Principal responsável por vazamentos da Lava-Jato é quem financia o ‘japonês bonzinho’ – Kiko Nogueira
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A questão não é o japonês, mas quem está por trás dele
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O vazamento da delação de Nestor Cerveró foi motivo de consternação
no STF. Um dos suspeitos é o agente da Polícia Federal Newton Hidenori
Ishii, alvo de um inquérito para apurar o caso.
Seu depoimento estava marcado para sexta (27), mas foi desmarcado e
nenhuma outra data foi aprazada. Antes de qualquer coisa, a
superintendência da PF em Curitiba já afirmou que “tem confiança” em seu
trabalho e que “a apuração será rápida”.
Ué. O problema, evidentemente, não é a rapidez, mas a necessidade de
investigar de maneira correta a história. Começou mal e vai terminar em
nada.
Newton Ishii, como toda a equipe de Moro, gosta de aparecer. Está
sempre bem posicionado quando as câmeras registram os presos da Lava
Jato entrando nos carros, eventualmente com uma mãozinha carinhosa no
ombro do cidadão.
A conversa de Delcídio do Amaral com seu chefe de gabinete, o advogado de Cerveró e o filho deste cita seu nome.
DELCÍDIO: Alguém pegou isso aí e deve ter reproduzido. Agora quem fez isso é que a gente não sabe.
EDSON: É o japonês. Se for alguém é o japonês.
DIOGO: É o japonês bonzinho.
DELCÍDIO: O japonês bonzinho?
EDSON: É. Ele vende as informações para as revistas.
BERNARDO: É, é.
DELCÍDIO: É. Aquele cara é o cara da carceragem, ele que controla a carceragem.
BERNARDO: Sim, sim.
(…)
EDSON: Só quem pode tá passando isso, Sérgio Riera.
BERNARDO: Mas eu já cortei…
EDSON: Newton e Youssef.
DELCÍDIO: Quem que é Newton?
BERNARDO: É o japonês.
EDSON: E o Youssef, só os dois. O Sérgio, porque o Sérgio traiu…
BERNARDO: Sim. Ele fez o jogo do MP, assinou. Tá… tá
(…)
EDSON: Quem é que poderia levar isso pro André?
BERNARDO: Eu acho que é carcereiro. O cara dá 50 mil aí pra você.
EDSON: A gente num entende, pô!
BERNARDO: Carcereiro Newton… os caras são muito legais.
Em circunstâncias normais, Newton deveria ser afastado. Mas não estamos em circunstâncias normais.
Ele é ficha suja. Membro da corporação desde 1976, foi preso em
flagrante em 2003 e reintegrado através de uma decisão judicial. A
Operação Sucuri desbaratou uma quadrilha envolvida na facilitação de
contrabando em Foz do Iguaçu.
Ishii se aposentou em outubro de 2003, mas, em abril de 2014, a
aposentadoria foi revogada e ele retornou à atividade. De acordo com o
blog Expresso, da Época, responde a processos criminal e civil, além de
uma sindicância. “Ishii goza de confiança da direção”, diz a nota.
Ora, confiança de quem?
Então temos um policial federal acusado de corrupção, respondendo a
processo — e que, por uma razão misteriosa, permanece onde está porque
é, talvez, acima do bem e do mal?
Como reza aquela velha parábola, jabuti não sobe em árvore. Se está
ali, alguém colocou. Com um currículo desses, retornando por ordem
judicial, o lugar Newton Ishii seria uma atividade marginal.
Quem o pôs ali na frente? Quem está bancando o “japonês”?
Essa é a pergunta que precisa ser respondida. Esse é o autor dos
vazamentos. Alguém cujo nome, aliás, não será revelado porque, como
Ishii, também goza de confiança da direção.
Diário do Centro do Mundo