Valentia do PMDB (Cunha e Renan) torna a oposição (Aécio) coadjuvante
Ou o PSDB e seus satélites têm uma estratégia capaz de superar o
antagonismo de resultados do PMDB ou a oposição condenou-se ao papel de
coadjuvante num enredo estrelado pelos investigados Renan Calheiros e
Eduardo Cunha. Hoje, a dupla comanda a tática de fazer Dilma Rousseff
“sangrar” pelo tempo que for conveniente.
No momento, se a presidente da República fosse intimada a optar entre os
peemedebistas que presidem as duas Casas do Congresso e o líder da
oposição brasileira, daria uma resposta fulminante: “Vida longa a Aécio
Neves!” E, com isso, ficaria claro que, para Dilma, o aliado da onça é a
grande preocupação. O resto virou paisagem.
Aécio até que se esforça. Há dois dias, discursando em Lima, no Peru,
chamou de “rudimentar” o pacote fiscal do governo. Mas, como Dilma
tomou-lhe de assalto parte da agenda, o rival tucano por vezes parece
rodopiar na entrada da grande área como um zagueiro hesitante, que entra
de sola pedindo desculpas:
“Joaquim Levy certamente é um homem que comunga de algumas das nossas
ideias”, disse Aécio na capital peruana. “É um técnico extremamente
competente, mas está longe de ter a autonomia necessária para fazer a
reforma estruturante que o Brasil precisa.” Simultaneamente, Renan e
Cunha, cavalgando a aprovação mixuruca de Dilma —na casa dos 13%,
segundo o Datafolha— devam de ombros para a pregação da presidente
segundo a qual não há dinheiro em caixa para tirar do papel a lei que
renegociou em bases generosas as dívidas de Estados e municípios com a
União.
Escorados na ira de governadores e prefeitos endividados, Cunha
aprovaria na Câmara, horas depois do chororô de Dilma, um projeto cujo
único propósito é o de obrigar o governo a efetivar em 30 dias a
renegociação das dívidas estaduais e municipais. A encrenca foi enviada
para o Senado. Seria aprovado, também ali, na velocidade de um raio.
Porém…
Atendendo às súplicas de um Levy autoconvertido em articulador político
de um governo desarticulado, Renan, o magnânimo, adiou para terça-feira a
nova humilhação que o PMDB pretende fazer Dilma passar. “De onde eu vou
tirar R$ 3 bilhões”, indagou o ministro da Fazenda ao presidente da
Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, o petista Delcídio Amaral. A
cifra refere-se ao custo anual para o Tesouro do refresco que será
servido aos governos estaduais e municipais.
Renan e Cunha levam sobre Aécio uma vantagem inestimável. Eles são os
donos da pauta dos plenários do Senado e da Câmara. Calibram os temas a
serem votados segundo os seus interesses tóxicos. O oposicionismo de
ambos cresce na proporção direta do avanço das investigações do
petrolão.
Assim, enquanto as manchetes estiverem monopolizadas pela hemorragia
presidencial, a agenda do país vai sendo administrada por um par de
anti-mocinhos. Ao perceber que Cunha roubava-lhe centímetros de
noticiário, Renan converteu-se num oposicionista de fazer inveja a
Luciana Genro, do PSOL.
Juntos, Renan e Cunha capricham na coreografia. Admita-se que falam
sério quando defendem, por exemplo, a lipoaspiração da Esplanada,
emagrecendo-a de 39 pastas para apenas 20. De saída, o PMDB poderia
devolver os seis ministérios que ocupa. Alguns deles, por cenográficos,
ficariam de bom tamanho se fossem convertidos em secretarias de outras
pastas: o da Aviação e o dos Portos no organograma dos Transportes. O da
Pesca na Agricultura. O do Turismo como apêndice da Integração Nacional
ou do Desenvolvimento Econômico…
Suprema ironia: cada vez que Renan morde Dilma como cachorro louco há
vergonha e remorso na alma de ilustres ocupantes de gabinetes do Palácio
do Planalto, que precisam explicar por que pegaram em lanças para
reelegê-lo presidente do Senado em fevereiro. Não foi por falta de
informação. O petrolão já havia sido empurrado para o colo de Renan.
Tampouco foi por falta de alternativa. O senador catarinense Luiz Henrique, também do majoritário PMDB, ofereceu-se como opção viável. O triunfo de Renan teve muitos cúmplices voluntários ou disfarçados. Os votos decisivos à sua eleição vieram do petismo e adjacências. Com as bênçãos de Dilma e de Lula.
Tampouco foi por falta de alternativa. O senador catarinense Luiz Henrique, também do majoritário PMDB, ofereceu-se como opção viável. O triunfo de Renan teve muitos cúmplices voluntários ou disfarçados. Os votos decisivos à sua eleição vieram do petismo e adjacências. Com as bênçãos de Dilma e de Lula.
Josias de Souza
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