O Brasil respira orgulhoso e aliviado com êxtase da cerimônia – Por María Martín
Há
duas coisas que conseguem fazer os brasileiros se renderem de orgulho: o
delicado e respeitado Paulinho da Viola cantando o hino nacional e o
mundo inteiro elogiando um espetáculo made in Brazil. Com a inauguração
dos Jogos Olímpicos uma brisa de autoestima, otimismo, emoção, alívio e
bom humor decolou no estádio do Maracanã para contagiar uma boa parte do
país carente, nesses últimos tempos de corrupção e ódio, de motivos
para se animar.
Brasil entregou em sua cerimônia de abertura tudo o que tem de
melhor. Sua atriz mais respeitada, sua modelo mais internacional, sua
mistura de raças, sua criatividade, seu dom natural para dançar e,
sobretudo, sua música, acompanhada do melhor barulho do mundo: a bateria
das escolas de Carnaval.
A delegação brasileira, após um interminável e ovacionado desfile de
atletas, levantou finalmente do chão cerca de 50.000 pessoas e, como se
fosse um grito de guerra antes dos times entrarem em jogo, a palavra
“Brasil” ecoou por todo o Maracanã. Até o engessado ministro interino
das Relações Exteriores, José Serra, cantou, mesmo que com os lábios
fechados, Aquarela do Brasil, enquanto o pai desta Olímpiada,Eduardo
Paes, gritava avermelhado de emoção. Houve uma mensagem ao mundo, além
da ambiental. O país, no estádio e nas redes, gritou para três bilhões
de pessoas: “Esses somos nós!”. Se, por acaso, não houvesse ficado
claro, o presidente do Comitê Olímpico do Brasil, Arthur Nuzman, que já
chegou a dizer que se os Jogos fossem decididos hoje jamais seriam
entregues ao Rio, injetou mais uma dose do orgulho pátrio: “O melhor
lugar do mundo é aqui e agora, no Rio, no Brasil”, “o mundo é carioca”,
“os filhos do Brasil não fogem à luta, são fortes”. E o público entrou
em êxtase.
Houve também, cabe dizer, uma pequena ajuda para manter o clima de
excitação sem sobressaltos até o final da cerimônia. O presidente
interino, Michel Temer, figura que desperta um dos piores sentimentos do
Brasil da polarização, foi literalmente escondido da cerimônia até às
23h28. No roteiro escrito que os jornalistas receberam ele devia ter
sido apresentado junto a Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico
Internacional, bem no começo da festa, antes do hino nacional. Mas não
foi assim. Visivelmente nervoso, ele só apareceu para declarar
inaugurada a XXXI Olimpíada, e uma vaia grave e contundente encheu o
Maracanã cortando o clímax pela primeira vez. Ninguém lembrará na
próxima Olimpíada em Tóquio quem governava o Brasil hoje, mas até lá o
país terá um punhado de fantasmas que espantar depois que a festa
acabar.
Fonte: El País
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