Economistas da USP e da FGV avaliam positivamente medidas do governo Temer
O
professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de
São Paulo (USP), Paulo Roberto Feldmann, avaliou como positivas as
medidas econômicas anunciadas hoje (24) pelo governo federal. No
entanto, Feldmann ressaltou que o grupo de mudanças está incompleto, sem
medidas para a geração de emprego e aumento da arrecadação.
“É um
pacote bom, do ponto de vista das medidas para gastos, e para corte de
gastos; dá um disciplinamento muito bom ao mercado. Faz com que o BNDES
[Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] devolva o
dinheiro que ele tinha do Tesouro. São coisas boas, importantes, mas
faltou o mais importante”, disse.
“Precisamos gerar emprego, e
como isso vai ser feito? Precisamos aumentar a arrecadação, como que
isso vai ser feito? Está faltando isso. Isso era a prioridade básica do
país, que não foi contemplada”, acrescentou.
Entre as medidas
anunciadas pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, está a criação
de um teto para a dívida pública e a devolução de R$ 100 bilhões de
ativos do BNDES ao Tesouro Nacional.
Devolução
Serão
devolvidos, inicialmente, R$ 40 bilhões e, depois, mais duas parcelas
de R$ 30 bilhões. De acordo com o ministro da Fazenda, o BNDES tem caixa
suficiente para fazer as devoluções e cumprir a programação de
concessão de financiamentos dos próximos dois anos.
Segundo Paulo
Roberto Feldmann, as medidas denotam que houve mudança na política
econômica do governo federal em relação a gestão da presidenta Dilma
Rousseff. “Se há um ponto onde a presidente Dilma errou, foi não tratar
de uma forma devida, adequada, o gasto público. E o governo se perdeu
nisso. O governo Dilma, se perdeu nessa questão fiscal”.
“Arrecadação
caiu muito, e aí os gastos ficaram muito maiores. Então, esse foi o
problema central. Por isso que eu estou curioso para saber como é que
vamos resolver a questão da arrecadação, de onde que vai sair o
dinheiro, e isso não está claro. Esse pacote não contempla”, ressaltou.
Fundação Getúlio Vargas
A
devolução de R$ 100 bilhões de ativos do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao Tesouro Nacional,
anunciada hoje (24) entre as medidas do governo para reduzir gastos
públicos e incentivar a economia, pode dar um fôlego de caixa para este
ano. A análise é do professor do programa de MBA da Fundação Getulio
Vargas (FGV) Mauro Rochlin.
Segundo o economista, a medida dará um
impacto nos subsídios de juros que o Tesouro é obrigado a bancar,
representando a diferença entre a dívida do governo e o que o BNDES
receberia pelos empréstimos. De acordo com o ministro da Fazenda,
Henrique Meirelles, este ano a devolução seria equivalente a R$ 40
bilhões. Em 2017, o valor atingiria R$ 30 bilhões e em 2018 outra
parcela igual.
“Se de fato esses R$ 40 bilhões forem integralmente
destinados à redução da dívida pública, acho que é uma medida positiva,
porque também indica uma redução de gastos que vai ajudar na conta de
juros. Acho que tem impacto sim, mas ainda acho que medidas mais
relevantes são fundamentais”, acrescentou.
Previdência
Para
o professor, entre as medidas fundamentais a principal é a reforma da
Previdência, que depende do Poder Legislativo. Mauro Rochlin informou
que o problema da Previdência é que ela aponta para um crescimento de
despesas de formas exponencial e estrutural. “Não se trata apenas de
resolver uma questão conjuntural, com déficit localizado. Se trata de
desarmar uma bomba demográfica, que é a mudança na pirâmide etária da
população. Tem cada vez mais uma parcela maior de idosos dentro da
composição e cada vez mais uma parcela de jovens nesta composição”,
afirmou.
“Talvez isso seja o mais difícil, porque encontra
resistências nas esferas política e sindical e talvez até mesmo em um
conjunto da população. Talvez as pessoas não estejam suficientemente
conscientes de que se trata de fato de um problema de solvência das
contas do estado. As pessoas ainda têm a ideia de que o governo tudo
pode”, acrescentou.
Para o economista, o conjunto de medidas mais
do que definir procedimentos visou impactar expectativas. Conforme Mauro
Rochli, limitar aumentos de gastos do setor público pela inflação é uma
intenção. “É só uma vontade política, mas ainda não é uma discriminação
de que medidas efetivamente vão ser adotadas.”
O professor
esclareceu que ainda é cedo para dizer se as medidas representarão
efeitos mais significativos na economia. Ele informou que o uso do Fundo
Soberano se limita a valores relativamente baixos. “Falou-se em R$ 2
bilhões. Alguma coisa que, se for limitada a esses valores, não tem
impacto mais significativo”, concluiu.
EBC Brasil
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