sábado, 18 de fevereiro de 2017

índices de pobreza voltam a subir no país

Recessão e inflação, as principais causas do aumento da pobreza no Brasil

Número de pessoas pobres subirá de 17,3 milhões para 19,8 milhões entre 2015 e 2017, segundo projeções de um estudo do Banco Mundial


Desde 2004, 30 milhões de brasileiros deixaram a miséria. Nos últimos dois anos, entretanto, os índices de pobreza voltaram a subir, como resultado da recessão e da inflação. De acordo com as projeções feitas em um estudo do Banco Mundial, o número de pessoas pobres subirá de 17,3 milhões para 19,8 milhões entre 2015 e 2017. Serão 2,5 milhões de “novos pobres”, na definição do estudo. A parcela dos pobres no total da população, que havia caído para 7,4%, aumentará para 10%.
Na avaliação do economista Emmanuel Skoufias, especialista em combate à pobreza e coordenador do estudo, a retomada do crescimento econômico deverá voltar a gerar oportunidades de ascensão social para a população mais carente. Ele adverte, entretanto, que a recuperação será sustentável apenas se houver equilíbrio nas contas públicas. “A austeridade não é culpada pelo aumento da pobreza”, afirma. “Sem o ajuste nas contas do governo, a pobreza poderia crescer ainda mais no futuro, porque o resultado de finanças públicas desequilibradas seria o aumento da inflação e das taxas de juros – e ambos esses fatores tendem a lesar mais os pobres do que os ricos.”
Skoufias deu a seguinte entrevista a VEJA:
O aumento da pobreza é um fenômeno transitório, devido à recessão, ou o processo de redução da pobreza atingiu um limite?
Os principais mecanismos para a redução da pobreza no Brasil, e em qualquer outro país, são mercados de trabalho saudáveis, com aumento das oportunidades e de salários. A atual crise econômica provocou uma profunda redução de empregos, aumentando, consequentemente, a pobreza a partir de 2015. Contanto que o país consiga se recuperar e gerar novas oportunidades de emprego, esse fenômeno, no entanto, será algo mais transitório do que permanente. Para fazer isso de uma forma sustentável, o Brasil precisará de um novo modelo de crescimento que seja menos dependente de commodities, do crédito para estimular o consumo e da expansão dos gastos públicos. O crescimento deverá ser baseado em iniciativas do setor privado, em investimentos e em uma melhora na qualificação da força de trabalho.
“O equilíbrio fiscal não tem culpa pelo aumento da pobreza. Sem o ajuste nas contas do governo, a pobreza poderia crescer ainda mais no futuro”.
O ajuste fiscal deve ser culpado pelo aumento da pobreza?
O equilíbrio fiscal não tem culpa pelo aumento da pobreza. Sem o ajuste nas contas do governo, a pobreza poderia crescer ainda mais no futuro, porque o resultado de finanças públicas desequilibradas seria o aumento da inflação e das taxas de juros – e ambos esses fatores tendem a lesar mais os pobres do que os ricos. O argumento de que a austeridade é a culpada pela recessão não se aplica ao Brasil, tendo em vista a relação entre finanças públicas, taxas de juros e a confiança dos investidores. De qualquer maneira, a forma como o ajuste fiscal é conduzido importa no que diz respeito a como os pobres serão afetados. Os gastos públicos do Brasil são muito grandes quando comparados aos países de renda média, mas grande parte disso vai para as classes de renda maior, e não para os pobres. Dois exemplos disso são o sistema de Previdência, que gera um grande déficit e beneficia majoritariamente os funcionários públicos com os melhores salários, e os subsídios pagos para indústrias através de empréstimos com juros baixos ou de concessões fiscais. Apesar de argumentarem que os subsídios são necessários para a manutenção de empregos, existem poucas evidências de que isso, de fato, aconteça. Esses incentivos custam cerca de dez vezes mais do que o Bolsa Família. Cortando gastos desnecessários e protegendo serviços públicos voltados às famílias carentes, o ajuste orçamentário pode ser feito de uma forma que não atinja os mais pobres.
Veja

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