Foto: Omar Sanadiki/ Reuters
‘Estamos
sofrendo muito”. A frase é de autoria de um jovem atacante de 21 anos,
nascido na cidade síria de Aleppo. O local é palco de uma guerra civil
desde 2011, quando o conflito entre forças pró-governo de Bashar
al-Assad e rebeldes se intensificou na região.
– É difícil.
Treinamos em uma área controlada pelo governo sírio, mas estamos
sofrendo muito. Minha família está fora do país, eu moro sozinho nas
dependências do clube de Aleppo – contou Tarek Hindawi, em entrevista ao
LANCE!
Tarek é formado nas categorias de base do Al-Ittihad
Aleppo. O time de futebol, aliás, é um dos mais populares do país ao
lado do Al-Karamah, na cidade de Homs, que fica aproximadamente a 300 km
de Aleppo. O clube, também conhecido como Castelo Vermelho, disputa a
primeira divisão síria, o que parece ser inimaginável para quem
compartilha do terror da guerra.
– Jogamos futebol porque queremos
dar alegria ao povo sírio. É um momento difícil, mas o futebol se
mostrou a única maneira de quebrar tantos muros que se construíram por
causa da guerra.
Os
muros mencionados por Tarek não são apenas físicos. No conflito da
Síria, que se estende para chegar ao sexto ano consecutivo, diversos
grupos de interesses distintos também travam batalhas ideológicas. No
local, além do conflito entre rebeldes e governo, ainda disputam o poder
grupos jihadistas como o Estado Islâmico e Jabhat Fateh al-Sham, antes
conhecido como Frente Nusra e que era o braço da Al Qaeda na Síria.
Apesar
de um cessar fogo firmado entre Rússia e Turquia, que apoiam lados
opostos dos principais envolvidos na guerra, nesta semana, a dor pela
perda de tantas vidas jamais será esquecida. Segundo a ONU, a guerra na
cidade que já foi o principal centro financeiro da Síria, resultou na
morte de mais de 300 mil pessoas. Dentre elas, o irmão mais velho de
Tarek, executado por um grupo terrorista, conforme afirmou à reportagem.
Dentro
da área protegida em que treina o Al-Ittihad, o atacante já se
acostumou com o tremor de terra e com os barulhos provocados pelas
bombas. Algo que não deveria ser natural, mas que faz parte de sua
rotina. Os jogos do clube já não ocorrem na cidade de Aleppo e Tarek
precisa abandonar seus torcedores para poder cumprir seu papel como
jogador de futebol. Mesmo assim, é neste cenário que o atacante sonha
com um futuro diferente.
– Já recebi propostas de outros clubes,
mas por conta do regime (que dificulta ou até mesmo impede a saída de
civis do país) não pude aceitar. Agora, penso nas qualificatórias para a
Copa do Mundo de 2018. Tenho a ambição de ir para a competição na
Rússia. É uma forma de passar felicidade ao povo sírio – declarou.
Apesar
das circunstâncias, o futebol segue no país do Oriente Médio. O clube
de Tarek Hindawi terminou em terceiro lugar na última temporada no
Campeonato Sírio e é um dos favoritos nesta edição da competição.
Atualmente, após a segunda rodada, a equipe está na quarta colocação,
com quatro pontos somados. Sem dúvida, o time do Castelo Vermelho é
última fortaleza viva de Aleppo.
SONHOS E GRATIDÃO
Durante
toda a entrevista, Tarek fez questão de agradecer o interesse pelo seu
país. Ressaltou por diversas vezes que a situação é complicada, mas que o
povo sírio é muito esperançoso. A mensagem de gratidão é também um
grito que busca ecoar para além de Aleppo. Se lá dia e noite se
confundem pelas fumaças geradas por inúmeras bombas que deixam escombros
por todos os lados, fora da Síria não há cortinas que encobrem a
destruição do país.
– Eu agradeço imensamente o interesse.
Gostaria de continuar falando da Síria e do povo sírio. É importante!
Gostaria que todos pudéssemos voltar a seis anos atrás (antes da
guerra), quando nossa nação vivia com segurança. Nós, jogadores, não
vamos desistir de alcançar nossos sonhos: acabar com as barreiras e
também o de conseguir a classificação para a Copa do Mundo na Rússia.
Tarek
Hindawi é um dos símbolos de sua geração. Nascido em dezembro de 1995,
na cidade de Aleppo, na Síria, o jovem atacante convive com a guerra
civil que afeta o país desde março de 2011. Ele também foi o capitão da
seleção síria na categoria sub-20, no ano passado.
ASTROS PUXAM FILA PARA A SOLIDARIEDADE À SÍRIA
Astro
do Real Madrid, Cristiano Ronaldo também se solidarizou com as vítimas
da guerra na Síria. Em uma rede social, o português deixou uma mensagem
de natal aos fãs e lembrou-se do conflito no país do Oriente Médio.
–
Vocês têm sofrido bastante. Eu sou um jogador famoso, mas vocês são os
verdadeiros heróis. Não percam a esperança. O mundo está com vocês. A
gente se preocupa com vocês. Eu estou com vocês – disse Ronaldo, que é
embaixador da instituição social ‘Save the Children’.
O lateral da
Juventus, Patrice Evra, também lembrou das crianças afetadas pela
guerra. Pelo Instagram, o francês chegou a oferecer ajuda.
– Ao
invés de desejar a todos um feliz natal, eu espero que vocês tenham
todos da Síria em seus corações e incentivo que seus presentes de natal
possam ajudar outras pessoas. Nós somos iguais e nesse mundo nós temos o
dever de ajudar uns aos outros. Juntos podemos fazer do mundo um lugar
melhor – escreveu, complementando em mensagem de vídeo:
– Nós
precisamos ajudar essas crianças. Se pessoas realmente sérias na Síria
querem ajudar essas família, eles podem me contatar pelo Instagram.
De
acordo com levantamentos da Unicef, mais de 5,5 milhões de crianças
foram afetadas pela guerra civil na Síria, incluindo as que morreram, as
órfãs e as que vivem em campos de refugiados ao redor do mundo.
Uol