstimos com juros baixos
ou de concessões fiscais. Apesar de argumentarem que os subsídios são
necessários para a manutenção de empregos, existem poucas evidências de
que isso, de fato, aconteça. Esses incentivos custam cerca de dez vezes
mais do que o Bolsa Família. Cortando gastos desnecessários e protegendo
serviços públicos voltados às famílias carentes, o ajuste orçamentário
pode ser feito de uma forma que não atinja os mais pobres.
Veja
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