Debandada de partidos amplia o isolamento de Dilma, diz especialistas

A tendência é que haja impacto também sobre votos no PMDB, que até
terça-feira contabilizava 26 indecisos entre os 66 deputados da bancada.
Mesmo os peemedebistas mais alinhados ao governo passaram a admitir
que, com a decisão do PP, parte desses votos deve se transformar, nos
próximos dias, em apoio ao impeachment. Nas contas de um peemedebista
desta ala, os votos pró-impeachment podem chegar a 60.
No Palácio do Planalto, a notícia do desembarque do PP e do PRB
provocou desânimo. A ordem é continuar investindo no corpo a corpo com
os deputados para conseguir votos individuais e evitar que a oposição
alcance os 342 necessários para aprovar o processo. Segundo um
integrante do governo, no entanto, a presidente ainda conta com votos de
um núcleo duro em alguns partidos aliados. Essa conta é feita com base
num cruzamento do mapa de votações, fluxo de demandas atendidas e uma
análise de comportamento de cada parlamentar.
Na contabilidade do Planalto, segundo um assessor, Dilma teria, após
os anúncios do PP e do PRB, cerca de 185 votos, uma vantagem de apenas
13 apoios. Há poucos dias, o governo dizia ter entre 200 e 215 apoios.
No levantamento feito pelo GLOBO, o governo tem 110 votos declarados.
Outros 304 são favoráveis ao impeachment, e 99 permanecem indecisos ou
não opinaram (veja a enquete nas páginas 10 e 11).
Coube ao presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PP-PI), anunciar
que o partido deixará o governo formalmente, entregando imediatamente o
Ministério da Integração Nacional, comandado por Gilberto Occhi, e a
presidência da Companhia de Desenvolvimentos dos Vales do São Francisco e
do Parnaíba (Codevasf).
Nogueira trabalhou para que o partido permanecesse na base aliada e
chegou a anunciar, semana passada, que o PP estaria ao lado do governo.
Mas, diante da reunião da bancada do partido na Câmara, em que a maioria
se manifestou a favor do impeachment, o senador se viu sem alternativa e
formalizou o desembarque. A maioria ampla dos presentes à reunião
defendeu a saída de Dilma.
— Eu defendia até o momento de hoje a permanência na base da
presidente. Mas não me cabe alternativa, como seu presidente, a não ser
acatar a decisão. Então, hoje, o partido solicita aos seus quadros que
pertencem ao governo da presidente Dilma a carta de renúncia — afirmou
Ciro Nogueira.
O senador disse que agora buscará a unidade da bancada em apoio ao impeachment, mas que não haverá sanções a quem votar contra:
— Eu não vejo como, se o partido está tomando hoje a decisão de
romper com a presidente, nós permanecermos com cargos. A decisão da
bancada é que haja a entrega dos cargos, o desembarque do governo. Mas o
partido não vai perseguir ou penalizar qualquer pessoa que, por
ventura, divirja — pontuou.
Reservadamente, integrantes da bancada afirmam que devem restar no PP
apenas quatro votos contra o afastamento. Tanto o líder do partido,
Aguinaldo Ribeiro (PB), que é ex-ministro de Dilma, quanto Ricardo
Barros (PR), vice-líder do governo, sinalizaram na terça-feira que
votarão a favor do impeachment. Há relatos de que, em conversas com a
cúpula peemedebista, teria sido oferecido ao PP ter o Ministério das
Cidades e uma segunda pasta num eventual governo Temer.
O PR teve um dia de divisões. Pela manhã, houve um anúncio da
indicação do deputado Aelton Freitas (MG) para a liderança do partido,
reafirmando a posição da legenda contra o impeachment, mas ressaltando
que não há necessidade de fechamento de questão para a votação. No final
do dia, interlocutores do ex-deputado Valdemar Costa Neto, que cumpre
prisão domiciliar pela condenação no mensalão e tem atuado em defesa de
Dilma, afirmaram que a tendência era que a bancada fosse liberada para
votar conforme cada um quisesse.
O partido ocupa o Ministério dos Transportes com Antonio Carlos
Rodrigues e está sendo cortejado pelo PMDB para ter um “superministério”
caso embarque no impeachment. A bancada contabiliza, pelo menos, 28
votos a favor do impeachment. No dia anterior, o então líder Maurício
Quintella (AL) renunciou ao cargo e anunciou que votará contra o
governo. O movimento do deputado contrariou a Executiva do PR, que
defende o apoio à presidente, e agitou outros parlamentares a se
rebelarem contra a orientação partidária.
A nota do PR foi distribuída pela assessoria em meio à reunião
convocada por Quintella para “dar conforto” aos seus ex-liderados que
“queriam votar conforme suas consciências”.
— Vim agradecer à bancada, explicar minha posição e dar o máximo de
conforto, e dizer para ir em frente e votar de acordo com o que manda a
consciência. Neste momento histórico, não tem que pesar a decisão
partidária. Acredito que, na bancada, a maioria é a favor do
impeachment, e vou trabalhar para que ela seja respeitada, para que não
se feche questão. Eu já avisei à direção que uma ordem de cima para
baixo racharia o partido — disse Quintella.
No fim da tarde, o PRB, que também integrava a base de Dilma até
meses atrás, inclusive com o comando do Ministério do Esporte, fechou
questão a favor do impeachment. Segundo o presidente do partido, Marcos
Pereira, todos os 22 deputados da legenda votarão pelo afastamento de
Dilma:
— A bancada decidiu por unanimidade apoiar o impeachment. Nós
fechamos questão. A decisão é devido à análise do processo, da defesa,
das provas. Nós entendemos que o processo tem viabilidade jurídica;
política, nem se fala.
A bancada do PSD se reúne nesta quarta-feira. O líder Rogério Rosso
(DF) afirmou que é uma reunião para a análise do ambiente político.
Segundo ele, o partido liberou os votos dos deputados.
Assim como os demais partidos da base, no entanto, cresce no PSD o
número de deputados favoráveis ao impeachment. A bancada hoje tem 36
deputados. Cálculos iniciais mostravam que haveria pelo menos 12
dispostos a votar como governo Dilma, mas muitos já reduziam o apoio a
oito deputados. Temer recebeu grupos de deputados, levados por
parlamentares do PSD, na Vice-Presidência para conversas.
O Globo
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