28 DE JULHO: DIA DA MORTE DE VIRGULINO FERREIRA DA SILVA, O CANGACEIRO LAMPIÃO
Ambição, Injustiça, Violência, Traição e Morte...
Virgulino Ferreira da Silva transformou-se em Lampião, o lendário fora-da-lei do Brasil |
Nascido em 1898, no Sítio Passagem das Pedras, em Serra Talhada, Pernambuco,
Virgulino Ferreira da Silva viria a transformar-se no mais lendário fora-da-lei
do Brasil. O cangaço nasceu no Nordeste em meados do século 18, através de
José Gomes, conhecido como Cabeleira, mas só iria se tornar mais conhecido,
como movimento marginal e até dando margem a amplos estudos sociais, após
o surgimento, em 1920, do cangaceiro Lampião, ou seja, o próprio Virgulino
Ferreira da Silva. Ele entrou para o cangaço junto com três irmãos, após o
assassinato do pai.
Com 1,79m de altura, cabelos longos, forte e muito inteligente, logo Virgulino
começou a sobressair-se no mundo do cangaço, acabou formando seu próprio bando
e tornou-se símbolo e lenda das histórias do cangaço. Tem muitas lendas a
respeito do apelido Lampião, mas a mais divulgada é que alguns companheiros
ao ver o cano do fuzil de Virgulino até vermelho, após tantos tiros trocados
com a volante (polícia), disseram que parecia um lampião. E o apelido ficou
e o jovem Virgulino transformou-se em Lampião, o Rei do Cangaço. Mas ele gostava
mesmo era de ser chamado de Capitão Virgulino.
Lampião era praticamente cego do olho direito, que fôra atingido por um espinho,
num breve descuido de Lampião, quando andava pelas caatingas, e ele também
mancava, segundo um dos seus muitos historiadores, por conta de um tiro que
levou no pé direito. Destemido, comandava invasões a sítios, fazendas e até
cidades.
Dinheiro, prataria, animais, jóias e quaisquer objetos de valor eram levados
pelo bando. "Eles ficavam com o suficiente para manter o grupo por alguns
dias e dividiam o restante com as famílias pobres do lugar", diz o historiador
Anildomá Souza. Essa atitude, no entanto, não era puramente assistencialismo.
Dessa forma, Lampião conquistava a simpatia e o apoio das comunidades e ainda
conseguia aliados.
Os ataques do rei do cangaço às fazendas de cana-de-açúcar levaram produtores
e governos estaduais a investir em grupos militares e paramilitares. A situação
chegou a tal ponto que, em agosto de 1930, o Governo da Bahia espalhou um
cartaz oferecendo uma recompensa de 50 contos de réis para quem entregasse,
"de qualquer modo, o famigerado bandido". "Seria algo como
200 mil reais hoje em dia", estima o historiador Frederico Pernambucano
de Mello. Foram necessários oito anos de perseguições e confrontos pela caatinga
até que Lampião e seu bando fossem mortos. Mas as histórias e curiosidades
sobre essa fascinante figura continuam vivas.
Uma delas faz referência ao respeito e zelo que Lampião tinha pelos mais
velhos e pelos pobres. Conta-se que, certa noite, os cangaceiros nômades pararam
para jantar e pernoitar num pequeno sítio - como geralmente faziam. Um dos
homens do bando queria comer carne e a dona da casa, uma senhora de mais de
80 anos, tinha preparado um ensopado de galinha. O sujeito saiu e voltou com
uma cabra morta nos braços. "Tá aqui. Matei essa cabra.
Agora, a senhora pode cozinhar pra mim", disse. A velhinha, chorando,
contou que só tinha aquela cabra e que era dela que tirava o leite dos três
netos. Sem tirar os olhos do prato, Lampião ordenou ao sujeito: "Pague
a cabra da mulher". O outro, contrariado, jogou algumas moedas na mesa:
"Isso pra mim é esmola", disse. Ao que Lampião retrucou: "Agora
pague a cabra, sujeito". "Mas, Lampião, eu já paguei". "Não.
Aquilo, como você disse, era uma esmola. Agora, pague."
Criado com mais sete irmãos - três mulheres e quatro homens -, Lampião sabia
ler e escrever, tocava sanfona, fazia poesias, usava perfume francês, costurava
e era habilidoso com o couro. "Era ele quem fazia os próprios chapéus
e alpercatas", conta Anildomá Souza. Enfeitar roupas, chapéus e até armas
com espelhos, moedas de ouro, estrelas e medalhas foi invenção de Lampião.
O uso de anéis, luvas e perneiras também. Armas, cantis e acessórios eram
transpassados pelo pescoço. Daí o nome cangaço, que vem de canga, peça de
madeira utilizada para prender o boi ao carro.
Em 1927, após uma malograda tentativa de invadir a cidade de Mossoró, no
Rio Grande do Norte, Lampião e seu bando fugiram para a região que fica entre
os estados de Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Bahia. O objetivo era usar, a
favor do grupo, a legislação da época, que proibia a polícia de um estado
de agir além de suas fronteiras. Assim, Lampião circulava pelos quatro estados,
de acordo com a aproximação das forças policiais.
No final de 1930, lampião conhece sua grande paixão, Maria Bonita, mulher de um sapateiro que se apaixonou por Lampião e com ele fugiu
|
Numa dessas fugas, foi para o Raso da Catarina, na Bahia, região onde a caatinga
é uma das mais secas e inóspitas do Brasil. Em suas andanças, chegou ao povoado
de Santa Brígida, onde vivia Maria Bonita, a primeira mulher a fazer parte
de um grupo de cangaceiros. A novidade abriu espaço para que outras mulheres
fossem aceitas no bando e outros casais surgiram, como Corisco e Dadá e Zé
Sereno e Sila. Mas nenhum tornou-se tão célebre quanto Lampião e Maria Bonita,
que em algumas narrativas é chamada de Rainha do Sertão.
Da união dos dois, nasceu Expedita Ferreira, filha única do lendário casal.
Logo que nasceu, foi entregue pelo pai a um casal que já tinha onze filhos.
Durante os cinco anos e nove meses que viveu até a morte dos pais, só foi
visitada por Lampião e Maria Bonita três vezes. "Eu tinha muito medo
das roupas e das armas", conta. "Mas meu pai era carinhoso e sempre
me colocava sentada no colo pra conversar comigo", lembra dona Expedita,
hoje com 75 anos e vivendo em Aracaju, capital de Sergipe, Estado onde seus
pais foram mortos.
Na madrugada de 28 de julho de 1938, o sol ainda não tinha nascido quando
os estampidos ecoaram na Grota do Angico, na margem sergipana do Rio São Francisco.
Depois de uma longa noite de tocaia, 48 soldados da polícia de Alagoas avançaram
contra um bando de 35 cangaceiros. Apanhados de surpresa - muitos ainda dormiam
-, os bandidos não tiveram chance. Combateram por apenas 15 minutos. Entre
os onze mortos, o mais temido personagem que já cruzou os sertões do Nordeste:
Virgulino Ferreira da Silva, mais conhecido como Lampião.
Em 1922, Lampião assume a liderança do bando de cangaceiros chefiado, até então, pelo cangaceiro Sinhó Pereira
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